Capítulo 23

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Matteo Greco

“A paixão aumenta em função dos
obstáculos que se lhe opõem.”

— William Shakespeare

Três dias haviam se passado e eu estava apenas absorto em toda aquela situação.

A mulher que eu amo havia voltado para nossas vidas, tudo parecia perfeito demais para ser verdade, com certeza havia algo que não batia ali, e eu não queria estar certo quanto a isso, mas infelizmente eu estava.

Nem tudo era tão perfeito como eu imaginei e aparentava ser. 

Ela havia voltado, mas não se lembrava de ninguém.

Tudo o que ela sabia era o que lhe fora dito. O médico da família esteve aqui para averiguar toda a situação e dar a sua opinião profissional, mas nada poderia ser dito com precisão por ele, pois ele não é um neurologista.

Então, para que eu começasse a caminhar rumo ao retorno mental de Helena, seria necessária uma visita ao neuro e um tratamento específico. E isso era uma completa merda, pois ela não estava nem um pouco afim de colaborar quanto a isso.

Tudo o que ela queria era comprovar que não era Helena e partir para bem longe, ela não queria tratamento, não queria ajuda, não queria nada.

E cá estava eu, acordando as crianças para que pudéssemos tomar café juntos e “conseguir” convencê-la na base da chantagem emocional. Talvez as crianças tirassem algo dela que eu não consigo. Não dizem por aí que crianças tiram coisas da gente sem que nem ao menos percebamos. Pois eu utilizaria disso. 

Instintivamente como em todas as manhãs das nossas vidas depois que as crianças nasceram e foram crescendo e entendendo as coisas, Antonella estica as mãozinhas pegando o porta retrato com uma foto de Helena na mesinha, fazendo sozinha o que antes eu os ajudava a fazer, dá um beijo logo entregando para Ettore fazer o mesmo.

— Bom dia, mamma. - eles dizem, com aquela vozinha infantil tão fofa de quem está aprendendo a falar, olhando a fotografia.

Me agacho diante deles dois que estão sentados na cama com as perninhas no ar para fora do colchão já vestidos e prontos para descerem, e digo:

— Agora vocês não precisam mais fazer isso, pois a mamãe já está aqui. Antes, ela estava longe… e não havia como dar muitos beijinhos de bom dia nela, agora com ela aqui vocês podem abraçá-la e beijar muito. O que vocês acham? Querem tomar café com a mamãe? 

— Simmm. - gritam animados e descem da cama correndo para a porta.

— Vamos por aqui. - tomo as mãozinhas gorduchas e os levo em direção ao meu quarto, o qual Helena está ocupando sozinha, pois não permite que eu chegue perto em momento algum dela, mas hoje seria diferente.

Iríamos à clínica, e eu faria um acordo, só assim ela conseguiria o que tanto quer: o exame de DNA.

Eu não precisava dele, eu sabia muito bem que era ela, mas ela insistia nisso.

Destranco e abro a porta vendo as crianças se colocarem a correr para dentro e escalar a enorme cama até alcançarem uma Helena apagada de sono sobre a cama. Eles pulam sobre ela e ela se assusta, mas logo que percebe de quem se trata ela os abraça e os joga na cama, brincando com eles. Eu permaneço na porta, em segundo plano, para que a felicidade que a acomete não se acabe rapidamente. 

Quando eles se cansam de bagunçar e as crianças chamam por mim, ela olha para trás com uma expressão mortificada.

— Não sabia que estava aí. Pensei que eles tivessem entrado aqui como da última vez. - dou de ombros não me importando com isso.

O Recomeço - Livro III        |COMPLETO|Where stories live. Discover now