Acidentalmente Ela ⚤ Jikook

22 ⚤ Ela o ama.

Você é um bom observador, já me dei conta disso. Eu também sou, pena que no dia eu estava bravo demais para notar você – tudo culpa do Yoongi, aquele neandertal (risos). Mas você me observou, você me notou, e você veio até mim.

E você continuou vindo até mim, mesmo quando eu disse que eu era problema e implorei para que me esquecesse e me deixasse em paz, porque eu sabia que se eu notasse você também, eu não seria mais capaz de te manter longe.

Mas você não se foi.

Então eu te notei.

E eu me apaixonei. Perdidamente.

Foi avassalador, ardente, intenso e doloroso. Porque você se apaixonou também, e quando nosso problema só pareceu ter encontrado o caminho para se resolver, nós nunca estivemos mais perto do caos.

Porque você se apaixonou por alguém que não existe, por uma mentira, um personagem que eu inventei. Só que eu fui um homem fraco demais para manter suas mãos longe de mim, quando o que eu mais quero é você. E você, infelizmente, pensa que eu sou uma mulher.

E essa mulher nunca existiu.

[...]"

Os vestígios do calor dos toques de Jungkook ainda formigam na minha pele quando eu entro no meu dormitório.

São quatro e meia da madrugada de sábado, e o quarto está vazio. Mal troquei mensagens com Jisoo no dia anterior, focado demais em Jungkook e em gastar as horas do meu dia ao lado dele, mas encontrei tempo para avisar que estava tudo bem e que não era preciso esperar por nós, porque não voltaríamos para a casa de Yoongi.

Jungkook não quer nem ver a cara dos dois amigos, mas eu acredito que ele só precise de tempo para colocar a cabeça no lugar. As coisas entre eles vão se resolver, eu espero.

Jisoo também me informou que não estava voltando para a faculdade porque tinha um jantar com o pai que mora em outra cidade. Ele sai de Gunpo para Seoul ao menos uma vez no mês para ver a filha. Assim, não foi uma surpresa encontrar os lençóis arrumados em sua cama e o quarto tomado pela solidão.

Ainda está escuro, mas os raios de sol já começam a dar alguns sinais de vida atrás das montanhas que cercam o isolado campus da SNU.

Jungkook não me ouviu sair. Seu sono é leve, mas o cansaço do longo dia deve tê-lo vencido como em um ringue de luta de três contra um. Aquela manhã foi pesada até para mim, então não posso nem imaginar como se sentiu para ele.

Eu não devia estar acordado também, mas, isso, se eu tivesse chegado a pregar meus olhos em algum momento da noite.

As informações giravam desgovernadamente na minha mente como um turbilhão de destroços no meio de um tornado. Muitas lembranças para assimilar, muitos acontecimentos para processar, e eu me sentia enjoado. Um caos estava dançando na minha mente e dormir era a última coisa que eu conseguiria fazer.

Eu suspiro e dou alguns passos até o centro do quarto, entre a cama de Jisoo e a minha.

Sua almofada roxa de pelinhos está intocada sobre a colcha, e um fraco sorriso toma o meu rosto quando eu penso nas milhares de vezes em que Jisoo se agarrou a ela durante as conversas que jogamos fora até tarde do anoitecer, ou em quantas vezes eu penteei seus pelinhos ridículos e exagerados com os dedos como uma forma de descontar minha ansiedade.

Eu contava a Jisoo com um sorriso bobo e apaixonado qualquer coisa idiota que Jungkook fazia – como na vez que ele passou a noite assistindo "10 Coisas que Eu Odeio em Você", só porque eu disse que a insistência dele em me levar para sair na época em que nos conhecemos só não foi melhor do que a do Heath Ledger, porque nada supera cantar Can't Take My Eyes Off You com um microfone no estádio do colégio. Claro, isso antes de ele aparecer no dia seguinte com argumentos sólidos e convincentes de que ganhava de lavada "desse cara", e que Ledger nem é tão impressionante assim – palavras dele, não minhas.