Distrito Apocalipse, 2437 d.C
VERMELHA
A casa de Haagenti está em chamas, um fogaréu de labaredas pretas e azuis profundo. Focalor. Minha medula avisa que o duque infernal conseguiu achar nosso abrigo junto de suas legiões, pondero a decisão a ser tomada. Quero ter outra escolha, mas não consigo pensar em mais nada.
— Isaac – o Arcano diz, tremendo de pura ansiedade.
Ele quer ir salvar seu mentor. Eu quero salvar Haagenti e Maria.
— Pare – ponho-me na frente dele.
— Preciso salvar Isaac – ele desvia de mim.
Puxo a gola da jaqueta dele, fazendo com que seus passos cessem. Ele me encara brilhando de ódio e fúria.
— É tarde demais, eles são muitos. Seria um banho de sangue, – meu peito dói – do nosso sangue.
— Eu não me importo! Não ficarei parado aqui sem fazer nada! – Ele grita.
Ártico se solta da minha pegada, coloco-me de novo no bloqueio de sua passagem e recebo um empurrão nos ombros. Ele é forte, mas não o suficiente para me abater.
— Deixe-me passar! – Ele puxa a pistola escondida de dentro da jaqueta.
Não posso deixá-lo ir, embora eu mesma queira partir em socorro de Haagenti e Maria. Sacrifícios por serem necessários, não se tornam menos dolorosos.
— Não posso – tenho que controlar meu próprio estado emocional.
Ártico aponta a pistola para mim, mirando entre meus olhos. Sei que aguento o disparo, porém o barulho poderia alertar nossa localização.
Krevos ainda está catatônico com a visão do incêndio, molhando as sardas com lágrimas delgadas. Olho para ele pedindo ajuda, sei que o menino confia em mim, mesmo com ressalvas.
— Não podemos ir, Art. Eles são muitos, – o loiro toca o ombro do amigo – morreríamos todos.
— É o Isaac, Krevos! O Isaac! – a voz do Arcano sai embargada.
— Eu sei .– Krevos o enlaça num abraço fraterno.
— Preciso ajudá-lo, – ele deixa as lágrimas cair – como ele me ajudou durante todo esse tempo.
— Você sabe o que Isaac gostaria que fizesse – o menino loiro profere.
Os dois ficam abraçados, juntos em seu próprio luto. Eu os guio até uma viela onde ficamos ocultos, sou capaz de controlar minha aura infernal e o Arcano tem o arrebique, Krevos é completamente despercebido por ser apenas um humano. Devemos ficar escondidos até o amanhecer, quando a legião de Focalor perde a força.
As últimas palavras de Haagenti ecoam em minha cabeça, assim como o sorriso gentil de Maria. Meu egoísmo me fez colocar as duas em riscos, porém não é o bastante para conter minha culpa.
Odeio-me um pouco mais por resistir tão bem à vontade de ir até a casa de Haagenti, odeio-me por estar sozinha em meu luto. E principalmente, odeio-me por sentir tanto sendo um demônio.
ŞİMDİ OKUDUĞUN
Infernal
KorkuO Apocalipse chegou. A mulher vestida do sol apareceu no céu, junto de um dragão e ao som das sete trombetas que trouxeram pragas, dizimando um terço da população. Os portões do inferno foram abertos, deixando passar legiões de demônios, que agora a...