6 • ISAÍAS 49:15

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Zona Maldita, 2437 d.C.

VERMELHA

Eu posso ouvir o coração acelerado do Arcano, além da náusea crescente dentro dele. Ele não pode me culpar por isso, disse que seria melhor ficar na sala. Não sou responsável pela fraqueza dele, embora eu também tenha certa repulsa às sessões de torturas, já me habituei com elas. São um mal necessário e útil.

— Focalor – repito o nome para mim, depois de executar o demônio de baixa hierarquia.

O corpo do demônio morto vai desaparecendo aos poucos, virando um punhado de cinzas. A alma dele deve ter retornado ao Inferno, onde levará alguns anos para se recuperar da morte física e assim retornar ao plano mundano.

Esse é um dos maiores desafios da cúria, matar os demônios é uma ação de efeito temporário. Exorcismos conseguem aniquilar a essência demoníaca de entidades de baixa hierarquia, entretanto, a logística para realizar cada ritual é extensa e ainda restariam aqueles que fazem parte da realeza infernal, praticamente invencíveis. O único jeito de purificar a Terra é fechando os portões infernais, o que evacuaria todos os demônios de volta para o submundo, tornado possível apenas a passagem da influência diabólica pelas frestas.

As coisas eram assim na era passada, os demônios só podiam sussurrar instigações pecaminosas através das rachaduras dos portões, incitando os humanos a usarem o livre arbítrio para a fornicação. Às vezes, a nobreza luciferiana conseguia frequentar o plano mundano por curtos períodos, quando invocados por magistas. Lúcifer, porém, esporadicamente se materializava entre os humanos, aproveitando-se dos momentos de iniquidade descontrolada. 

Eu só tenho conhecimento dessas coisas por intermédio de Metatron, não me lembro de nada anterior à minha saída do Inferno, as memórias mais antigas que possuo são dentro da Igreja. 

— Nós precisamos partir – enrolo minhas armas na lona, após concluir o processo.

O rapaz ainda parece processar o que acabou de acontecer, porém se Focalor está no nosso encalço não há tempo para ponderações.

— Focalor, o duque do inferno. Demônio da guerra – aparentemente, o garoto loiro estava certo ao dizer que o Arcano lia sobre demônios.

— Isso, agora se arrume para partir.

Eu limpo meu rosto onde o sangue do demônio me sujou, não há tempo para uma limpeza mais criteriosa. Focalor tem trinta legiões de espíritos, eu posso enfrentar alguns, mas não sou invencível. Sigo o Arcano para fora do quarto, encontro o garoto loiro cochilando e o padre excomungado ainda de prontidão.

O Arcano acorda o amigo, o qual desperta assustado. O menino caiu no sono segurando uma de suas invenções sobre o peito, fico comovida com a fragilidade.

— Vamos para o Distrito Apocalipse – digo de forma clara. É minha única opção, mais um desvio da rota planejada.

O Distrito Apocalipse é um dos mais próximos de onde estamos, também é um dos maiores. Desse modo, será mais difícil para Focalor e seus servos nos rastrearem no meio de tantos os outros espectros. Eu já enfrentei outros demônios da realeza demoníaca, e ainda que tenha saído viva dos confrontos, os ferimentos quase me levaram a morte.

— Você já enfrentou outros demônios da realeza infernal? – Isaac me questiona.

Já estamos dentro do carro, faróis apagados e pegando as rotas mais discretas que consigo encontrar. Meus sentidos são acurados o suficiente para nos manter seguros sob a lua escarlate, pelo menos dos demônios de baixo escalão.

InfernalWhere stories live. Discover now