7 • TIAGO 1:14-15

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Distrito Apocalipse, 2437 d.C

ÁRTICO

Haagenti o demônio da sabedoria está à minha frente, usando uma forma feminina perdulária. Eu poderia puxar minha pistola e acertar três disparos certeiros, embora se as balas sagradas não serviram na demônio vermelha, tampouco teriam efeitos numa pertencente da realeza infernal.

A coisa de pele vermelha sobe para o primeiro andar, deixando-nos sozinhos com aquela que deveria ser a presidente do inferno. O demônio nos guia até uma sala onde bacias de água quente já nos esperavam, tomo um banho aliviado de tirar a sujeira de tantos dias.

— Vejamos o que posso fazer com vocês – ela fala, colocando o dedo indicador sobre o lábio carmesim assim que retornamos à sala principal.

— Não pretendo colaborar com nada disso – informo irredutível.

— E pretende fazer o que, então? – Ela se aproxima de mim, sinto sua respiração quente mergulhar minhas orelhas em vapor – Pretende acender sua luz para me queimar? Nós dois sabemos que não consegue fazer isso – o tom dela não é de deboche, mas de alerta.

Reteso o corpo, agoniado com a verdade nas palavras do demônio. Tento vigorosamente acender minha luz, porém tudo que consigo é fazer gotas de suor escorrerem pela nuca. Fracasso, como sempre.

 — O tempo está chegando, Arcano – a entidade sai do aposento.

Suspiro ruidosamente, Krevos ao meu lado não parece tão desconfortável com a presença demoníaca como ficara outrora.

— Isaac, diga que tem um plano para sairmos dessa – encaro meu mentor, a porta de saída fica na minha visão periférica.

Isaac se senta numa poltrona de estamparia suntuosa, como todo o resto da sala. Uma estante lotada de livros me chama, mas finco meus pés contra a curiosidade. Tento esquecer os minutos anteriores, tenho que me concentrar em uma coisa de cada vez.

— Poderíamos sair daqui agora mesmo, mas e depois? – Ele encosta a cabeça no espaço acolchoado.

— Eu não sei.

Minha mãe me vem à cabeça, seus doces olhos castanhos e a lâmina sagrada que ela habilmente sabia empunhar. Ela saberia o que fazer neste momento, mamãe sempre sabia tudo. Mamãe me diria para lutar e usar a luz, reconheço dolorosamente o fato.

— Chegamos a um beco sem saída, Ártico. Se fugirmos da Vermelha, teremos ela e Focalor nos perseguindo – declara neutro.

— Mas...

Não existe a possibilidade fazer uma sentença adversativa, não há mas. Se eu fugir, vou ser capturado em algum ponto, os Arcanos estão sendo caçados mais do que em qualquer outra época. Estou encurralado, todas as opções apresentam altas possibilidades de encontro com a morte.

— Ártico, – ele me interrompe – nós dois sabíamos que esse dia chegaria. Não podemos mais nos esconder, precisa aceitar sua luz – posso jurar que há certa tristeza em seus olhos gelados.

Não posso mais fugir. Precisa aceitar sua luz, a sentença ecoa na minha mente como uma oração inacabada, saindo da boca de Haagenti ela provoca, dos lábios de Isaac fere. Tenho medo, um pavor tão grande que é impossível de ser contido pela arrogância adquirida após as longas leituras. Como posso ser uma luz? Mamãe morreu antes me ensinar a usar o sangue Arcanal, Isaac diz que é um dom natural feito respirar... No fim, eu sigo perdido e vulnerável.

— Precisa ser forte como sua mãe, Ártico – Isaac se levanta de supetão e aperta meus ombros com força.

Ele nunca esteve tão próximo do meu rosto como agora, suas órbitas azuladas transmitem uma emoção que eu nunca vi antes. Isaac confia e acredita em mim, ainda que eu não queira seguir esse caminho.

InfernalWhere stories live. Discover now