➵ 34 | princípios

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Any Gabrielly

A diretora me explicou toda a situação enquanto Sofya estava sentada na cadeira ao meu lado, numa pose de superioridade. Se ela não estava nervosa, talvez eu estivesse. Que palavras eu usaria? Eu deveria colocá-la de castigo? Mas e se ela tivesse um bom motivo?

— Por que você fez isso? — perguntei olhando para Sofya.

— Agora que você está aqui, eu digo. Só você vai entender.

— Pode falar. — coloquei minha mão sobre a dela.

— Daphne disse que você era da ralé, além de ter zombado de mim por ser sua filha. Ela disse que você me sacrificaria para os seus deuses.

— Que ignorância. Eu não adoro deuses. — a diretora pigarreou e eu entendi que esse não era o ponto. — Ok, ela foi muito rude, mas isso não é motivo pra machucá-la.

— Mas foi gratificante. Não é isso que vale? — sorriu.

— Não. — neguei com a cabeça apesar de concordar que sim. — Tem uma coisa que o meu pai sempre me dizia. Se alguém bater no seu rosto, ofereça a outra face.

— E o que diabos isso quer dizer? — franziu a testa.

— Ah... — eu não sabia realmente. — Bem...

— Sua mãe está querendo dizer que as pessoas oferecem aquilo que elas são. Se você oferece coisas ruins, você se torna uma pessoa ruim. Você não quer ser vista assim, quer, Sofya?

— E eu tenho que ficar quieta enquanto ela me ataca? — Sofya começou a ficar vermelha.

— Não. — a diretora continuou. — O correto é procurar um professor ou mesmo a mim e contar o que houve.

— E quando vocês resolveram um único caso de bullying nesse colégio?

— Sofya. — a repreendi.

— É a verdade! — ela esbravejou. — Estão sempre abafando, não querem mostrar ao mundo que esse colégio tem problemas, que não conseguem controlar o mal comportamento de seus alunos e pouco se importam com a saúde mental deles.

— Meu Deus, isso é sério? — agora era a minha vez de me indignar. — Vocês pelo menos vão falar com a Daphne sobre o que ela fez com a Sofya?

— Violências precisam ser levadas mais a sério. — a diretora disse.

— E as violências verbais? — perguntei. — Quantos alunos nessa escola estão sofrendo bullying e recebendo zero apoio?

— Dezenas, mamãe.

Eu arfei e olhei na direção de Sofya, que também fez o mesmo. Ela sorriu de leve para mim e eu sorri de volta. Aquele "mamãe" saiu de forma tão natural e tão doce que eu tive vontade de chorar. Talvez ela tenha me chamado assim porque no momento estávamos indignadas com o mesmo problema e prestes a nos unir contra isso.

— Ok. Concordo quando a senhora diz que Sofya não deveria ter agido com violência. — continuei. — Não devemos combater o caos com mais caos. Isso só deixa o agressor ainda mais furioso. Daphne e qualquer outro aluno nessa escola que pratique bullying precisa ser educado e readaptado dentro de uma sociedade que é cercada de diversidade. Se eles não aprenderem a respeitar as pessoas agora, vão crescer como adultos intolerantes e preconceituosos. Você não quer construir pessoas assim dentro da sua instituição, quer?

Ela respirou fundo, bateu suas longas unhas na mesa e pareceu pensar por alguns instantes. Depois ergueu o olhar para Sofya de forma séria.

— Sofya, nos dê licença, por favor. — pediu.

Doce Amargo(Adaptação)Where stories live. Discover now