➵ 02 | senhorita namastê

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| Agora...

Any Gabrielly 

Antes de todas as minhas aulas, eu fazia uma meditação com os meus alunos. Eu dava muita ênfase na questão de controlar a respiração para poder controlar a voz quando cantar. Além de, claro, ensiná-los a importância de ser uma pessoa positiva e de bem com a natureza.

Os outros professores me achavam meio louca, por mais que não dissessem isso na minha cara, os cochichos deixavam transparecer o quão "fora da caixinha" eu era aos olhos de todos.

Depois de um passado conturbado, tudo o que me restava era ser alguém positiva, estar sempre de bem com a vida e buscar ver o lado bom de tudo. Os meus alunos até me apelidaram carinhosamente de "senhorita Namastê".

— Vocês precisam sempre se lembrar de manter a concentração, respirar o mais fundo que puderem, pensar sempre em coisas boas, lembranças que lhe fazem felizes ou até pessoas que lhe fazem bem. Cantar é amar e cantar com o coração cheio de mágoa não ajuda o universo a te ajudar. Vocês podem reparar bem como é diferente a energia que uma pessoa transmite quando ela faz música na base da raiva.

— E se for na base da tristeza? — uma aluna perguntou.

— Muitas músicas lindas foram feitas quando seus criadores estavam tristes. Mas estas não são feitas para passar boas emoções, correto? Uma música feliz deve ser cantada por alguém feliz.

— Acha mesmo que as nossas emoções influenciam na forma como a gente canta? — outro aluno perguntou.

— É óbvio que sim. Nossas emoções influenciam em qualquer coisa que a gente tente fazer na vida. Principalmente se tratando de música. A música em si é a nossa energia cantada. Se você tiver uma energia ruim, a sua música vai ser ruim. — fiz uma careta e eles riram. O sinal tocou e todos começaram a arrumar suas mochilas. — Lembrem-se de estar sempre de bem com o universo, só assim ele lhes trará coisas boas. — cada um deles me cumprimentou ao sair.

Fui para casa prestando atenção em cada detalhe da cidade. O cheiro doce de bolo recém saído do forno que cobria uma rua, as cores fortes das flores nos canteiros das casas, o canto dos pássaros sobre as árvores e o vento, que chicoteava meu rosto, fazendo meus cabelos serem jogados para trás.

E eu era grata a cada detalhe do planeta, cada coisinha que para os outros não era nada demais, mas para mim era motivo para sempre pedir obrigada por estar viva, por poder sentir todas essas coisas.

Eu morava no segundo andar de um prédio num condomínio próximo ao litoral. Eu e Pedro compramos aquele apartamento depois de nos casarmos.

O conheci numa lanchonete que sempre frequentava depois das minhas aulas na academia de arte onde agora eu leciono. sempre foi gentil e sempre me tratou como uma verdadeira deusa.

Estava feliz por ter saído mais cedo da academia, assim poderia preparar alguns biscoitos para mim e o meu marido, que com certeza voltaria cansado do seu turno extra na firma. Ultimamente ele estava trabalhando demais, merecia um pouco de mimo.

Parei na porta do meu apartamento e peguei a chave para abrir. Antes de destrancar, eu ouvi algumas risadas lá dentro. Confusa, eu abri a porta e girei a maçaneta devagar, espiando pela fresta antes. Pois é, lá vamos nós.

Pedro estava com uma loira, que provavelmente fingia que ele era um cavalo, pela forma que cavalgava sobre ele. E com toda certeza ela estava fingindo, que mulher grita tanto quando transa?

Entrei e bati a porta com força, fazendo os dois se assustarem, se cobrindo com o lençol da MINHA cama.

— Sério? — arqueei a sobrancelha e coloquei as mãos na cintura.

Doce Amargo(Adaptação)Where stories live. Discover now