— Toma aí, trouxe pro risco de você me deixar sem. — entreguei o capacete na mão dela.

— Ótimo. — ela sorriu falsa e colocou na cabeça.

Fiquei rindo sozinho dela sendo marrentinha, era engraçado. Esperei ela subir na moto toda desengonçada, me abraçou forte e eu dei partida com a moto.

A mulher tinha marcado na casa da Sarah, já que ela é de São Paulo e não tinha escritório por aqui, então chegaria lá rápido.

— Tá com medo? — perguntei rindo sentindo ela me apertar com força.

— Eu não gosto de motos! — ela disse se ajeitando toda cuidadosa.

— Relaxa, tá com o monstro né boba. — brinquei rindo. Só faltava ela me bater pra prestar atenção.

Chegamos no condomínio da Sarah, encontrei com Bruno descendo pra trabalhar, só dei um oi e subi. Não éramos muito amigáveis um com o outro.

Nunca tinha ficado tão ansioso assim na história da minha vida, não depois de todas as coisas que passei na minha família.

Subimos no elevador eu com a perna batucando o chão e ela me olhando cheia de nervoso da minha inquietude.

Batemos na porta, Sarah atendeu com Sophia ao lado dela, abaixei pra abraçar minha princesa e entrei.

— Prazer, Laura! — a mulher esticou a mão pra mim com um sorriso simpático.

— Patrick. Essa é a Alicia. — apresentei a doidinha que a cumprimentou.

— Sua namorada? — ela perguntou e eu balancei a cabeça negativamente. — Ufa!

Franzi a sobrancelha, eu e Alicia, os dois sem graças.

— Para com isso, Laura. — Sarah riu. — Gente, nem liguem pra essa tarada, ela é assim mesmo, mas é uma ótima advogata.

Laura bufou e eu ri envergonhado assentindo.

— Vou descer no parquinho pra brincar com ela e deixar vocês a sós, você vem Alicia? — Sarah a chamou.

— Eu...

— Ela vai ficar. — disse decidido. Precisava mesmo do apoio dela.

Sarah assentiu olhando pra mim com aquele olhar que eu entendia bem de "mentira que você vai dar uma boadrasta pra minha filha?" mas no bom sentido e saiu.

— Antes de tudo preciso perguntar, você acha que morar em São Paulo não vai atrapalhar? Você vai ficar por aqui pra auxiliar ele ou não? — Alicia se meteu preocupada.

E era exatamente por isso que eu precisava dela, por ela ser desse jeito, comunicativa, atrapalhada, ela fala o que der na telha e eu já sou bem reservado.

— Isso não vai ser problema, vou ficar aqui por algumas semanas. — ela contou. — Agora vem, vamos sentar.

Sentamos na mesa de jantar, ela abriu uma agenda e um computador e nós sentamos na frente dela.

— Sarah me passou mais ou menos o seu problema e por incrível que pareça isso é bem comum de acontecer. Vou precisar que você me conte absolutamente tudo sobre seu pai, o que talvez possa ter levado ele a tomar essa atitude, enfim... tudo. Eu vou entrar com um pedido pra que essa "ordem de despejo" seja anulada por hora. — ela disse e nós ouvíamos tudo atentamente.

— Posso começar a falar? — ela assentiu me dando a palavra. — A situação é que minha mãe fugiu do meu pai quando eu era criança, forjou a própria morte, os pais dela deixaram a academia no meu nome e do meu irmão e foi embora do país pra ficar perto dela e resolver os problemas. Minha mãe nunca separou do meu pai de verdade, então acho que ele tá usando disso pra tirar a academia de mim.

— Mas ele pode fazer isso? Porque é como se ele fosse viúvo e não mais casado. — Alicia perguntou curiosa.

— A lei é muita mais complicada do que isso. — Laura disse pacientemente. — Preciso perguntar, Patrick... ela tinha um motivo plausível pra forjar a morte?

— Sim. — disse breve. Alicia me olhou pra ver se eu tava confortável, eu sabia que era isso.

— Tipo? — Laura induziu.

Arranhei a garganta. Era difícil pra eu lembrar, quando eu falava sobre isso era quando eu me sentia a vontade e necessidade, quando era forçado era bem punk pra mim.

— Batia nela, já tentou matar... — falei.

— Entendi, mas aí ela te deixou sozinha com ele? — ela continuou.

— Ela precisava. — aumentei o tom de voz. Odiava quando davam a entender que ela era alguma louca.

Alicia segurou minha mão por debaixo da mesa e apertou mostrando segurança. Respirei fundo.

— Minha avó ficou por um tempo pra cuidar de mim e do meu irmão, ela protegeu a gente dele até ficarmos mais velhos. O negócio dele era com nossa mãe, ele não chegava muito perto da gente. — contei.

— Ah sim. Então, óbvio que percebi seu desconforto, eu sei que é um assunto complicado, mas eu preciso perguntar pra entender e saber o que eu posso usar, ok? Espero que tudo bem pra você. — ela disse cuidadosamente.

— Tá bom, agora já foi. Só tenho isso pra dizer. — eu disse.

— Você comentou que tem um irmão, certo? — eu assenti. — Ele tem alguma relação com seu pai?

— Tem, Daniel viu pouco coisa que ele fez pra nossa mãe e sempre foi mais bobão. Ele também não sabe que ela tá viva, ela não podia arriscar.

Ela assentiu e começou a digitar em um computador. Olhei pra Alicia que deu um sorriso confortável pra mim, isso me deixava mais calmo.

Laura ficou uns bons minutos calada no computador e eu tenso pra ouvir o que ela tinha pra dizer.

— Bom Patrick, como eu disse, vou começar tentando retirar a ordem e depois vou estudar as alternativas, mas posso te adiantar que não é impossível, e talvez mais fácil do que parece. Sorte a sua que me conheceu, a gente vai ganhar essa causa. — ela disse séria, mas convicta do que tava falando.

Não pude evitar de dar um puta sorriso de alívio e de cara tascar um abraço na Alicia que me apertou forte, com esperança e felicidade pra caralho.

— Por esses dias eu devo te avisar como vai ficar a situação do fechamento da academia e vou trabalhar nessa situação, só preciso de paciência, ok? — ela falou.

Eu assenti. — Então é isso?

— É isso sim, se quiserem, tão liberados. — ela disse e nós levantamos.

Nós apertamos a mão dela e saímos apartamento à fora. Não conseguia disfarçar meu alívio e tranquilidade, eu só não tinha surtado ainda porque tinha esperança de que daria tudo certo e vai dar.

Ficamos um pouquinho com Sophia no parquinho e enquanto isso contei um pouco pra Sarah do que Laura tinha passado pra gente. Ela me abraçou e eu fiquei todo bobo brincando com minha filha.

Depois elas subiram pra não deixar a Laura sozinha e nós fomos embora.

— Eu não te disse que daria tudo certo? — Alicia disse descendo da moto assim que parei de frente pro apartamento dela.

— Não é pra tanto. — brinquei sério.

Ela cruzou os braços, apertou os olhos e fechou a cara como se estivesse emburrada.

— Tô brincando, valeu por ter ficado do meu lado nessa, nem esperava. — disse sincero.

— Amigo é pra essas coisas. — ela disse olhando nos meus olhos e eu assenti a olhando também.

Ficamos alguns segundos nessa de encarar até ela começar a ficar constrangida.

— Te vejo mais tarde? — ela cortou.

— Como você sabe que eu vou? — ri.

— Ah, vai todos da academia, imaginei. — disse.

— Aham. — assenti desconfiado e rindo pra ela. — Te vejo mais tarde então.

Ela acenou e virou as costas pra entrar no apartamento. Alicia, Alicia...

Era uma vez, AliWhere stories live. Discover now