IV. Uma Questão de Bons Termos (Desfecho)

3 0 0
                                    

Concedendo a estes dois jovens uma porção moderada de meu ponderado zelo como alguém que já exerceu o ofício da criação, evoquei das profundezas de meu derreado tórax uma estima não manifestada em mim há pouco menos de uma década. O cargo ao qual estive dedicando-me nestes últimos meses inegavelmente deu origem à rotina que tanto busquei por vezes, na qual o senhor de meu nome inseria-se cautelosamente, porém vulnerável. Sujeito ao melhor de mim mesmo, uma brecha abria-se, permitindo a este senhor uma forma de expiação que a ele não irrogaria detrimento anímico.

Sobre aquele mesmo par de assentos desbotados por ação de nossas e tantas outras nalgas, expus ao garoto o veredito de ponderações nutridas durante nossa breve trégua semanal. Atônito diante significativa austeridade, Henry deu a mim seu consentimento, logo conduziríamos um esquema inusitado na pior das hipóteses.

Nesta primeira etapa, estaria limitado a mim somente a posição de avaliador. Uma vigia discreta foi minha única obrigação, enquanto observava meu pupilo em meio às suas diversas investidas. Durante o período de abertura, Henry trouxe a si a visão de seu alvo, apenas para ser interceptado por atuantes estranhos ao nosso peculiar estratagema. O renome social tornava-se nosso pior adversário, porém a fieza que resguardei especialmente em meu peito não seria perturbada tão facilmente.

Ao menos pude notar que o afinco não se apresentava sob destaque em apenas uma das partes. Flamas intensas ardiam sobre as íris de nossa protagonista à medida que seu fascínio despontava. Escassas revoluções daqueles ponteiros que prendiam a atenção de muitos no decorrer de seu repouso entre classes marcavam os poucos minutos disponíveis a Aria para operar um assalto coerente. A ambos meu e seu abalo, Henry também desfrutava da estima alheia, apesar de inoportuno momento. Recrutado por membros de união estudantil, meu aliado vanescia de nossos olhares em direção à quadra esportiva. Creio tê-lo julgado imprudentemente a respeito de aspecto corporal.

Nuvens davam espaço ao seu tão apreciado astro que, prestes a encerrar uma dentre milhões de fases, derramava sobre nós aquele tão inerente brilho afadigado em cor de âmbar. Anunciada era a mais especial das ocasiões para que ambos rapaz e moça emendassem tão singelo desacerto. Firmado estava o terreno sobre o qual evidenciaram um ao outro o ardor de sua emoção. Pelo educador era divulgada uma proposta na qual duetos seriam substancialmente imperativos. A distância que os afastava em sala encurtava-se em questão de segundos e de minhas profundezas, dilatava-se o tão prezado sentimento de conquista.

Logo abafado pelo revés que ambos sofriam em sequência, onde pares de alunos estavam sujeitos à decisão de seu instrutor, literalmente saquei de crispada manga um às inestimável. Apenas não esperava que o presumido sentinela apresentado sob minha identidade estaria sob a ronda de uma formidável dama a ser introduzida posteriormente.

Admitido o sermão ao qual me fora dignado, retomei meu ofício até que fosse dado como finalizada a atividade da qual ambos Henry e Aria tomavam parte. O lóbulo de minha orelha esquerda queimava dado a intensidade do puxão que recebera há pouco. A reitora desta academia chega a ser mais inflexível que Violet, porém a ela reservo um apreço simbólico por conta de sua simpatia com minha esposa.

De suas carteiras um enorme grupo de alunos deixava o espaço. Alguns exaustos, outros afobados, porém apenas dois mantinham-se firmes. Isolado acusticamente, pude apenas ouvir os passos que levavam Aria em direção à Henry. O garoto, prestes a explodir, reuniu cada fração de sua valentia em prol da conservação de sua persistência. Em contraste, a tão prezada colega preservou sua postura dominante, embora tenha cedido pouco depois. Não pude lhes escutar, mas o recado esteve dado por Henry, que sinalizava a mim com um olhar agoniado. Era minha deixa enfim.

Contos de um ZeladorWhere stories live. Discover now