Capítulo 7

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Percy acendeu todas as luzes do chalé 3 naquela noite antes de esvaziar todas as gavetas em cima da cama. Ele olhou em todos os armário também, mas só um estava ocupado e dentro tinha apenas roupas (metade sujas). Segundo Annabeth, eles passavam todos os verões ali a pelo menos cinco anos. Uma grande parte da sua vida estava naquele chalé e ele encontraria cada parte que fosse. Ou talvez fosse só lixo, mas ele teria que tentar.

Ele empurrou uma parte da tralha para abrir espaço no colchão e pegou uma foto que ficou por cima da pilha.

Ele e Grover, o sátiro que conhecera mais cedo, sorriam para a câmera, os olhos entreabertos devido ao Sol, Percy ostentava uma cicatriz bem grande no queixo. Parecia ter sido tirada em um lugar bem aberto. Atrás estava escrito "Aniversário de 30 anos do Grover" em uma letra bem feia. Percy queria ter dado mais atenção à foto, mas o único só conseguia se reparar no que estava escrito no verso. Caramba, Grover já tinha 30 anos!

Ele deixou a foto de lado e pegou um pequeno caderno azul que tinha achado jogado no fundo da última gaveta. A maior parte das folhas estavam ocupadas com anotações de tarefas e contas. Percy segurou o caderno pela espiral e chacoalhou. De dentro caiu uma foto toda amassada e suja. Era Annabeth, devia ter uns treze anos na foto, sorrindo. Embaixo estava escrito "Washington, D.C.".
Ele colocou a foto no bolso antes de também colocar o caderno de lado.

Mexendo um pouco mais na pilha ele achou um cordão com uma bolota de argila pintada a mão. Não era uma bolota feita por alguém muito habilidoso mas ele gostou dela mesmo assim.

                    ***

Percy nunca tinha entendido porque todos eram obrigados a ter aulas de artesanato no Acampamento. Annabeth tinha lhe dito uma vez que era importante para desenvolver a coordenação motora fina. Já  na humilde opinião dele, Quíron  achava que seria mais barato colocar os campistas para trabalhar que contratar alguém.

Independente do motivo, ele achava essas aulas um saco.

Naquele dia, Annabeth e os outros filhos de Atena tinham ficado com a melhor parte da aula: argila. Eles iriam fazer e pintar as contas daquele verão. Já para Percy, entregaram um monte de placas de madeira e pregos para montar os caixotes de morangos que seriam enviados essa semana.

Ele tentou o máximo se concentrar nos caixotes mas acabou desistindo na metade do terceiro ou quarto e ficou olhando Annabeth, sentada a sua frente, enrolar as bolinhas de argila. Ela fazia parecer incrivelmente fácil.

— Eles sempre dão as tarefas mais legais pra você. — resmungou.

— É mais difícil do que parece. — ela respondeu.

— Mas é melhor que montar caixas de morango.

— Jura, Cabeça-de-alga? Então por que você não tenta?

Ela lhe estendeu um pedaço da argila. Percy tirou as caixas da mesa e molhou as pontas dos dedos antes de pegar, assim como viu Annabeth fazendo. Ele moldou uma bolinha do tamanho que achou que estava bom, ficou com uns calombos, mas nem tava para reparar. Depois furou e colocou juntos com as dela na bandeja para ir para o forno e voltou ao trabalho.

Mais tarde, quando as contas já estavam prontas, eles (Por eles entende-se todo o chalé 6 e Percy) voltaram para pintar.

Ele se sentou ao lado de Annabeth para poder olhar no modelo que entregaram a ela. Era o Empire State Building, com as janelas brancas e um fundo azul.

O prédio ficou parecendo um bolo de cimento com confeitos de gesso e o fundo não foi o seu melhor, estava meio falhado. Ainda assim, depois de uma longa análise, Percy decidiu que estava ótimo para um primeiro trabalho, podia ser considerado um sucesso.

Annabeth pegou a conta, passou por um cordão de couro e colocou em Percy antes de lhe dar um beijo de parabéns.

                    ***

Percy pesou o colar na mão antes de colocá-lo no pescoço. Instintivamente passou a língua pelos lábios.

Ele se sentia tão cansado. Olhar aquelas coisas era como ter aquela vida toda de volta, mas ela já não era dele. Era clara a afeição que tinha por aqueles objetos e mesmo assim ele não conseguia se lembrar do motivo. Era tão estranho ver outras pessoas conversando sobre ele, contando coisas que ele tinham feito.
Ainda assim, Percy continuou remexendo na pequena pilha.

Um envelope quase caindo da cama chamou a atenção dele. Estava meio manchado e aberto, com mais três fotos dentro. A foto com Grover devia ter caído dali... Ele passou os dedos pelas bordas, avaliando cuidadosamente, antes de puxar as fotos que estavam dentro.

A que estava por cima mostrava ele, jogado no sofá de alguém, com Annabeth ao seu lado, os pés apoiados no seu colo. Eles riam e pareciam alheios à câmera.

A próxima era uma sequência da primeira, com Percy tentando esconder o rosto com uma almofada e Annabeth virada sobre o braço do sofá, acenando.
Ele passou os olhos por todos os detalhes antes de pegar a última, sentindo a pressão no peito diminuir um pouco apesar de tudo.

A terceira foto tinha pessoas que ele não conhecia ainda. Uma mulher em torno de uns trinta e cinco anos beijava a sua bochecha esquerda enquanto segurava um cupcake com confeitos azuis. À sua direita um homem não muito mais velho segurava o seu ombro.
Percy olhou dentro do envelope de novo só para garantir que tinha visto tudo. Não tinha. Havia um pedacinho de papel no fundo, e em uma letra redonda e bonita estava escrito "Revelei essas fotos pra você, com carinho, mamãe".

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