— Clarice olhe apenas para meus olhos, não olhe para fora, vamos! – Era tarde.

— Pai! – Berrou.

— Droga, ela gritou, por que gritou menina? – Bruno indagou agora sentando seu corpo no banco. E como uma onda de dezenas de metros os monstros inundaram sobre o carro.

A Blazer da Polícia balançava de um lado a outro, eram muitas mãos sujas de sangue batendo nos vidros, o carro poderia tombar. Levantei assim como todos fizeram, dei partida no carro, mas ele não ligou. Subiam no capo do carro tentando quebrá-lo, o alvoroço estava feito tanto do lado de fora quanto dentro, não tinha o que fazer.

— Vamos morrer é isso? – Caroline estava fora de si, Léo deu sua mão para ela e juntos ficaram em silêncio, Clarice passou para frente e me deu um longo abraço, ficou ali sentada comigo. Percebi a expressão de Bruno que nada fez, mordiscou o lábio e aceitou que juntos morreremos, não havia nada o que fazer.

— Desculpe pessoal, eu falhei em ajudar vocês. – Conclui, Luiza segurou minha mão, entrelaçou os seus dedos nos meus e nada disse. Aproximou sua cabeça a minha e me encarou com seus lindos olhos.

— Você não desistiu de nós, lembra o significado do seu nome que apresentei para você hoje cedo? – Ela se aproximou mais de minha face, enquanto os vidros eram rachados pelas milhares de mãos e o carro balançava como se fosse virar, - Nicolas significa “vitorioso”, aquele que leva seu povo a vitória, o que “vence” com o povo.

— Isso não significa nada, vamos morrer, eu não levei você a vitória Luiza. – E o carro tomba para o lado esquerdo. Cai por cima de Luiza e os outros, o vidro da frente rachou, e não quebrou por inteiro por ser blindado, - todos estão bem? – Bruno estava com uma ferida na testa que sangrava, assim como Caroline, parecia que todos estávamos com feridas leves, mas era o fim. Senti que eles ainda tentavam entrar no veículo. Por fim não vencemos, e meu nome é apenas um nome...

— Obrigado por me fazer vencer, Nic – Luiza concluí. Estava sobre ela, seus seios apertavam meu abdome, tentei levantar, mas ela me puxou ainda mais contra seu corpo.

— Vencer? Estamos mortos...

— Você me fez vencer meus medos, vencer minha inutilidade. Vendo você tentar viver, me deparei com sentimentos que não existiam dentro de mim, só por este motivo me sinto vitoriosa, você me levou a vitória. Nicolas o menino tímido que me deu um fora uma vez. – Seu lábio encontrou o meu em um beijo de gratidão e sentimentos. Era para ser doce, mas senti o gosto de nossas lágrimas se misturarem as minhas. Consegui sentir o calor de Luiza junto ao meu, mas seria por pouco tempo...

O silêncio reinou por um segundo, após o nosso beijo, soutei os lábios carnudos e deliciosos de Luiza ao me deparar com o breu que pairava sobre nós. Os mortos haviam cessado? E como um estrondo rasgando o céu, caímos um sobre os outros novamente com o intenso barulho que destruía nossa audição.

— Está acontecendo de novo. – Gritou Clarice com as mãos nos ouvidos. Luzes foram avistadas sobre os escuros vidros do carro capotado, e quando reparei no que estava acontecendo, sorri.

— Temos que sair, é o fenômeno de cedo.

— Estamos salvos! – Léo indagou abraçando Caroline, mas Bruno balançou a cabeça negativamente.

— Vocês não sabem o que falam, estamos salvos por enquanto. – Depois de assegurar que eles não estavam mais tentando entrar no carro, corei. Minha cor mudou, isso poderia jurar, ao olhar o sorriso de canto de Luiza que nada me disse do intenso beijo que compartilhamos no suposto leito de morte. Não toquei no assunto, apenas abri a porta do carro com extrema dificuldade.

Livro I - Nuvens de SangueWhere stories live. Discover now