O problema é que como eu sempre disse o Matheus nunca foi muito esperto pras coisas, sempre foi meio lerdão, depois que se mudou pra cá quis bancar o sagaz.

— O problema é que você relutando tanto por uma garota que nem é tão sua amiga assim é estranho, brigando com tua namorada por ela é mais estranho ainda. Dava pra entender se fosse comigo, que sou sua melhor amiga, mas uma mina que nem é nada tua?! — fiz careta.

— Por esse lado é verdade! — ele assentiu pensativo. — Valeu, Ali. Amo tu pra caralho! — paramos em frente ao brt.

Graças aos céus era pertinho do meu apê e isso me facilitava bastante.

— Eu também te amo, seu babaquinha. Se resolve com a Duda, pelo amor de Deus! — disse batendo no braço dele.

— Vou lá agora!

Eu dei um sorriso sincero de orgulho pra ele e mandei um beijo no ar assim que ele virou as costas. Agora era só esperar meu busão.

Hoje eu tinha aula com as turmas mais avançadas, ou seja, as meninas mais velhas. Já cheguei na academia cumprimentando Livia, que eu tinha curtido muito conhecer, parecia bem porra louca e eu gostava de gente assim, apesar de não ser tanto.

Cheguei na sala colocando a trilha sonora que eu tinha preparado, larguei minha bolsa em cima da mesinha, sentei no chão pra colocar minha sapatilha e depois fiquei aquecendo na barra em frente ao espelho.

As aulas com essas turmas eram bem mais fáceis e práticas, até porque com criança pequena a atenção é redobrada, então passou muito rápido, quando fui ver já eram quase 21h da noite.

Mesmo com poucos dias minha imaginação já estava a milhão. Já pensava em espetáculos com as turmas, pensava em conversar com o Patrick pra colocar outros tipos de dança pra ficar mais divertido, aulas ao ar livre, muita coisa.

E por isso já passava na minha cabeça várias coreografias legais pra fazer. Coloquei o som na caixa e fiquei inventando passos, segmentos. Ballet era tudo bem mais clássico e tradicional, mas mesmo assim eu tinha o meu estilinho mais ousado, eu gostava de incrementar.

— Posso entrar!? — a voz de Livia ecoou pela frecha da porta.

— Ah, pode sim. — eu parei o que tava fazendo e dei pause na música.

— Fazendo o que aqui até essa hora, doida? — ela perguntou ajeitando a mochila nas costas.

Olhei no relógio e a hora tinha passado voando. Já eram onze horas da noite e eu arregalei os olhos pensando em voltar pra casa sozinha.

— Meu Deus, fiquei ensaiando sozinha e perdi a hora. Que idiota! — eu ri de nervoso arrumando as coisas às pressas.

— Bem que eu imaginei. — ela riu. — Vim só te dar tchau, se tivesse mais cedo eu ia pedir uma aulinha particular.

— Sério? — franzi a sobrancelha. — Você não parece curtir muito ballet. — olhei pra ela de cima a baixo.

Era péssimo estereotipar, e eu sei que era. Saiu sem querer.

— Eu gosto de tentar novas coisas! — ela disse e eu assenti voltando a arrumar minha bolsa. — Vou indo, até amanhã?

— Até sexta, na verdade. — me virei sorrindo pra ela que mandou uma piscadela e saiu.

Queria ir embora logo, mas precisava trocar de roupa pelo menos. Tranquei a porta da sala, peguei uma calça jeans e um blusão antigo do traste do Rodrigo que eu tinha jogado na bolsa, coloquei a bolsa de lado e apaguei as luzes pra descer.

A academia tava praticamente toda apagada, olhei mais uma vez no relógio e essa brincadeirinha de só arrumar coisas rendeu uma hora.

Decidi ir de uber porque as ruas provavelmente estavam desertas e eu não queria andar até o ônibus. Me sentei num banco que ficava próximo aos tatames pra esperar meu uber se aproximar.

— Seu filho da puta, você não cansa de acabar com minha vida não? — escutei de longe gritos.

Já me assustei pela voz grossa e meu coração disparou na hora. Até levantei do banco no susto.

— Me respeita, Patrick, eu ainda sou teu pai você queira ou não. — a outra voz falava mais baixo, mas ainda sim alto.

Foi a hora que eu escutei um estrondo, onde fiquei mais nervosa ainda. Parecia barulho de algo indo contra aqueles armários de alumínio e depois barulho, barulho e barulho. E só podia ser briga.

Era uma vez, AliWhere stories live. Discover now