Um conto de terror

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A casa era grande, perfeita para as reuniões de família, nas quais Eva sempre conhecia algum primo novo. Desta vez, ela conheceu Calvin, um garoto loiro, de seus dezenove anos. Calvin era um primo de quinto grau e um de seus tios comentou que ele quase não era família...

— Sério meninos, – avisou tia Valda – não deveriam começar um jogo agora, a luz vai acabar em vinte minutos.

Tia Valda sempre se disse vidente. Ela quem descobriu a família de Calvin, anos atrás, perdidos em alguma pequena vila na Europa, com um português nulo e um inglês precário; foram anos para conseguir trazer o garoto para o Brasil e, agora que ele estava ali, o rapaz parecia um fantasma silencioso. O jantar foi grande, a mesa cheia e os pratos fartos. As taças estavam sempre cheias, e nos copos das crianças não faltava suco. Houve as habituais brincadeiras de "quem eu sou", mímica, até um amigo secreto nesse ano. Calvin olhava de esguelha para Eva, a única ali com um inglês entendível.

— Tia, nada a ver! A companhia de luz teria avisado sobre algum apagão! — um dos garotos reclamou.

— Acho ainda que deveríamos ficar juntos no quarto de Eva. Lá será o único lugar seguro.

A mulher continuou a falar e ninguém lhe deu muita atenção. Muito do que ela falava não se tornava real ou era tão críptico que ninguém entendi. Eva, porém, tinha uma pequena lanterna no bolso. Com uma mão no outro, ela conferiu se pegara as baterias extras, em caso da lanterna estar fraca. Não que Eva acreditava na tia Valda, mas, naquele dia, a jovem teve arrepios desde o nascer do sol. Isso sem dizer a péssima sensação de que alguém a vigiava. E calafrios. Poderia ser sua menstruação, ela sentia uma cólica discreta que prometia crescer, mas também havia... Calvin. O moço simplesmente não falava. Ele apenas a observava com aqueles olhos azuis tão claros e seus cabelos loiros de um branco inimaginável. "Ele é albino" sua tia respondeu quando ela havia perguntado. "Por favor, tente falar com ele... Calvin é quieto, mas tem um bom coração. Uma vez que você o conhece, não vai querer se separar dele!" mas mãe era sempre mãe, mesmo que fosse tia: o filho sempre será uma flor que se cheire. Então Eva foi em direção ao moço.

Are you gonna play with them? It is fun game if you know how to play it... – "Você vai jogar com eles? É até um jogo legal se você souber jogar..."

No... I don't like this kind of game. My friends play it. I will read. – "Não... eu não gosto desse tipo de jogo. Meus amigos jogam. Eu vou ler."

Okay. – Eva sentiu uma pontada em seu útero. Ela respirou fundo e saiu em direção ao banheiro. A semana já estava acabando, mas o sangramento tão irritante apenas começava.

Ao se levantar para dar descarga, as luzes se apagaram. Ela ouviu os garotos xingarem da sala e a tia falava que havia avisado. Sem precisar pensar, Eva levou a mão ao bolso, a procura da pequena lanterna; porém não havia mais nada ali. Nem no outro bolso, onde as baterias deveriam estar. Eva sentiu um arrepio... um dedo frio que arranhava sua coluna e espalhava calafrios por seu corpo. Dois olhos enormes e sangrentos a observavam pela janela, e sumiram em menos de um segundo. Eva mal conseguiu gritar. Ela abriu com violência a porta do banheiro e foi em direção a sala. Os meninos ainda xingavam e Calvin estava parado e a fitava com aquele olhos vítreos.

Come with me, please! – "Venha comigo, por favor" Eva implorou em um tom desesperado.

Where? – "Onde?" – respondeu Calvin, sua voz calma criava contraste gigantesco.

My aunt said the only safe place is my room. She's probably there already, with the kids and maybe some other people who believed her. – "Minha tia falou que o único lugar seguro seria meu quarto. "Ela provavelmente já está lá com as crianças e talvez alguns que acreditaram nela."

Jack - PortuguêsWo Geschichten leben. Entdecke jetzt