Memories On
— Eu jamais te deixaria cair. — Alec estendeu uma mão para mim, me puxando de volta para a superfície.
Recuperei o ar e tranquilizei minhas mãos, antes trêmulas da quase queda. Mamãe não estava olhando para mim quando o homem patinou em minha direção, e agora a perdi de vista. É uma pena papai estar no trabalho, aposto que nunca imaginou que eu fosse patinar.
— E se eu tivesse caído? — Arrumei minha toca, apoiando-me no braço de Alec.
— Do chão você não passaria.
— Não é engraçado! — Bati o pé no gelo, e logo me arrependi, quase deslizando.
Eu não sei patinar e o gelo ainda me deixa insegura. Não gosto de não saber fazer as coisas, mas Alec patina tão bem... Por que eu também não posso?
— Você estava reclamando até quinze minutos atrás do quão gelado é. — Alec deu risada. — É só uma placa deslizante, Safira.
— Como você patina com tanta segurança? — E é gelado mesmo! — Minhas pernas parecem gelatina, não sirvo para isso.
— Você estava indo bem até aquele gigante quase te atropelar. — Alec olhou feio para o homem. — Quer saber? Vamos juntos. Patine comigo, Safy.
Olhei para cima, para os seus olhos azuis como o céu. Alec é uma criança grande para a sua idade, ou talvez eu seja muito pequena, mas não aceito a segunda hipótese.
— Tudo bem. — Cedi, entrelaçando nossos dedos. — Mas sem ir embora dessa vez!
— Aqui. — Alec ergueu nossas mãos unidas. — Estamos coladinhos.
— Eca, não precisa grudar tanto. — Deixei um sorriso escapar, e Alec revirou os olhos.
Começamos a patinar muito lentamente, um ao lado do outro. Aos poucos, enquanto dávamos algumas voltas pela circunferência do gelo, começava a reconquistar a prévia segurança que comecei a estabelecer no gelo antes de quase ser derrubada.
Alec pareceu notar que já não estava tentando andar, e sim a patinar, então pegou minha outra mão livre.
Ele patinava de costas, e eu ia afastando um pouco mais as pernas, pegando mais velocidade. Alec me guiou dessa forma por alguns instantes.
— Levante o seu pé esquerdo. — Pediu, olhando para a minha feição assustada. — Não faça essa cara. Só tire ele do gelo por dois centímetros, confie em mim!
— Está bem... — Levantei o mínimo possível, e segurei suas mãos com mais força.
Alec impulsionou o corpo para trás com um dos patins, e e seguida, rotacionou de forma impecável um círculo, me levando junto.
O meu único pé no chão fez com que eu girasse junto a ele, e de maneira automática, utilizei o pé erguido para conduzir o restante do meu corpo.
Começamos a girar com as mãos entrelaçadas, e o gelo pareceu muito mais leve do que anteriormente. Minha barriga adquiriu milhares de borboletas, e senti o ânimo percorrer o meu corpo.
Alec e eu começamos a gargalhar com as cócegas na barriga, enquanto circulávamos o lago inteiro, afastando o restante das pessoas.
O medo, a insegurança e as paranoias foram embora, sendo substituídas pela mágica sensação de liberdade que o gelo estava transmitindo. Foquei apenas no momento, na felicidade e nas esferas azuis de Alec, que reluziam euforia.
Acho que ouvi minha mãe me chamar, mas não consegui dar atenção a ela.
— Eu nunca mais quero parar de patinar! — Exclamei, ainda percorrendo o gelo com Alec.
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Shattered Ice
RomanceO DESTINO É FEITO DE GELO Quando se é uma patinadora artística, baseia-se na confiança. Nos outros, e em si mesma. O gelo é o nosso fiel confidente, um reflexo de nossa alma. Prometemos manter o gelo que nos desliza por nossos destinos intacto, ...