Seja empática

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Boa Leitura 💚🐦


Desde pequena eu gostava de observar as pessoas. Desde a maneira de falar e agir até a forma como se sentavam.

E com Lalisa não era diferente. Ela era intrigante, misteriosa e sempre deixava aquele ar de estar faltando alguma coisa, como se precisasse ser desvendada, mas eu não tinha as ferramentas necessárias pra montar seu quebra-cabeça com mais de quinhentas peças.

Eu a observava comer, falar ao telefone, falar pessoalmente com as pessoas, dar ordens, escrever e até mesmo dormir. Mas mesmo assim, não conseguia saber quem era a verdadeira Lalisa Manoban.

Quando acordei, ela não estava mais no quarto, não estava em lugar algum. Ao me levantar e ir para o corredor, Palisa me surpreendeu saindo do quarto na mesma hora que eu abrindo um enorme sorriso.

— Cunhadinha! — Exclamou segurando meus ombros. — Aqui, você esqueceu seu celular no quarto. — Meus olhos se arregalaram na mesma hora que o pequeno aparelho foi estendido em minha direção.

Rapidamente o peguei colocando no bolso da calça moletom e conferindo os arredores, ninguém podia saber desse aparelho. Ninguém.

— Obrigada Pali! Acordou agora? — A vi assentir, ficando aliviada, ótimo, ela não iria contar a ninguém.

— Cunhadinha, posso te fazer uma pergunta? — Assenti receosa. A Tailandesa desarrumada parecia um tanto quanto curiosa demais sobre minha vida "amorosa" com sua irmã, e isso me preocupava bastante. — Por que você e Lalisa não dormem no mesmo quarto?

Engoli em seco pensando em uma boa mentira, mas o que eu poderia dizer? Que estávamos brigadas? Que eu era celibatária? Que só podia dormir depois do casamento? Ela não cairia nessa.

— Por que não pergunta a sua irmã? — Exclamei sem graça voltando para o quarto e fechando a porta sem esperar sua resposta.

Lalisa me paga.

Mapeei o local procurando onde podia esconder o telefone, no travesseiro seria arriscado alguém achar, principalmente Lalisa que se mexia demais na cama. Acabei por colocá-lo de baixo do colchão.

Enquanto descia as escadas, pude ouvir as irmãs Manoban conversando na cozinha.

— Por que vocês não dormem juntas? — Palisa indagou insistente.

— Creio que não seja da sua conta. — E esta foi Lalisa respondendo grosseiramente como sempre, sincera até demais. Onde estava a Manoban envergonhada, com a hipótese de ver minha bunda, de ontem?

— Você podia ser menos grossa com sua irmã. — Me intrometi preparada para seu ataque, que logo veio.

— E você poderia tomar conta da sua vida. Vocês duas. — É... Ela não estava nada bem hoje. Eu iria retrucar, mas o elevador apitou e logo Jennie saiu da caixa metálica. — Se me dão licença.

A vi se levantar sem nem ao menos terminar seu café da manhã e ir com a mais baixa para seu escritório.

Eu e Palisa nos entreolhamos, mas apenas dei de ombros comendo os waffles deliciosos que Martha havia preparado.

Depois de minutos em silêncio, a mais nova decidiu puxar um assunto e juntas ficamos conversando na varanda por boas horas acredito eu. Até que Mingi finalmente apareceu me arrancando um sorriso.

— Fez o que eu pedi? — Perguntei vendo-o sorrir sem jeito um pouco preocupado.

— Sim senhora, deixei tudo no carro. — Sorri indo em direção a escadaria.

— Obrigada amigo, você é um amigo! — Vi os dois me olharem confusos, mas apenas dei de ombros e fui me arrumar.

Lalisa havia me comprado muitas roupas, uma vez que eu não tinha nenhuma. E para a ocasião, decidi estrear um vestido branco com desenho de cerejas, era bem soltinho e fresco para a tarde ensolarada que fazia em Bangkok. Agora eu só precisava fazer o mais difícil, convencer a Manoban a sair comigo.

Quando fui para o primeiro andar, apenas Mingi estava lá, parado de frente para a porta do elevador como uma estátua, constatei que Palisa estava em seu quarto.

Respirando fundo antes de dar duas batidinhas na porta, pude ouvir um "entre" bem seco de Lalisa. Assim que a abri, vi que Jennie já havia ido embora. Lalisa nem ao menos me olhou, concentrada demais em seus papéis, mas eu a faria sair dali, ou não me chamo Park Roseanne.

— O que foi? — Disse terminando de assinar um montante de papéis.

— Vamos sair!

— Não, estou ocupada.

— Mas hoje é sábado!

— Não importa. — Bufei sentando na cadeira a sua frente. — O que está fazendo?

— Vou esperar você acabar de trabalhar. — Disse convicta.

— O que você quer?

— Você pediu minha ajuda, eu estou tentando, então levanta essa bunda magricela daí e vamos logo. — Vi seu olho arregalar para só então perceber o que havia dito.

— Você definitivamente vai ficar longe de Palisa a partir de agora. — Bufou, colocando a culpa na irmã por meus modos. — Você tem duas horas. — Sorri vendo-a se levantar. — Mingi prepare o carro. — Disse ao entrar no elevador.

— Eu já o preparei senhora Manoban. — Vi suas sobrancelhas franzirem, mas ela logo entendeu.

— Então você não vem?

— O carro que a senhorita Roseanne escolheu só dá para duas pessoas.

[...]

O F-type corria literalmente como um Jaguar pelas ruas de Bangkok. O conversível vermelho era lindo e meu cabelo ao vento deixava a viagem cem por cento mais divertida.

No início Lalisa não havia gostado da ideia de ter que dirigir, mas quando eu disse o carro que havia escolhido seus olhos brilharam. Eu não era expert em carros, mas sabia o suficiente para escolher um bom carro para o que iríamos fazer.

Ela usava um óculos escuro a deixando extremamente estilosa e eu achei incrível o fato de seu cabelo todo voar, menos sua franja.

Quando Lisa estacionou no parque, rapidamente ajeitei meu cabelo pegando a cesta e caminhando com ela pela calçada antes de ir para a grama.

A fiz comprar um chapéu para mim de um vendedor ambulante e a comprar sucos prontos finalmente podendo ir para o destino final.

Algumas pessoas caminhavam na rua, e outras jogavam na grama, mas só nós duas fazíamos um piquenique.

Quando já estávamos sentadas na toalha vermelha, Lalisa decidiu finalmente trocar palavras comigo.

— Por que estamos aqui?

— Você estava muito irritada hoje, contato com a natureza faz bem, sabia? — A vi negar para então continuar. — E bom, pra você começar a gostar de alguém, precisamos descobrir seu tipo de pessoa.

— Quer que eu observe pessoas num parque e inicie um relacionamento?

— Não desse jeito! Na minha cabeça fez mais sentido. — Dei de ombros abrindo a cesta, Mingi havia comprado muitas coisas. — Aquela morena ali, tomando sorvete, o que acha dela?

— Nah. — Negou rapidamente com a cabeça.

— E a loira na barraca de churros?

— Sem chances. — Bufei vendo-a se divertir com minhas tentativas.

— E aquela ali, com a criança. — Apontei para um mulher branquela que brincava com seu provável filho no trepa trepa.

— Casada? Acha que eu sou o que? — Gargalhei com sua indignação comendo mais uma uva.

— E a da bicicleta? — A vi fixar o olhar na menina. Ela parecia sem palavras agora, eureca.

— Roseanne... É ela. — Disse convicta.

— Sério? Está apaixonada pela morena da bike? — Perguntei incrédula.

— Não. — Sua cara se fechou me fazendo ficar sem reação e ela logo começar a gargalhar. — Você tinha que ver a sua cara agora! — Disse entre risos.

— Isso não é legal!

— Não vou me apaixonar por uma garota assim, pare de ser um robô burro. Pense com sua mente robótica. — Deu um peteleco na minha testa.

— Aí!

— Pensei que sua testa fosse metálica. — Analisou passando a mão no local dolorido. Ela pegou o copo que eu bebia e derramou o líquido em sua garganta.

— E eu? — A vi se engasgar com o suco de maracujá.

— Você? — Tentou se recompor, mas ainda tossia.

— É, e eu? O que acha de mim.

— Você é... — Sério que ela não queria me descrever? Essa cretina deve me odiar. — Legal!

— Legal? — Arqueei a sobrancelha.

— É, um robô legal. — Senti vontade de revirar os olhos, mas não o faria.

— Você me conhece vai fazer um mês, e só consegue dizer que sou legal? — Seus lábios tremularam tentando formular uma frase.

A vi quebrar o contato visual e passar a língua pela boca, seu fluxo de piscadas havia aumentado e sua boca abria e fechava, mas nada dizia.

— Deixa pra lá. Vamos, as duas horas já acabaram. — Terminei de comer o cacho de uva para então começar a guardar as coisas com sua ajuda, eu ainda tinha muito trabalho a fazer.

Legal? Eu era só legal?

— Ah por que não comemos um churros? — Deu a ideia quando coloquei a cesta no carro.

— Você não ia trabalhar?

— Não me faça mudar de ideia. — Sem esperar minha resposta, ela apenas foi até a barraquinha e eu fui orbigada a seguir. — Dois churros de doce de leite por favor.

— Você nem sabe se eu gosto de doce de leite.

— Eu estou com você a tempo suficiente pra saber que come qualquer coisa. — Abri a boca indignada.

— Pra sua informação, eu sou uma ótima degustadora.

— Sim, qualquer restaurante amaria ter você como cliente. — Trinquei a mandíbula com sua audácia.

— Aqui está, dois churros bonitos para duas moças bonitas! — O gentil rapaz disse nos entregando a massa acanelada com um sorriso de orelha a orelha e piscando para mim.

O que Lalisa não pareceu gostar nem um pouco pois nem agradeceu o elogio indo direto para um banco que tinha por ali.

— Quem ele pensa que é pra piscar pro meu robô? — Disse mordendo seu churros. — E o churros dele nem é tão bom, já comi melhores.

— Eu achei legal! — Decidi aumentar sua raiva. — O churros. — Complementei quando ela pousou seu olhar mortal em mim.

— Você come qualquer coisa mesmo.. — Levantou os ombros quebrando nosso contato visual. — Sem critério nenhum.

— E você reclama de tudo!

— E você tem péssimas ideias. — Abri a boca surpresa.

— Aé? Não posso fazer nada se você é sem coração! — Foi sua vez de se chocar.

— Sem coração? Eu tenho um, diferente de você que é só um pedaço de lata bonito!

— Vou levar isso como um elogio. — A peguei de surpresa vendo-a abrir e fechar a boca para então apenas cruzar os braços.

— Pense como quiser. — Deu de ombros emburrada.

— Acho que o que te falta é empatia. — Disse após um minuto de silêncio. —  Digo, eu tenho certeza que você não quis ser grossa com sua irmã hoje de manhã, nem comigo agora.

— Você não sabe de nada. — Sussurrou, vi sua expressão triste, Lalisa não gostava de assumir seus sentimentos.

— Sei sim, fui programada pra saber. — Dei a última mordida no churros fazendo uma carreta. — É, eu também já comi melhores. — Vi seu bico emburrado se transformar em um sorriso de lado.

— O que vamos fazer agora? Já vai escurecer.

— O tempo passou rápido... — Disse ao ver a lua clara paralela ao sol. — Palisa gosta de pizza? — A vi assentir tirando os óculos escuros. — Então eu já sei o que vamos comer agora.

Who Knows❔Chaelisa❓Où les histoires vivent. Découvrez maintenant