#17 - Na Casa de Snow

3 1 0
                                    

A Snow mora do lado do apartamento da Vitória, no 1L5. Ainda acho essa numeração um negócio de maluco. Na sala tinha um sofá de dois lugares, três cadeiras dobráveis encostadas na parede. Pendurado como se fosse um quadro, tinha um aspirador de pó. Uma estante cheia de bugigangas, é o que pareceu naquela meia luz. Apesar de tudo, a sala era menor que a da Vitória. Talvez tivesse um ou dois quartos, já que por fora a área dos apartamentos parece ser igual.

- Você dorme no sofá. Tudo bem?

- Claro. Sem problema. Muito obrigado mesmo!

- Boa noite, é...

- Gael.

- Isso. Boa noite, Gael.

Ela foi lá pra dentro e sumiu. Eu me estirei no sofá esperando um pouco de sossego, pra conseguir dormir. Bem que o convite dela podia ter sido pra trepar também, apesar de ela não ser bem o meu tipo. Muito magrinha, parece que vai se quebrar a qualquer momento.

Eu ainda estava bem dolorido, além de cansado. Era ótimo ter conseguido dormir. Ótimo e necessário. Mas quem disse? Se por um lado eu estava morto, por outro não faltava assunto pra ocupar minha cabeça. Essa sacanagem do Lestat foi perfeita pra coroar meu dia de merda. Sério. O que me deixava otimista era a certeza, talvez infantil, de que aquele era o pior dia da minha vida e, por mais que eu me esforçasse, nunca conseguiria ter um dia tão ruim quanto aquele.

Eu também tinha que pensar em um plano. Uma estratégia pra voltar pra minha vida. Simplesmente não adiantava muito remoer o Lestat, que só ia dar raiva. O cara é matador, apesar de tudo. Você não tem raiva ou surta com um matador. Ou você vai até o fim da raiva e mata o sujeito antes de ele te matar ou deixa esse infeliz pra lá e segue sua vida.

Eu poderia ir atrás do Santo Sindicato. Será que eles ajudariam a arrumar outra moto? Eles devem ter um seguro coletivo que cobrisse isso, né? Seria mais um grande milagre deles.

Eu poderia aparecer na delegacia e dizer que fui levado de refém. Aliás, essa foi a melhor ideia que eu tive nesse dia desgraçado! Provavelmente vai ter muita conversa e intimidação, talvez uns meses de grampo e drone me vigiando, mas depois tudo volta ao normal!

Quer dizer, quase tudo. Tenho que pagar o aluguel e não tenho dinheiro pra comprar outra moto. Então, depois de ir na delegacia e resolver as paradas lá, eu vou no sindicato tentar algum tipo de ajuda. Podia fazer aquela parada antiga, de crowd founding. Pelo menos meus clientes iam ajudar. Eu acho.

Meus clientes... Vou deixá-los na mão por uns dias. Eles vão fechar com outros, será? Ai, meu Santo Sindicato, me ajuda!

Assim fui fazendo meu checklist mental. Pessoal da minha cidade, amigos da escola, colegas de trabalho... Foi então que cheguei naquela noite no Satélite.

Tinha um vereador que ia apresentar o projeto de lei pra mototáxi ser patrimônio da cidade e não poder rodar sem piloto. Não lembrava qual o nome do sujeito. Se eu tivesse com meu smart, poderia conferir o contato ou checar o registro do Satélite, mas parece que eu entrei num portal de viagem no tempo! Parece que ninguém por aqui se conecta! E olha que eu ainda estou ultrapassado nesse lance de Óculor VR. A turma daqui parece que não usa nem isso!

Tá, smart com certeza usam, nem que seja uma horinha do dia, que não tem como. Se bem que essa Snow estava lá fazendo nada que nem eu. Quando ela acordar eu pergunto se ela tem e se me empresta um pouco.

O Último Mototáxi de Arapiraca - COMPLETOTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang