#25 - O Grande Plano

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Eles pareciam ainda estar dormindo, então eu fiquei ali perto da escada, olhando o movimento. Demorou um pouco e eu vi o tal Henrique saindo do apartamento no andar de baixo, lá do outro lado do prédio. Estava com uma menina pequena, de uns cinco anos. Ele me viu, ajeitou os óculos e apontou em seguida dois dedos pros próprios olhos e depois pra mim. Recado bem dado.

E eu pensando... Eu poderia voltar pra Limoeiro e ajudar meus pais. Não sei se eles ainda estão gerenciando aquela empresa de entregas locais. Se antigamente me dava calafrios pensar no futuro, imagina agora!

Eu poderia ir pra uma indústria dessas, fazer montagens e trabalhos disfarçados de brincadeira, mas nunca me dei bem com jogos. Toda vez que vinha desafio um pouco maior ou eu ganhava alguma coisa por pontuação, sempre vinha aquela sensação de que eu estava perdendo tempo. Eu imaginava um programador do outro lado gargalhando e dizendo "caiu, seu trouxa!"

--- Então você está aí? --- A voz era de Lestat. Me virei e o vi parado diante da porta.

--- Vamos pro breakfast?

--- Já comi, obrigado.

--- Tudo bem. --- Ele fala e volta pro apartamento. Sujeito estranho. E quem não é estranho por aqui?

Resolvo me juntar a eles, de qualquer forma.

--- ...no final da tarde, quando... --- Lestat para de falar com a minha chegada. --- Talvez seja melhor falarmos disso depois do almoço, não?

--- Falando de quê?

--- Do plano pra matar o deputado. --- Vitória responde.

Os dois se olham por um tempo e Vitória continua.

--- Ele acha que você não é confiável. Não está muito errado. Você pode denunciar pro Henry e tentar ganhar alguma coisa com isso.

--- Poderia, mas não é só a honra do Lestat que tá em jogo. Esse filho da puta matou um cara do próprio partido, além do mais, acabou com o que poderia garantir o emprego da gente.

--- Os helimototaxistas... Tava bom de acabar mesmo, nome grande da porra! - Vitória ri, então completa. --- Estou brincando, claro!

--- Tudo bem. --- Lestat finalmente se posiciona. --- Vou contar pra você também o plano, mas se me trair eu volto e te mando pro inferno, nem que precise vir como uma assombração.

--- Tá, combinado.

--- Serviço de acompanhante.

--- Oi?

--- É assim que eu vou entrar na inauguração.

--- Mas quem usa isso hoje em dia?

--- Figurões sem tempo.

--- E não preferem androides pra isso?

--- Também, mas meu contato consegue burlar preferências até certo ponto, pra eu ser selecionado.

--- Essa eu queria ver: tu de acompanhante!

Ele joga os ombros como quem diz "fazer o quê?"

--- E vão deixar você entrar com arma?

--- Tudo tem jeito.

--- Tá, se está tudo garantido é um bom plano. Espero que dê certo.

--- Eu também.

--- Quanto à minha vida, amanhã vou resolver o que faço. Posso ficar por aqui mais um dia, Vitória?

--- Claro.

--- O resultado do plano de Lestat vai afetar minha decisão, entende?

--- Entendo como é.

--- Então, Lestat, você vai entrar como Luna...

--- Mary, por favor!

--- Mary?

--- Eu serei Mary Flana. Esqueça meu nome antigo, porra!

--- Tudo bem, Mary Flana vai entrar lá acompanhando algum político ou riquinho e vai matar Henry Win.

--- Tá transmitindo pra alguém?

--- Não!

--- E precisa falar o plano assim, tão explicadinho?

--- Tá, foi mal. E uma rota de fuga? Um plano de fuga, tem?

--- Eu me viro.

--- Se eu ainda tivesse minha moto...

--- Ha, ha, agora vai aceitar o papel de cúmplice? --- Então me encara sério antes de sair do apartamento. --- Eu. Me. Viro.

O Último Mototáxi de Arapiraca - COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora