- Então... Você estava mesmo atrás de mim? - Lestat pergunta.
- Fazer o quê, né? Trabalho é trabalho. Além do mais, você é um amador! Quem imaginava que eu é que seria pego?
Lestat respira fundo e olha para o lado. Esse Xakral é meio vesgo e tem um bigode bem cheio. Galego, daquele de cabelo amarelo que é quase branco. Diferente da gente. Quer dizer, eu sou mais escuro que o Lestat, mas esse cara é quase albino. Tudo bem, que importância tem isso afinal? O que importa é que o Xakral estava no banco da praça, com os braços para trás, amarrados.
- Sem ressentimentos? - Ele sugere, esboçando um sorriso.
Lestat olha pra mim com olhar atravessado e senta a mão na cara do sujeito.
- A conversa não terminou. Só termina quando eu disser.
- Está certo... - Xakral sorri, com o beiço cortado.
- Vamos por partes. Quem te contratou pra me matar?
- Ha, ha! A gente é matador, carinha! Inimigo não falta! O que é difícil ter é inimigo que se meta no caminho da gente. Geralmente pagam alguém pra fazer o serviço sujo. Mas desencana. Ética de pistoleiro: não deu, não deu. Você descobriu tudo, me pegou de jeito e acabou! O trabalho já tá cancelado.
Lestat, soltando faísca dos olhos, vai até o outro e coloca a mão em seu pescoço, enforcando.
- Ei! - Eu resolvi intervir, pra não ter que ver um assassinato a sangue frio na minha frente. Ainda bem que o Lestat parou com isso e o outro começou a tossir, recuperando o... A vida.
- Eu te fiz uma pergunta e não foi essa que você inventou pra me dar essa merda de resposta. Quem te contratou?!
- Tudo bem... Eu falo... Mas antes... Você garante... Que eu saio vivo... Tá tudo bem?
- Garanto porra nenhuma. Abre a boca que eu posso repensar no que fazer com você. Sem garantia.
- Está legal... Foi um político daqui.
- Caralho, o Bento soube. Mas não adiantou nada.
- Não, o nome dele é Henry. O colega de partido desse aí.
- Espera...
Lestat passa a mão no cabelo, pensativo.
- Pois é. Não sei como o partido soube que alguém ia matar o tal do Bento, então descobriram que era você e me contrataram pra te impedir. Como você antecipou o trabalho, acabou que virou uma vingança.
- Entendi... - Lestat para pensativo. - Você já recebeu?
- Claro que não. O dinheiro está no Neocan. Só liberam quando o cliente confirmar o serviço.
- Tudo bem.
- Olha, a gente tem uma aliança...
- Se é um pedido de casamento, é uma péssima hora e ideia.
- Ha, ha! Sério. Somos cinco matadores espalhados no país. Você podia se juntar à gente.
- Sei, aliança...
- É. Os Chacais.
- Pegue sua aliança e enfie no rabo.
- Ei, calma aí! Estou sendo cortês. Mas e então? Estamos bem? Preciso de tratamento. Tou todo fodido aqui.
Lestat faz sinal com a mão para que espere e me chama para o outro lado da praça.
- A coisa toda complicou agora.
- É, eu percebi.
- O Henry armou pra mim. Não vai me pagar, tentou me matar e ainda vai sair como herói nessa história toda.
- Herói?
- Eles eram do mesmo partido, porra! Disputa interna! Os dois brigando pra ver quem saia pra prefeito ainda no ano que vem!
- Então esse Henry contratou você e o Xakral ao mesmo tempo, tu pra matar o vereador e o Xakral pra te matar...
- Pois foi. E essa história de data provavelmente foi invenção dele pra garantir que eu fizesse o serviço antes de ser morto.
- Que filho da puta!
- Então não vou ter como resolver o lance da sua moto, pelo menos por enquanto.
- Certo, eu entendo.
- A coisa tá mais difícil agora. Como é que vai ser pra você?
- Cara, tou com fome. Meu dinheiro tava no smart, mas você achou melhor deixar pra lá... Sorte que tenho uma carteira reserva em casa.
- Você seria rastreado.
- Eu sei. Como a gente faz?
- Se quiser ir lá, simplesmente não tou com cabeça pra resolver mais nada hoje.
- É, e depois pra eu te achar de novo? Melhor você ir lá comigo.
Só depois é que pensei: "Que ideia mais idiota! Ensinar a um assassino o caminho da minha casa?"
- Certo, então deixa eu resolver a última parada daqui.
Ele aponta para o outro lado da praça e olha: o banco do Xakral está vazio.
- É, parece que se resolveu sozinho. Bora lá.
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O Último Mototáxi de Arapiraca - COMPLETO
Science FictionNovela de aventura ambientada no cenário cyberagreste Neocan, que nasceu de alguns cordéis de minha autoria: Lampião Elétrico, O Bando da Liberdade, Visita de Lampião Elétrico, Grafite Temporal, dentre outros. Esta novela estava sendo publicada sema...