Deafening.

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Já estava no jantar marcado. Eu estava de volta a aquela casa enorme com vários cômodos e várias lembranças. As luzes estavam acesas e haviam crianças nas salas. Estava tudo como antes, era como se ninguém tivesse estado lá depois da nossa família. Viveram minha madrasta, meu pai, Suna, eu e Osamu.

Após meu pai casar com a mãe de Suna, fomos obrigados a conviver juntos. Eu nunca fui simpática com ele, nunca nos demos bem, sempre foi um pé de guerra nos primeiros anos, mas depois que a nossa relação pecaminosa se iniciou, já parecia que nossos pais só se importavam com o nosso comportamento.

Caminhei em direção a sala de jantar e lá estava meu pai conversando com uma das empregadas. Ele estava com um terno, como sempre. Me aproximei dele, com um sorriso no rosto e logo ele me abraçou fortemente.

- Senti sua falta, pai.

Ditei baixinho, o apertando em meus braços.

- Eu também.

Quando desfiz do abraço, pude ver Suna saindo de um dos cômodos dos corredores. Ele estava com uma camiseta preta casual e uma calça. O olhar dele parecia cansado e sua postura não estava bem, era como se ele tivesse corrido o dia inteiro. Meu pai colocou os braços em volta do ombro de Suna.

- Ele já está um garotão, não é? Me lembro dele menor que eu.

Suna soltou uma risada, aparentemente forçada, ele ainda me encarava, isso deixou um clima estranho entre nós dois e meu pai.

Ao olhar do meu pai, ele achava que eu e Suna não nos víamos há anos, porque ele ainda acha que temos implicância um com o outro, mas não que não tenhamos, ele ainda não sabe o que acontece entre nós.

A mãe de Suna aparece na sala de jantar, beijando meu pai antes de abraçar Suna. Ela se aproximou de mim, com aquele olhar cínico que o filho dela também possuía. Ela forçou um sorriso antes de se sentar na mesa. Meu pai olhou toda aquela situação, ainda tentando processar o que havia acontecido.

Chegaram mais pessoas no local como tios, avós e primos, sempre todo mundo agindo conforme o plano, era uma tremenda falsidade. Há pouco estavam todos lutando contra si para conseguir a fortuna que o meu vô deixaria, que no final, foi tudo na conta bancária do meu pai.

Embora meu vestido não fosse tão curto, sentia bater um vento frio contra a parte de trás das minhas coxas e isso me deixava desconfortável. Sempre que eu virava o olhar, aparentemente, Suna me olhava e sempre disfarçava quando eu o olhava de volta; isso era desagradável, estávamos com um clima estranho desde o que tinha acontecido ontem a noite, não nos falamos de jeito nenhum, foram apenas trocas de olhares e sorrisos meramente forçados. A mãe de Suna estava o acompanhando, sempre que ela cruzava meu caminho, forçava um sorriso e me olhava com um olhar de nojo. Eu sempre soube que ela não gostava de mim desde o ocorrido. Ela me usou, me comprou, me calou perante os diversos atos sem noção dela, eu quem deveria a olhar daquele jeito.

Isso me fez trazer lembranças péssimas.

"Ela gritava, eram gritos carregados de desespero e decepção. Ela chorava. Ela esperneava enquanto olhava nós dois, ele em cima de mim, com um olhar aterrorizado e lágrimas saindo do seu olho direito."

Conforme eu me aproximava da mesa de jantar, pudia ouvir sussurros de outras mulheres que estavam ali, também com o cheiro de comida recém preparada. Sentei-me numa cadeira próxima da borda da mesa, tirei meu celular do bolso olhando as notificações, que estavam vazias fora os e-mails do trabalho que eu preferi ignorar. Eu pensei que por ser um jantar de família, eu estaria longe das piadinhas e sussurros desnecessários vindo da mãe de Suna.

𝐃𝐎𝐔𝐁𝐋𝐄 𝐊𝐈𝐋𝐋, 𝖲𝗎𝗇𝖺 𝖱𝗂𝗇𝗍𝖺𝗋𝗈𝗎.Where stories live. Discover now