Capítulo 5

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♪"Não acontece nada, está bem
Faria qualquer coisa para te ver"♪

Eu, Milena e Diego estávamos sentados na mesa do bar que já havia virado nossa por direito. Havia encontrado esse lugar por acaso, um ano atrás, andando pelos bairros de Henrietta num dia despreocupado, e foi amor à primeira bebida. O pequeno bar retrô era decorado por lindos pôsteres de bandas dos anos oitenta, além de lindas referências a filmes clássicos e a bonita jukebox que ainda funcionava muito bem, no fim do estabelecimento.

Aquele havia sido o bar que eu dancei em cima da mesa no auge da minha tontura, o bar que eu havia apresentado Milena a Diego e o bar que os dois haviam dado o primeiro beijo.

Aquele lugar era especial.

— Luca, eu adotei um gatinho! – Milena me contou com animação.

— Na verdade, ela me fez adotar um gatinho, já que ele está na minha casa. – Diego a corrigiu me fazendo dar uma curta risada.

— Você sabe que minha irmã é alérgica. Ele não pode ficar lá em casa, mas eu vou cuidar dele, eu prometo. – Ela disse para Diego.

— Sua irmã é mimada, isso sim. – Comentei.

— Ela é mesmo. – Milena concordou. – Mas a alergia infelizmente é verdade.

— E sabia que demos o nome ao gato em sua homenagem? – Diego perguntou e eu levantei as sobrancelhas, surpreso, mas lisonjeado.

— Ah é? Ele se chama Luca?

— Não. Ele se chama Romeu.

Fechei a cara no mesmo instante enquanto Milena e Diego riam exageradamente. Cruzei os braços e encarei meus amigos se divertindo com a zombaria que estavam fazendo de mim.

— Muito engraçado. Estou morrendo de rir. – Ironizei.

— O que é tão engraçado? – Ouvimos uma voz dizer. Viramos nossas atenções surpresos ao vermos Danilo ali. Ele puxou uma cadeira e se sentou junto a nós.

— O que faz aqui? – Perguntei. – Faz um tempo que não aparece. – Comentei me referindo ao bar que estávamos.

— Ah, eu fui demitido, acho que tenho agora tempo de sobra para vir aqui. – Ele respondeu, mas não parecia triste em nos contar aquilo, e para ser sincero, foram poucas as vezes que eu o presenciei triste.

Danilo trabalhava como vendedor numa loja de automóveis e fazia faculdade de engenharia da computação, que ele mesmo pagava, o que não era necessário já que seus pais pagariam por ele sem pensar duas vezes, como fizeram com Giovanni, mas Danilo sempre quis fazer as coisas por conta própria, pagar as coisas que desejava com seu próprio dinheiro. Ele sempre foi muito independente, mas também cabeça-dura, você poderia tentar ao máximo o ajudar, e ainda assim, ele iria recusar sua ajuda.

— Mas não se preocupem. Já estou procurado um lugar.

— Te desejo sorte. – Milena disse fazendo com que Danilo sorrisse em agradecimento.

Vimos quando Giovanni passou pela porta do bar e caminhou em nossa direção. Ele também puxou uma cadeira e logo éramos cinco ao invés de três.

— Sinceramente, estou sentindo falta de outra menina nesse nosso grupo. – Milena comentou.

— Luca poderia arrumar uma namorada. – Ouvi Danilo dizer e revirei os olhos.

— Eu conheço uma garota, Lídia. Você poderia gostar dela. – Giovanni contou e parecia que a atenção daquela mesa estava toda em cima de mim.

— Eu não quero saber de ninguém. – Me pronunciei, minha voz saindo um pouco ríspida.

— A única garota que ele quer ele não sabe nem o nome. – Diego brincou. – Viu apenas uma vez e já se tornou o amor da vida dele.

Me levantei brusco, empurrando a cadeira um pouco para trás e saindo dali. Caminhei até o balcão do bar, ouvindo as risadas dos garotos e os passos de Milena atrás de mim.

— Luca... – Ela colocou a mão em um dos meus ombros. – Ele só está brincando, não precisa ficar desse jeito. – Ela falou enquanto eu apoiava os cotovelos no balcão e suspirava cansado. – Essa garota mexe com você, não é?

— É. Ela mexe, Milena.

***

Subi no ônibus e me sentei ao lado da janela. Encarei a paisagem bonita do sol se pondo e peguei uma latinha de cerveja que havia guardado na minha mochila. Eu estava indo para o meu maldito trabalho e sabia que não deveria estar bebendo, mas algo dentro de mim, sentia que eu precisava daquele gole.

O skate, preso em minha mochila, era a única coisa que me causava uma boa sensação naquele momento. As lembranças do dia que o comprei ainda estavam frescas na minha memória. Havia economizado bastante, e me senti tão feliz quando enfim pude tê-lo comigo. Ele era meu maior companheiro.

Olhei de novo para a paisagem, bebendo mais um gole da latinha e prestando atenção nos céus. Ainda era cedo para enxergar alguma estrela, mas sorri ao me lembrar de observá-las com Julieta.

"Sabe... Desse lado da cidade dá para enxergar melhor as estrelas."

A voz dela ecoou na minha cabeça como uma música distante. Ecoou uma vez, e então mais uma e mais uma, até eu prestar atenção em cada palavra que ela proferiu naquela frase. Desse lado da cidade. Desse lado.

Era apenas uma pequena frase, talvez não significasse nada, mas eu estava carregado de ansiedade e adrenalina e quando vi, havia saído do ônibus na primeira parada.

A casa de Danilo e Giovanni era no lado sul da cidade, num bairro chamado Oliva. O único lugar que eu conseguia pensar ser do outro lado da cidade comparado a Oliva era um bairro bonito no norte de Henrietta denominado Sol de Verão. Era muito longe de onde eu estava, e mais ainda de onde eu precisava estar, mas eu peguei o skate e andei. Apenas andei com a maior velocidade que conseguia, sentindo meu coração acelerar-se.

Já era noite quando cheguei, e olhando céu, percebi que poucas estrelas eram possíveis de serem vistas dali. Algo dentro de mim dizia que aquele era o lugar certo.

Vi uma senhora caminhando com um cachorrinho caramelo pela rua e me aproximei. Ela deve ter se assustado, pois deu dois passos para trás quando parei meu skate próximo a ela.

— Você conhece uma garota, acho que ela mora por aqui, tem um cabelo castanho ondulado, é baixa, morena? – A mulher apenas negou com a cabeça, provavelmente achando que eu era algum louco ou coisa do tipo. – Okay, obrigado.

Andei mais um pouco até achar um casal conversando e perguntei o mesmo. Depois para um garoto um pouco mais novo que eu, depois para um senhor que bebia num boteco e depois para duas mulheres que conversavam numa sorveteria.

Ninguém sabia de nada, mas eu sabia o quão genéricas eram minhas descrições, queria ao menos ter algum detalhe nela que conseguisse me lembrar, como uma tatuagem, um piercing, mas nada me vinha a cabeça. Mesmo assim eu não queria desistir, quem sabe ela estaria andando por aí. Continuei procurando até dar a volta por todo o bairro e finalmente me render. Já estava tarde. Sentei-me em um dos bancos de uma praça florida que tinha por ali, sentindo o cansaço me consumir.

Peguei a última latinha que eu tinha na minha mochila e a tomei.

— Sinto falta de você, Julieta.

Então o sono tomou conta de mim e apaguei. 

🌇🌇🌇

O que será que vai acontecer daqui em diante??

Espero que tenham gostado do capítulo. Me digam aqui a opinião de vocês <3

Romeu Por Uma Noite ✔Where stories live. Discover now