Capítulo 13 - Não adianta depreciar o bem já adquirido

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Um tipo de ansiedade amarga começou a revirar o estômago de Sakusa enquanto olhava para o celular pensando se deveria ou não mandar uma mensagem ou ligar. Ele decidiu que a última opção era adequada e pressionou o botão verde no contato de Atsumu.

Com o primeiro toque, ele ouviu um som de celular tocando ao longe. Aparentemente Atsumu havia saído tão furioso a ponto de deixar o telefone para trás. Sakusa se levantou seguindo o som que parecia vir da... Lavanderia. Ele entrou lá e deu de cara com Atsumu, uma mão atendendo o celular com uma expressão confusa, a outra estendendo uma meia no varal. Sakusa se sentiu patético.

"Alguma razão especial pra você estar me ligando sendo que estamos dentro da mesma casa? E bom dia." Atsumu questionou confuso, colocando o celular de volta no bolso e voltando sua atenção para estender as roupas.

"Miya, porque diabos você está estendendo as roupas sozinho, às 8h da manhã? E bom dia." Sakusa estava enfrentando mais um momento difícil em entender os comportamentos de Miya Atsumu.

"Eu não conseguia mais dormir. Acordei, arrumei minha mala porque afinal hoje volto pra casa e ia preparar o café, mas não temos mais muitos ingredientes então teria que te perguntar se você ia querer omelete ou frutas porque não tem o suficiente pra fazer a mesma refeição pra nós dois e você gosta da sua omelete com gema bem passada e eu gosto de gema mole, então eu resolvi lavar o banheiro, porque o Kita sempre me disse que isso acalma a mente, só que dessa vez não funcionou e aí eu lembrei das roupas." - Sakusa se inclinou sobre a máquina de lavar, se acomodando para ouvir o restante do discurso - "Aí pensei que se você acordasse atrasado ou não aceitasse as escassas opções para o café, teríamos que ir ao mercado ou tomar café fora e aí as roupas ficariam aqui, úmidas dentro da máquina e no tanque, o que poderia fazer com que começassem a mofar e tem aquela camisa de linho delicada que usei na terça e com certeza foi cara e então aqui estou." Ele concluiu mais por falta de ar nos pulmões do que por ter de fato terminado de expor seus pensamentos.

Sakusa se permitiu alguns segundos de silêncio depois daquele caos e então respondeu: "Eu como as frutas, vou fazer sua omelete. Largue as roupas, terminamos de estender isso depois de comer." E se virou voltando para a cozinha, um pequeno sorriso de alívio em seu rosto. Ele estava mais feliz do que gostaria de admitir por Atsumu não ter ido embora.

*

Eles sentaram para comer se encarando em silêncio, claramente nenhum deles queria dar o braço a torcer. Atsumu não costumava se sentir tão confuso em relação aos próprios sentimentos, mas tudo em relação a Sakusa era assim, complicado.

Desde o dia em que se conheceram, Atsumu queria estar próximo dele, era uma energia magnética que aparentemente não influenciava apenas ele. Apesar de se respeitarem em quadra, fora dela era sempre difícil se aproximar, nunca parecia ser um bom momento. E mesmo no corpo dele, vivendo debaixo do mesmo teto por quase uma semana, ele sentia que constantemente voltava ao primeiro dia.

Enquanto estendiam as roupas, Sakusa recapitulava a situação caótica da noite anterior. Ele queria dizer algo. Queria explicar que não insinuou nada, que o encontro tinha sido talvez o melhor de sua vida, mas parecia que Atsumu tinha erguido uma barreira entre eles. Nenhum comentário, nenhuma brincadeira ou meio sorriso, nada. Talvez ele tivesse gasto todo o seu vocabulário no discurso minutos antes. Ou talvez ele estivesse apenas cansado. O pensamento de que não ter ido embora do apartamento não significava que ele queria estar ali se estabeleceu e provou seu ponto pouco tempo depois.

Enquanto se preparavam para sair rumo à arena de concentração bem mais cedo que o necessário, Sakusa viu Atsumu recolher algumas coisas suas que ainda estavam aqui e ali pelo apartamento, era difícil de explicar. Era quase doloroso. "Miya, você não precisa levar tudo. Tem um monte de roupas suas secando. Podemos passar aqui depois do jogo."

[SakuAtsu] Contratempo  [Troca de corpos]Onde histórias criam vida. Descubra agora