19 - Decisões

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19

– Desculpe a demora, a enfermeira levou um tempo para achar. – Diz Tony após dois minutos que tinha ido. – E precisei assinar um papel.

– Tudo bem, obrigada. – Aceno.

Eric pega a pomada da mão dele e faz um corte maior na minha calça.

– Espero que essa não seja sua calça preferida. – Ele passa a pomada no lugar onde irá precisar cortar para retirar a bala.

– Você já fez isso antes?

– Tirar bala do corpo de alguém? Não. – Ele fecha o tubo de pomada anestésica. – Mas tive treinamento para isso.

– Você trabalha com ela na polícia? – Tony pergunta a Eric, que me olha meio confuso. Tecnicamente não somos do departamento policial da ilha, mas somos do exército da liga, o que na prática significava quase a mesma coisa. Exceto pelo fato de que geralmente policiais não planejam invadir o palácio do governador.

Eric confirma a minha história olhando de relance para mim.

– Sim. Acho que somos uma boa equipe. – Ele pisca para mim, eu retribuo com uma levantada na sobrancelha direita. Tony me lança um olhar indiferente.

Eric olha no seu relógio.

– Muito bem, o anestésico já fez efeito. – Ele diz pegando o bisturi já desinfetado. – Esta pronta?

Aceno com a cabeça dizendo um sim. Tony se afasta, ele não gostava muito de ver esse tipo de coisa. Eric segura a minha coxa e corta devagar, e depois com a outra mão estica o corte.

– Pode virar o rosto se não quiser olhar. – Ele diz enquanto remexia a ferida. Desvio o olhar e avisto Tony em pé a beira do rio. Será que eu o perdi? Eu achava que poderia concertar as coisas quando voltasse, mas agora eu já não sabia mais. Eu devia ter imaginado que ele acabaria seguindo em frente sem mim.

Sinto Eric esticando a minha pele e vasculhando por dentro da minha coxa. Tento não me concentrar nisso.

– Ele é seu namorado? – Eric pergunta se referindo ao Tony. – Estou tentando puxar um papo, sei que deve estar sendo ruim sentir alguém mexendo na sua perna aberta.

– Eu não sei mais... – Nós somos amigos há muito tempo. Ele morava perto de mim, nos víamos todo dia e acabamos nos apaixonando. Acho que não sabíamos como era ficar sem o outro até que a deportação nos forçou a isso, então a saudade pode ser uma explicação plausível para ele ter me beijado namorando outra pessoa.

Namorando outra pessoa!

– Complicado... – Ele conclui como se eu não soubesse disso. – Espera um pouco aí... ACHEI! – Ele comemora puxando a bala e colocando-a em um potinho. – Acho que agora é só esperar que sua habilidade faça o resto.

– Obrigada. – Dou um sorriso fraco e ele retribui.

Penso estar vendo um lado de Eric que poucas pessoas, ou ninguém, conhecia. Na liga, quem não o conhece o vê como alguém que trabalha sozinho e que não tem tanta empatia. Mas quem eu vejo agora é alguém que se preocupa e que se importa. Talvez as pessoas não sejam sempre o que pensamos que elas sejam. Somos como rios, com uma profundidade desconhecida debaixo da superfície das águas. Algumas pessoas são lagoa, outras são poças de água no chão, mas Eric parecia ser um oceano.

Ele finaliza o trabalho, e Tony se aproxima.

– Já acabou? – Ele pergunta enfiando as mãos nos bolsos.

– Sim, estou guardando as coisas e desinfetando minhas mãos de novo. Tony, leve isso para longe daqui e jogue em algum rio. – Eric entrega o pote com a bala a ele, que rapidamente some de vista.

Os ExiladosWhere stories live. Discover now