14 - Mentiras de Papel

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– Me desculpe, mas isso não é possível Eu não tenho habilidades! – Meu coração começa a acelerar.

Ele faz uma cara pensativa e se vira para pegar uma lâmina.

– Me permite fazer uma demonstração? – Ele pergunta.

Eu aceno dizendo que sim. Ele pega o meu antebraço e faz um corte pequeno. O sangue mal chega a sair e a cicatriz começa a se fechar, até que cicatriza por completo. Lembro-me do meu braço enfaixado e começo a tirar o curativo para verificar o ferimento.

Não havia mais nada além dos pontos.

Regeneração.

– Mas como... – Balbucio pensamentos inconclusos. Olho para Mia que está na porta da sala com um semblante indiferente.

– Veja bem... – O senhor me mostra no monitor o resultado dos meus testes. – Em uma situação comum, a parte do seu corpo que é responsável por cicatrizar, curar e regenerar as células trabalha dez vezes mais rápido. Diante de uma situação de risco, elas podem trabalhar até cinquenta vezes mais rápidas. – Explica. – Seus olhos mudaram de cor devido a um processo quase súbito de desenvolvimento dessas células, que por uma espécie de "acidente" acabou causando maior concentração de lipocromos. Isso faz com que sua íris fique com uma tonalidade mais clara, como a que está agora.

– Ah...

– É realmente impressionante! – Ele diz.

Olho para o chão, confusa e estagnada ao mesmo tempo.

– Eu não entendo... Isso é possível? Eu não tinha habilidades antes.

Ele cruza os braços.

– Bem... Apesar de o RHI ter sido desenvolvido quase que subitamente num período de mais ou menos um dia, ele não surgiu do nada. E o seu corpo não apresenta nenhuma deficiência hormonal. – Ele diz analisando a tela – Estranho seria você não ter habilidades. – De fato a mulher que fez o meu teste disse que era estranho eu não tê-las.

Mia parecia tensa ainda que tentasse manter uma expressão neutra.

– Ok – Aceno para o médico. – Obrigada. – Dou um sorriso fraco.

– Imagina, o prazer é meu. – Ele sorri. – Sinto muito que só tenha descoberto agora. – Ele comenta com um semblante triste. Encaro-o e sinto uma pontada de dor no peito.

Um dia! Por causa de um dia eu não pude ficar com a minha família.

– Eu também... – Murmuro, não conseguindo esconder minha decepção.

Caminho em direção à Mia, me sentindo aliviada e triste ao mesmo tempo. Não se podia fazer nada para que eu voltasse para casa... Não depois de eu já ter pisado na ilha.

– Vamos até o seu pai. – Ela diz.

...

Subimos uns cinco degraus até chegar a uma parte um pouco mais alta do subsolo, onde havia apenas uma sala.

– Chefe. – Diz Mia, anunciando a nossa entrada. – Sua filha está aqui.

Ouço alguns sussurros atrás da porta. "Ela descobriu"

"Eu não pedi que cuidasse disso?". "Não sabia que o efeito se perderia tão depressa!".

Ouço Mia retornando à porta, depois murmurar alguma coisa inaudível. O que significava aquela conversa?

Os ExiladosWhere stories live. Discover now