Dark Percy

Capitulo 23

Pov Percy

    Normalmente a escuridão não tem mais de dez metros de altura, asas negras, um chicote feito de estrelas e uma biga sinistra puxada por cavalos vampiros. Mas essa noite, tem.

Nix é quase demais para se assimilar por inteiro. Paira pelo abismo a figura indefinida, como se feita de cinza e fumaça. Quase tão alta quanto a Atena Partenos, mas viva. Seu vestido é negro feito o vácuo, com cores de uma nebulosa espacial, como se galáxias nascessem de seu corpete. Não consigo ver seu rosto com detalhes, apenas pontos de seus olhos que brilham.

Sua biga é feita do mesmo material que a espada de Nico: ferro estígio. Puxada por dois cavalos pretos enormes com caninos afiados e prateados, suas pernas transformando em vento quando se movem.

A adrenalina que sentia a poucos segundos atrás começou a se esvair. Não sinto muita coisa, a não ser raiva. Não raiva como agora a pouco, mas raiva.

Raiva e cansaço. O esforço inconsciente da morte de Akhlys me custou energias. Acho que um copo de água ou qualquer coisa que tenha ou seja como água pode me ajudar, mas enquanto não tomo nada, acho difícil sair dessa situação.

Mas eu já vi e passei por tanto, que não sei ao certo se sinto o medo que deveria sentir. Claro, o medo é presente. Mas é uma fagulha de comparado ao fogo que é o ódio.

Do que, eu não sei ao certo. Dos deuses? Com certeza. De ter que passar por isso? Sim. Por estar em outra profecia e não ter paz? Absolutamente, sim. Mas isso já é comum. O que sinto, não é só sobre isso.

-Sombra, não! - repreendeu Nix - Calma, Trevas. Essa pequena presa não é para você.

Por um segundo, me esqueci que estou na presença de outra deusa.

Os cavalos relinchavam e bufavam reclamando sobre não poderem me comer. Não liguei tanto para isso, mas sim o fato de que Akhlys pode ter me enganado. Se os cavalos falam comigo e estão me vendo, a camuflagem não esta presente em mim, nunca esteve ou simplesmente não é muito boa.

Está mais do que claro que não posso entrar em combate contra Nix. Preciso enrolar, e então, pensar num plano.

-Hã... então não vai deixar que eles me comam? - perguntei a Nix.

Os olhos de Nix flamejaram.

-É claro que não. Não deixaria meus cavalos te devorarem, assim como não deixaria Akhlys derrotar-lhe. Você é um prêmio tão especial que me mataria se não pudesse te dar cabo eu mesma.

Posso não sentir tanto medo, porém também não sinto toda a coragem de momentos atrás. Quero dizer, o que é Akhlys se comparada à Nix? Não sei, e não estou afim de descobrir. Fora que minhas pernas mal me seguram em pé.

Mas meus instintos me dizem para continuar, ou isso terminará bem rápido.

-Ah, não se mate! - gritei - não sou assim tão assustador.

A deusa baixou o chicote.

-O quê? Não, não foi isso o que eu quis dizer... Eu...

-Ainda bem! - dei um riso talvez forçado demais - não queria te assustar.

Os cavalos que antes xingavam e repetiam frases com morte, pareciam agora confusos. Nix puxou as rédeas quando começaram a bater a cabeça negra uma na outra.

-Você sabe quem eu sou?

-Bem, acho que você é a Noite. Quer dizer, consegui reconhece-la porque é cheia de escuridão e tudo mais... - Uma ideia bem ruim veio a minha mente. Talvez me leve a morte certa, mas é a única coisa que consigo pensar no momento. E tenho um bom histórico com ideias ruins que funcionam. Só espero não ter ultrapassado a cota. - ...apesar de o folheto não falar muito sobre você.

Nix piscou, atordoada.

-Que folheto?

Tateei os bolsos fingindo procurar algo.

-Hum... acho que deixei cair em algum lugar - olhei para ela com desapontamento - bem, eu tinha um.

Os cavalos vampiros agora estavam voltando a falar muito a palavra morte. Obviamente, se referiam à mim.

-Mas enfim - continuei - acho que o folheto não dava detalhes porque você não era uma das atrações principais do tour. Vi o Rio Flegetonte, o Cócito, as arai , a clareira venenosa de Akhlys e até alguns titãs e gigantes aleatórios, mas Nix... humm, não, você não estava no programa.

-Atração principal? Programa?

Ela parece ser mais fácil de enganar do que pensei.

-É. Vim aqui para fazer uma excursão pelo Tártaro... tipo um destino exótico, sabe? O mundo inferior todo mundo ja conhece. O Monte Olimpo é uma armadilha para turistas - disse com tédio na voz - Então comprei um pacote com uma excursão ao Tártaro, e aqui estou. Mas ninguém mencionou que íamos encontrar Nix. Ah, bem, acho que não acharam que você era importante.

-Não sou importante! - ela gritou.

Nix estalou o chicote no ar de novo. Os cavalos empinaram e bateram as presas prateadas. Ondas violentas de escuridão emanaram do abismo.

Segurei o instinto de destampar Anaklusmos. Uma onda de desejo por luta passou por meu corpo quando senti a caneta pesar em meu bolso.

Olhei para o rosto enorme e escuro da deusa, ignorando ao máximo o sentimento.

-Bem, quantos outros semideuses que fizeram o tour e vieram ver você? - perguntei com ar inocente.

Nix afrouxou as rédeas.

-Nenhum. Ninguém. Isso é inaceitável!

Dei de ombros.

-Talvez seja porque você na verdade não tenha feito nada para ficar famosa. Quer dizer, entendo que Tártaro seja importante! Todo esse lugar foi nomeado em sua homenagem. Se pudesse conhecer Dia... - fiz uma pausa dramática - Seria incrível! Queria muito vê-la e, quem sabe, pedir um autógrafo.

-Dia! - Nix agarrou a lateral de sua biga, fazendo o veículo estremecer - está falando de Hémera? Ela é minha filha! A Noite é muito mais poderosa!

-Ah, gostei mais das arai - na verdade apenas a parte em que Bob aparece, mas não vou mencionar isso - até mesmo Akhlys.

-Elas também são minhas filhas!

Fingi bocejar.

-Você tem muitos filhos, hein?

-Sou a mãe de todos os terrores! - gritou Nix - das próprias Parcas! De Hécate! Da Velhice! Da Dor! Do Sono! Da morte! E de todas as maldições! Está vendo como mereço ser famosa?

Nix não me deu tempo para responder, porque estalou seu chicote no ar outra vez. A escuridão ao seu redor se intensificou. Dos dois lados da deusa surgiu um exército de sombras, mais arai de asas pretas, um velho caquético que devia ser o deus da velhice, e uma mulher jovem de toga preta que, sem dúvidas, era Éris, a deusa da discórdia. Varias figuras continuavam a aparecer: dezenas de demônios e deuses menores, cada um gerado pela Noite.

E eu querendo lutar.

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Revisado!