7. Espera! Valhala... É um hotel?!

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Ele tinha heterocromia, um dos olhos era laranja brilhante como os anéis de fogo do meu pai e meu, mas o olho era azul congelante e essa nem era a pior parte. Metade do corpo do bebê era completamente normal, belo e comum, mas outra metade dele era igual ao braço da mulher. Em um estado severo e avançado de decomposição, pele seca, uma mão e perna esqueléticas, manchas de gelo azul cobrindo a carne podre, lábios finos como uma membrana sobre dentes podres, um olho branco leitoso e tufos de cabelo ressecado como teias de aranha negra.

Essa visão me causou certo desconforto, mas não causou mais porque quando meu olhar foi em direção ao rosto da mulher, tudo mudou. Ela ergueu lentamente a cabeça em minha direção e foi então que consegui ver com clareza seu rosto.

O lado esquerdo do corpo e do rosto da mulher era dolorosamente lindo, com cerca de 25 anos de idade, com sua capa de arminho brilhando como um monte de neve ondulando ao vento. Ela tinha longos cabelos escuros e pele pálida. Entretanto, o lado direito, era aterrorizante — pele seca, uma mão e perna esqueléticas, manchas de gelo azul cobrindo a carne podre, lábios finos como uma membrana sobre dentes podres, um olho branco leitoso e tufos de cabelo ressecado como teias de aranha negra. Igual ao bebê que segurava em seus braços. Isso me fez questionar se ela não era por acaso a mãe da criança.

A mulher então me encarou fixamente, como se pudesse me ver e enxergar além da minha alma. Isso me causou calafrios. Então subitamente, ela sorriu para mim, o que ao invés de me deixar aliviada, me deixou completamente apavorada.

— Olá, Ulfhild. — Ela me chama por aquele nome, que de alguma forma me parecia familiar.

Abro meus lábios prestes a lhe dizer que estava errada e que aquele não era meu nome, mas então, a mulher e o bebê se dissolvem em uma fumaça negra e desaparecem rapidamente quanto surgiram. Então meu sonho mudou novamente.

Dessa vez, eu estava no meu quarto em Los Angeles. Eu estava sentada na minha cama macia e diante de mim havia um homem. Ele estava de costas para mim, olhando atentamente para minha prateleira de livros, alisando o dedo indicador por cada um deles. Até que ele pegou e escolheu o livro de mitologia nórdica que minha mãe havia me dado, o homem abriu o livro e se virou para mim.

— Então você se deixou ser morta por um Krampus, que interessante, Ulfhild.

O homem sorriu. Suas roupas pareciam novinhas em folha: tênis brancos reluzentes, calça jeans e camisa do Red Sox. O cabelo macio era uma mistura de ruivo, castanho e louro, despenteado de um jeito estiloso que dizia acabei de sair da cama e já estou bonito. O rosto era incrivelmente lindo. Ele poderia fazer comerciais de loção pós-barba, mas as cicatrizes arruinavam a perfeição. Pele queimada se esticava pelo nariz e bochechas, como linhas na superfície da lua. Também havia marcas ao redor da boca inteira, como buracos de piercing já cicatrizados. Mas por que alguém teria tantos piercings na boca? Isso não fazia o menor sentido.

Eu não sabia o que dizer para a alucinação cheia de cicatrizes, mas, como o nome que a mulher cadáver e ele tinham me chamado ainda ecoavam na minha cabeça, perguntei:

— Quem é Ulfhild? — Não tenho certeza se pronunciei certo.

A alucinação ergueu as sobrancelhas. Então inclinou a cabeça para trás e riu.

— Ah, gostei de você! Vamos nos divertir. Será que ainda não ficou claro? Vamos Doraalice, você pode ser melhor do que isso. Afinal não esperaria menos do meu sangue ou muito menos da minha neta. Somos família, Dora. E a família sempre foi algo sagrado para você, então concorda comigo que ela deve permanecer sempre do mesmo lado, correto? — Não entendi porque o maluco disse ser meu avô ou tampouco como sabia meu nome, mas não sei por que, minha cabeça se mexeu involuntariamente em concordância com o que ele disse. — Fico feliz que estamos nos entendendo. Você vai conhecer meu filho em breve. Até lá, um conselhinho: as aparências enganam. Não confie nos motivos dos seus companheiros. E lembre-se...— ele se esticou na minha direção e agarrou meu pulso — Eles não nós entendem, eles sempre vão nos odiar.

Things We Lost In The Fire ── 𝐌𝐀𝐆𝐍𝐔𝐒 𝐂𝐇𝐀𝐒𝐄Onde as histórias ganham vida. Descobre agora