3. Dou vida à uma espada sinistra

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Nesse momento estávamos perto da placa de Hollywood, sentados no capô da BMW preta, a qual roubei de um cara essa manhã do estacionamento de um restaurante chique qualquer tomando cuidado redobrado para não ser pega pelas câmeras de segurança.

Claro que por ali, tinha alguns turistas idiotas que viviam tirando foto por toda parte do Mount Lee. Mas decidi ignorá-los, mesmo sendo alguns brasileiros. Não estava a fim de conversar com outras pessoas que não fosse Carlos ou Júlia nessa manhã. Geralmente eu fico com um humor péssimo quando sou obrigada a acordar cedo, como hoje era o caso.

Sério, eu não entendo como as pessoas conseguem ser feliz ou positivas às seis da manhã de uma segunda feira. Segunda-feira não é dia de ser feliz, é o dia em que choramos em posição fetal, porque iniciamos mais uma semana entediante e que fará questão de demorar para o final de semana chegar. Às vezes queria ter um pouco do positivismo de Carlos e Júlia, mas acho que já aceitei e abracei completamente meu papel de pessimista-realista com traços marcantes de pura raiva e ódio do, qual me colocaram.

Dali do alto do Mount Lee dava para avistar completamente Los Angeles. As casas e os prédios pareciam tão pequenos vistos dali de cima, que chegava a brincar com meu irmão ao dizer que eles eram as casinhas das formigas. Ouvia-se claramente as buzinas altas do turbulento e estressante trânsito das ruas problemáticas da cidade, às vezes as sirenes de carros da policia e de ambulâncias também eram ouvidas, algo que realmente me fazia duvidar que aquela realmente era a cidade dos anjos, devido à alta quantidade e indicies de crimes que só subiam, em parte por culpa minha e da minha gangue.

Eu tinha um lema próprio: se o mundo é injusto com você, você deve ser um baita filha da puta com ele. E era assim que levava minha vida.

Em Los Angeles, sempre é quente. Não importa se estamos oficialmente no inverno, aqui continuava tão quente que era claro o mormaço que saia dos asfaltos que eram tão quente que você poderia facilmente cozinhar um ovo numa frigideira nele, que você sequer vai ver a diferença de um fogão. Sabe por quê? Porque eu já fiz isso uma vez e acreditem ou não, deu certo.

O calor não me incomodava, pelo contrário, eu me sentia bem com ele e muito confortável. Amava o calor de alguma forma inexplicável. E por algum mistério do destino, eu nunca me queimava. Uma vez, fiz uma aposta com o pessoal da gangue, na qual eu dizia que conseguia deixar minha mão cinco minutos no fogo e ela não queimaria, obviamente ninguém acreditou que isso era possível e apostaram muito dinheiro, acreditando que eu ia perder e que eu era insana por colocar minha mão literalmente no fogo.

Resultado: fiquei com a minha mão cinco minutos no fogo da fogueira e depois que a retirei de lá, minha pele ainda permanecia intacta. Ganhei uma bolada e diversos xingamentos dizendo que o que tinha feito era uma trapaça. Um truque barato. Mas não me importei, afinal eu tinha ganhado um bom dinheiro fácil e isso me bastava.

Meus olhos vagam pela paisagem de Los Angeles, até que eles se fixam completamente em um ponto especifico.

Cutuco Carlos, que me olha imediatamente.

— Está vendo Bel Air daqui? — Apontei em direção as gigantescas mansões e casas dos super milionários que moravam naquele bairro. Carlos apenas emite um som em concordância. — Um dia vou comprar uma daquelas mansões gigantes e vamos morar lá. Um dia serei a pessoa mais rica que essa cidade já viu. — Digo confiante deixando me levar pela minha ambição interna.

Um dia vou ter a vida regada a muito luxo que sempre quis. Penso enquanto encaro as gigantes mansões de Bel Air, com um brilho inexplicável em meus olhos.





***





Assim que deixo Carlos na escola na BMW que roubei, logo volto a dirigir rapidamente até a oficina do Bruno, que carinhosamente o chamamos de Bob, por ele nos lembrar do próprio Bob esponja calça quadrada. Sim, ele também faz parte da nossa gangue exclusiva de brasileiros, mexicanos e argentinos, que assim como eu, estavam ilegais no país.

Things We Lost In The Fire ── 𝐌𝐀𝐆𝐍𝐔𝐒 𝐂𝐇𝐀𝐒𝐄Onde as histórias ganham vida. Descobre agora