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— EU VOU EMBORA DESSA CASA! NÃO AGUENTO MAIS ESSA DROGA DE VIDA! - Gritei enquanto corria em direção ao meu quarto e logo pegando uma velha mochila, onde procurei enfiar o máximo de roupa que conseguia.

— FRANCESCA CAVIGLIA, VOLTA AQUI, VOCÊ NÃO VAI A LUGAR NENHUM! - Meu irmão mais velho gritou de volta do pé da escada, logo vindo atrás de mim, subindo os degraus de dois em dois

—Ah, não vou? - Falei com ar de deboche, cruzando os braços contra o meu peito. — E quem vai me obrigar a ficar? - Disse colocando a mochila nas costas, com toda a coragem do mundo junto à mim, pois ele é praticamente meu dobro, poderia me impedir de ir facilmente, mas Luca apenas ficou me encarando, sem acreditar que sua "irmãzinha'' havia se tornado tão temperamental. — A questão é - tornei a falar, gesticulando um pouco demais — Eu não fico nem mais um segundo de baixo do mesmo teto dessa vadia que você trouxe para casa!

— Fran, querida... - Luca tentou se acalmar, mas não adiantou porque ele seguia me olhando com gana de me enforcar. — Você está sendo injusta com a Cindy, ela é como uma mãe para você. - Senti vontade de vomitar, e meu sangue esquentar como se eu fosse explodir a qualquer momento, mais do que em qualquer outro momento da minha vida.

— NUNCA MAIS. - Gritei. Mas logo respirei fundo tentando voltar à um tom aceitável de voz. — Nunca mais mesmo, compare essa biscate com a nossa mãe, aliás que Deus à tenha!

Nossa mãe havia morrido quando eu tinha apenas dez anos e Luca tinha dezoito, nosso pai mora na Itália, até onde sabemos, então meu irmão assumiu o papel de guardião legal e provedor para a nossa pequena família. Ele herdou o restaurante da nossa mãe e fez o negócio crescer, hoje temos muito dinheiro graças ao trabalho duro dele. Nesse tempo, tudo ia bem entre nós, tínhamos uma ótima relação, mas quando eu completei quatorze anos, o imbecil do meu irmão conheceu a Cindy e viu nela a oportunidade de eu ter uma "figura materna", fazendo minha vida virar um inferno.

Freud, você me paga!

— A mamma era uma mulher digna que não precisava se aproveitar de ninguém para se dar bem na vida! Eu cansei Luca! Cansei de ver você sendo feito de idiota e também cansei dessa vadi... - Me segurei. — Mulherzinha, tentando tomar o lugar da nossa mãe, mas me tratando de qualquer jeito. Ela realmente conseguiu o que queria, eu vou embora.

Cindy observava tudo, as vezes dava até para ver um sorriso lutando para aparecer em seu rosto, mas rapidamente ela voltava a se fazer de vítima. Eu odeio ver meu irmão sendo feito de idiota, ela só queria seu dinheiro. Ali eu não ficava mais, estava cansada de tudo isso.

Já passava da meia noite e realmente não sabia para onde iria a essa hora, mas resolvi arriscar mesmo com o Luca tentando me impedir. Da mesma forma que ele é mais forte do que eu, eu sou mais rápida que ele, então tenho sucesso em fugir de casa. Caminho pelas ruas mal iluminadas do meu bairro sentindo frio e medo, com todas as pressuposições possíveis contra mim, munida apenas da adrenalina gerada por um ato impulsivo e uma mochila pesada, contendo roupa, produtos de higiene e algum dinheiro.

"Pra onde eu vou uma hora dessas? Não faço ideia, droga!" Penso quase chorando de raiva, olhando ao redor, buscando que venha magicamente uma solução para o meu problema. Me recordo de um apartamento que Luca possuía, mas fica longe, eu gastaria todo o meu dinheiro com táxi para chegar até lá.

Enquanto pensava em uma solução para o problema criado ao encontrar uma solução para o meu  problema original, passei por um grupo de garotos. Se eles não tivessem feito gracinha, eu nem perceberia os idiotas, de tão absorta em minha própria cabeça.

— Ei, garota, isso é hora da princesinha estar na rua? - um deles perguntou e eu me arrepiei de medo, segui andando o mais rápido possível, mas podia ver que eles estavam me seguindo.