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Charles Roy Donnavan

Não acho necessário destacar a minha surpresa ao notar a presença de meu velho, enquanto eu estava beijando James. Mas negar que meu sangue gelou em minhas veias, era hipocrisia. 

A minha saída do armário já estava planejada, mas não daquele jeito. Nunca daquele jeito.

Meu namorado semi bêbado, meu pai furioso e indignada, eu quase sendo deserdado, mas com certeza e por completo excomungado. Resumindo, uma verdadeira confusão, com direito a sair nas capas de revistas e sites de fofocas.

Titulo como: "Donnavan saindo do armário"; "Festa, musica, bebida e gay"; "Charles Roy Donnavan: novo membro da comunidade LGBTQIA+" eram os mais populares após a festa da minha irmã. Creio que os advogados do meu pai nunca tiveram que trabalhar tanto quanto nessa semana.

Na faculdade sempre tinha alguém de olho em mim, o que não era novidade, mas o motivo era. Não estava acostumado com isso, claro que houve provocações, mas nada que eu não conseguisse dar conta. 

Por muitíssima sorte, o fato de eu estar em uma relação homo afetiva foi a unica a ser vazada, deixando James na sombra disso. Isso foi a unica coisa que eu pedi, não me opus de ser jogado aos leões, as provocações, piadinhas, nada. Nenhum pio. 

No trabalho, depois de um discurso/puxão de orelha vindo do chefe do hospital, ninguém mexeu comigo, ninguém me desrespeitou.

Já em casa, apesar das coisas estarem melhores do que eu achei que estaria, voltava sempre cansado, parecias que minhas forças iam sendo sugadas a cada paço eu dava no dia, a cada olhada que me davam, a cada sussurro. Incomodava, claro que incomodava. Mas nada que dormir abraçadinho a James.

James estava me dando um puta apoio. Sempre que sentia que eu precisava, ele estava lá. Não chegamos a conversar, parecia que ele sabia exatamente o que eu estava pensando, e acho que ele realmente. Já passou em minha cabeça que ele esta sendo a base que não teve, o apoio que não estava ali para ele. 

E nesse exato momento, estou ao lado de um James sonolento, que acabara de voltar do trabalho cansativo do bar. Seu cabelo ainda úmido do banho. Deitado de barriga para baixo, usando apenas uma cueca samba cansão, provavelmente minha, seus braços circulavam minha cintura, sua cabeça esta apoiada em meu adomem.  Estava praticamente ronronando enquanto eu fazia carinho em seu cabelo, e círculos com as pontas dos meus dedos em suas costas desnudas.

Estaríamos em completo silencio se não fosse por uma musica que James tinha posto antes de deitar. E ficaríamos assim se não fosse nosso melhor amigo enxerido que vivia invadindo nosso apartamento, que como já citado, invadiu nosso apartamento.

- Cheguei casal lindo. - Falou atirando-se na cama em que eu e James dividíamos todas as noites.

Rolei os olhos.

- Não revire os olhos Chaz, o seu namoro com JJ é novo e eu me metendo na vida de vocês é antigo. Já deveria estar acostumado, baby. - Falou deitado na cama, apoiando a cabeça na bunda do meu namorado, que nem ao menos protestou.

- A bunda do meu namorado não é travesseiro não, viu. - Reclamei, e em reposta Kai revirou os olhos para mim.

- Vocês dois parem de brigar. Quero dormir, porra. - Murmurou irritado, sua voz causou cocegas  em minha barriga, o que me fez sorrir. 

Não contrariei meu namorado, pelo contrário, fiz exatamente o que ele pediu, fiquei em silencio, ainda fazendo carinho nele. Não sei ao certo quanto tempo ficamos assim, apenas em silencio. Quando dei por mim, James já estava dormindo, soltando uma respiração pesada. Kai, dormia abraçado a cintura do meu namorado, o que me fez revirar os olhos. Apaguei as luzes do quarto, com certa dificuldade, mas consegui. 

Não custei a dormir.

Já na manha  seguinte, ainda estávamos nós três na cama, James dormia ainda, Kai esta acordado porem não tinha levantado, mexia no celular despreocupado.

- Bom dia. - Murmurou com a voz sonolenta.

- Bom dia. - Murmurei de volta, minha voz saiu mais rouca e lenta que o normal. - Kai... que raios você veio fazer aqui?

- Queria saber como vocês estão, estava passando por aqui e então entrei. - Falou dando de ombro. - Estou com medo de ser um bom pai... - Murmurou ainda mais baixo que antes. 

- Por que isso agora?

- Não sei, estive pensando... quero ser um pai tão bom quanto o meu.

- Apenas não seja como o meu, você vai ser um otimo pai.

- Cara... o seu é um puta idiota. - Falou, Kai sempre odiou o meu pai. Sempre.

- Eu sei. - Falei olhando para nenhum lugar especifico. 

- Não deu nem duas da tarde e vocês já estão com um papo triste desse? Vocês precisam de terapia. - Murmurou um James sonolento. 

- Bom dia meu amor. - Falei dando um beijo em sua testa, e abraçando seu tronco.

- Bom dia baby. - Falou sorridente e me puxando para fica em cima de si, e ali fiquei, ganhando cafuné. 

- Ahhh, vocês são tão lindinho juntos. Sempre soube. - Falou Kai olhando para a gente sorridente.

- Vai a merda. - Falei irritado. 

- Jamais.

One love, two mouths. One love, one houseOnde histórias criam vida. Descubra agora