— Parece que você vai ter que dividi-lo com a gente — digo.

— Ainda bem que tem Kyle para todo mundo — ele diz com um sorriso convencido. — Mas meu peito está um arco-íris. Todos os tons de roxo, verde, vermelho, amarelo, isso pra não mencionar o quanto está dolorido — fala enquanto levanta a camiseta e mostra o hematoma grande. — Levei um tiro, e estávamos indo explodir aquela muralha para resgatar você. Como se sente sendo a pessoa mais importante de Gaia?

E de repente o clima fica pesado, não queria que a Anna sentisse que é menos importante do que qualquer um de nós.

Sorrio sem graça.

Lucas e Sarah também mostram desconforto. E, apesar de a Anna parecer não se abalar com isso, tenho certeza que ela não está indiferente.

— Tudo pela princesa-quase-rainha-de-Gaia, não é? — Gi diz tentando aliviar a tensão que o comentário do Kyle gerou. Ele não parece ter feito de propósito, vejo que só agora olha para a Anna e a cumprimenta.

— Vocês me dão licença? — Anna pergunta. — Preciso de um pouco de café.

— Porta à esquerda no fundo do corredor — Kyle diz.

— Eu vou com você — falo para a Anna.

Olho para o Lucas que tem a culpa estampada no rosto dele, e dá a entender que também quer ir falar com ela, mas faço um gesto para ele ficar.

Andamos em silêncio até o lugar indicado pelo Kyle.

Assim como nas outras salas e corredores, parece que interromperam as obras neste bunker antes de serem concluídas. Não há pinturas nem acabamentos. E os poucos móveis de madeira que sobraram, estão muito desgastados ou completamente inúteis.

Atravessamos o que parece que seria o refeitório e passamos por algumas pessoas espalhadas que nos cumprimentam de forma educada. Depois de pegarmos cada uma um copo e enchê-los com água da torneira, vamos para um canto mais reservado.

— Obrigada, Emily — Anna diz. — Mas eu estou bem com isso.

— O Lucas quis ir atrás de você — digo de forma direta. — Assim como eu e a Sarah. A Violet, irmã do Thomas, pegou as pessoas que atacaram vocês naquela noite e descobriu que você tinha sido enviada para a Matriz e entregue para o Gabriel. — Ela dá um gole devagar enquanto me escuta sem dizer nada. — Nós sabíamos que ele não a machucaria por você ser importante para nós, e estávamos esperando a oportunidade certa para resgatá-la. — Ela continua em silêncio, obrigando-me a continuar: — O Lucas nunca se perdoo por ter pedido esse favor a você, ele...

— Sério, Emily. Eu estou realmente bem com isso — ela me interrompe, tentando mostrar que não se importa. — Você é a cara da Resistência, namorada do Príncipe, claro que eles tinham que fazer de tudo para trazer você de volta. Além disso... — ela para enquanto coloca o copo vazio em cima da mesa de madeira quebrada encostada no canto, mas não dá sinal de que vai continuar.

— O que? — pergunto, curiosa.

— Não é fácil falar sobre isso com você...

— Não tem problema, Anna, acho que já passamos dessa fase há algum tempo — digo com a certeza de que ela vai falar do Lucas gora.

— Eu já estava decidida a esquecer o Lucas. Pensei tanto sobre isso nos últimos dias, e a culpa de insistir em um sentimento que nunca foi nem seria recíproco sempre foi só minha. Não vou negar que vacilei quando você falou que estava com o Nathaniel, mas foi só por um momento. E você nem precisa me dizer que o Lucas e a Sarah estão juntos, eu já entendi tudo.

A Resistência | Coroa em Chamas (Livro 3)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora