A Grã-Rainha Perdida

capítulo cinco

Nestha era a pessoa mais azarada do mundo. 

Se já não bastasse ter sua vida virada de cabeça para baixo, ela agora era obrigada a treinar todas as tardes. Aquele discurso de que ela devia obedecer as leis que "Rhysand Cunhado Perfeito" ordenava estava longe de acontecer. 

Ela queria ficar sozinha, não importava se ela fosse morrer de tanto beber, ela não se importava. O último ano a tornou uma vazia sem emoções, como se tivesse perdido a humanidade. 

Talvez a felicidade fosse apenas para alguns e Nestha Archeron não era merecedora dessa dádiva. 

Desde o solstício, todas as noites, Cassian a chamava para jantar e eventualmente a mesma aceitava. Seus dias se resumiam a trabalhar na biblioteca e treinar com ilyriano irritante. Por mais que tentassem, nenhum deles iria entender o que ela passava. Por anos desprezou a irmã mais nova, Feyre e ao mesmo tempo não conseguiu salvar Elain do destino que restou a elas. Seu pai havia dado sua vida no fim da guerra e sua última lembrança era a de uma filha ingrata que durante a pobreza só sabia reclamar. 

Ela não era a jovem aristocrata de antes, onde todos os rapazes importantes do reino estavam ajoelhados aos seus pés. Já não era a mesma garota que morou na cabana quando a carência atacou a família Archeron.

Nestha não sabia quem ela era. Ela não sabia se alguém precisava dela, ou se sentiriam a sua falta se um dia partisse. Mas ela estava vazia, e sentia que ia desabar.

Feyre já havia feito de tudo que estava a seu alcance, ela amava a irmã, e doía vê-la daquela forma. Em períodos anteriores, ela havia sido quebrada, mas aos poucos reconstruiu cada parte do seu coração, e no fundo ela sabia que Nestha queria o mesmo. Mas a mais velha era orgulhosa demais para admitir em voz alta.

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Quando crianças, acordamos ansiosos para o passeio escolar, a roupa está perfeitamente alinhada, a mochila completa. Mas quando estamos falando sobre fazer atividades físicas assim que o sol levanta, a ansiedade vai embora e tudo que precisamos é de um bom cochilo de manhã. 

Mas para Cassian, a conversa de "só mais cinco minutos" não funcionou. Assim que o sol nasceu, o mesmo estava na porta do quarto de Evalin a chamando para o treino. É obvio que a garota não estava pronta, quem acorda com pique às 04:00 da manhã?

A única coisa que a garota sabia é que não estaria sozinha no tal treino. A irmã mais velha de Feyre também estaria lá, e quando questionou sobre a mesma, pôde perceber que Nestha era  um assunto extremamente controverso. Alguns gostavam, outros odiavam, mas Evalin escolheu tirar suas próprias conclusões. 

‒ Você deve ser Nestha, eu presumo ‒ Evalin cumprimentou a moça loira à sua frente 

‒ Sou, e você seria? ‒ a mais velha perguntou, a postura era arrogante, mas seu tom demonstrava que era tudo uma farsa, ela estava com medo

‒ Me chamo Evalin ‒ a garota estendeu a mão  ‒ Como pode perceber eu sou humana e não pareço estar muito empolgada com esse treino tanto quanto você. Talvez se fizermos birra o general arrogante nos libere mais cedo. 

‒ Sabe, se continuar nesse tom , é capaz dele desistir de te dar aula ‒ Nestha falou ‒ Talvez ter aulas com você não seja tão maçante afinal. ‒ Nestha havia sorrido, não sabia a quanto tempo ela não fazia isso, já que a mulher à sua frente se surpreendeu quando isso aconteceu. 

O treino se estendeu, e as duas participaram, mesmo que a contragosto, haviam se divertido juntas. Nestha não era uma megera sem coração, e o treino não havia sido tão desconcertante quando a irmã Archeron afirmava até dias atrás. 

‒ Se estiver entediada pode fazer uma visita à biblioteca esta tarde ‒ Nestha disse ‒ Você não foi uma companhia tão ruim assim Evalin ‒ ela confessou.

Era notório o brilho nos olhos de Cassian, ele lembraria de agradecer depois, Evalin era uma santa milagreira, afinal em um dia, não só havia convencido Nestha a participar do treino, como aos poucos estava quebrando os muros que a mesma insistia em construir ao redor de si. 

Pessoas quebradas magoam pessoas incríveis, mesmo que não tenham essa intenção.