Os olhos verdes arregalados demonstravam um misto de confusão, surpresa e incredulidade. A testa levemente franzida também dá lugar pra expressão. É como se tivesse acabado de contar que assassinou uma pessoa. Layla Bryant é definitivamente a pessoa mais expressiva que a garota já conheceu na vida.
- Deixa eu ver se eu entendi - A morena ajeita a postura e entrelaça os dedos das mãos, como se estivesse numa mesa de julgamento. - Você transou com o seu melhor amigo e minutos depois de ele ter te comido igual um frango assado, ele beijou a sua irmã que é menor de idade?
- Céus, como você é exagerada. - Blair caminha até a frente do microondas, no qual abaixa um pouco a cabeça e fita o pacote de pipoca que estoura os milhos.
- O Vinnie tem vinte e três anos, Blair. - Diz ainda com os olhos arregalados.
- Eu também estou com vontade de estrangula-lo por isso. A Chloe não para de falar dele um minuto. - A garota leva os dedos até as laterais de sua cabeça e massageia suas têmporas.
Layla abre a boca para responder, mas o apito do microondas sinaliza que a pipoca está pronta. Mesmo com alguns milhos ainda estourando dentro do saco, Blair abre o pacote e deixa que o aroma de manteiga se alastre por toda a cozinha. O estômago da garota ronca. Não tomou café e não teve um almoço arregado. Nada de muito estranho num dia de domingo, onde acordou tarde e pretendia continuar dormindo se a dona do par de olhos verdes não batesse em sua porta.
- Isso é demais pra mim. - A morena desabafa enquanto abre a geladeira e pega nas mãos uma garrafa de refrigerante. Em seguida, também carrega dois copos grandes de um festival que a Weeks havia ido há algum tempo.
As duas garotas andam até a sala e se aconchegam no sofá-cama. A loira liga a TV e coloca na Netflix, dedilhando pelos botões e passando os filmes aleatoriamente. Enquanto isso, Layla enche o copo das duas com Coca-Cola.
- E você gostou? - Tenta puxar assunto.
Com isso, flashes daquela noite voltam em sua cabeça e sem perceber, seus dentes estão fincados nos lábios com um sorriso. As lembranças das mãos de Vinnie deslizando pelo seu corpo, enforcando seu pescoço e sua língua traçando uma viagem perfeita em suas curvas abalam completamente todas as suas estruturas. Se não tivesse tentando se concentrar em achar um filme, teria certeza que sua calcinha já estava encharcada.
- Jesus, que chá que ele te deu, hein. - A morena fala, encarando o rosto da amiga e ela revira os olhos, dando risada.
- Eu que dei.
As duas se entreolham e dão um gritinho fino, fazendo um toque de mãos demorado, como se já fosse uma certa tradição.
- Ainda não me respondeu - Layla insiste, cruzando os braços. - Foi bom?
- Foi bom demais! - As costas da garota batem no encosto do sofá, onde ela fecha os olhos com um sorriso cafajeste no rosto. - Ele faz absolutamente tudo bem demais.
- Jesus...- Bryant encara o rosto da amiga, que está com a expressão levemente excitada, possivelmente lembrando da tal noite. - Vamos logo escolher algo pra assistir antes que você toque uma siririca do meu lado.
A loira gargalha e concorda com a cabeça. Layla pega o controle de sua mão e desliza aleatoriamente para escolher algo. Enquanto isso, a mente de Blair só se fixa em um lugar.
É como se até mesmo o cheiro daqueles lençóis ainda estivessem impregnados em suas roupas. As besteiras que ele repetia em seu ouvido soam em sua cabeça como o toque repetitivo do sino de uma igreja local. Não é como se tivesse mexido com seus sentimentos ou merdas do tipo, mas ninguém havia a tocado tão bem. Acha que pelo fato de a conhecer mais do que qualquer pessoa, tinha lhe proporcionado a melhor foda da sua vida. O sabor de desejo ainda reside em sua língua e nem mesmo litros de refrigerante eram capaz de tirar.
A garota decide se livrar daqueles pensamentos e focar na série que, agora, sua amiga havia dado play. O nome da mesma é Outer Banks e pela sinopse, havia as interessado bastante.
Horas se passaram e a noite havia chegado. Nem tinham percebido quanto tempo estavam presas à aquela série. Ainda nem tinham terminado. Mas, há tempos, a pipoca e o refrigerante já evaporaram.
- Por que Deus não coloca um homem igual o JJ na minha vida? - Layla choraminga.
- Precisando de terapia? - A loira debocha. - Prefiro o Pope.
- Até parece que gosta de garotos certinhos. - A encara de braços cruzados.
- Quem gosta de bad boy além de adolescentes, Layla?
- Tecnicamente, o Vinnie é um bad boy.
- O Vinnie é meu melhor amigo - Weeks se levanta do sofá com o balde de pipoca vazio nas mãos.
- Que fuma maconha, transa com todo mundo, é cobiçado pelas garotas e adora fazer uma merda. - Agora, quem fica de pé com os copos nas mãos é Layla.
- Ainda sim, o meu melhor amigo. - Diz caminhando para a cozinha e sendo seguida pela morena. - Não gosto que fale assim dele.
- As coisas que ele faz não é segredo pra ninguém, Blair. Você sabe.
Aquele assunto a faz suspirar.
- Que ele já fez, Layla. As pessoas amadurecem e não cometem os mesmos erros - Ela se vira. - Chega de falar disso, certo?
Bryant levanta as mãos em sinal de rendição e vira as costas, saindo dali para voltar pra sala. Aquele curto diálogo faz com que uma fraca dor de cabeça atinja a loira.
Sim, não é segredo pra ninguém as coisas que seu melhor amigo já fez, mas as pessoas mudam. Quando se é jovem, tem o pensamento que precisa viver a vida de forma intensa e acaba fazendo coisas que não são necessárias. Na adolescência todo mundo cria uma falsa ideia de diversão. Seja devido à solidão, ansiedade, curiosidade ou só interesse. Mas só percebem o quão errado é a devoção pelo perigo quando a merda já está no pescoço.
Mas as pessoas mudam, certo?
É o que Blair prefere pensar. Desde que presenciou a overdose de Vinnie, ela o ajudou até quando pode e o fez frequentar uma clínica de reabilitação. Depois de tanta luta, finalmente ele estava em paz. Preferia pensar que álcool e cigarro eram só passa-tempos. Mas não, ele nunca voltaria à usar cocaína.
Seus cabelos loiros balançam conforme ela chacoalha a cabeça, tentando tirar isso de sua mente. Tudo está diferente e não há motivos para voltar ao passado.
Ela espera assim, desde então.
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