Capítulo 3 - Elle

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Sherlock e John voltaram para o 221B da Rua Baker onde encontraram a desconhecida conversando com a senhora Hudson na cozinha. Havia duas xícaras de chá e alguns scones com geleia de morango sobre a mesa, além de uma folha de papel retangular branca.

— Olá meninos — cumprimentou a idosa. — Estou ajudando Elle a anotar o que se lembra.

— Você lembrou seu nome? — perguntou John sorrindo animado.

O médico estava satisfeito por perceber que a tonalidade branca da pele dela havia adquirido uma aparência mais saudável. Seu medo era de que a mulher tivesse perdido muito sangue.

— Na verdade não... — Ela olhou para ele lamentando tê-lo decepcionado. — Mas eu precisava de um, não é? É um pronome pessoal em francês e ao mesmo tempo me pareceu adequado o suficiente para ser um nome.

— Você fala o idioma? — John franziu as sobrancelhas exibindo sua curiosidade.

— Não tenho certeza, na verdade nem sei por que isso me ocorreu quando a senhora Hudson perguntou se eu não tinha mesmo nenhuma lembrança de onde vim e sugeriu que posso ser de outro país.

Ele acenou em afirmativa com a cabeça.

— Sherlock estava certo sobre eu ser canhota. — Elle mostrou a caneta na mão esquerda. — Não consigo nem segurar direto usando a outra mão.

John tocou a folha de papel com dois dedos e virou de frente para ele vendo o que a mulher havia anotado.

— Você tem um corte no braço, não tem? — O médico voltou a atenção para ela.

— Como você sabe? — Elle arregaçou a manga direita da blusa floral de babados emprestada pela senhora Hudson até o ombro para que ele pudesse ver.

Sherlock ficou de pé atrás da cliente para também ver o corte.

— Nós encontramos o lugar de onde você saiu — respondeu o detetive. — O buraco no alambrado tinha fibras de tecido do seu casaco e sangue.

Se aproximando um pouco mais sem deixá-la perceber, ele inspirou profundamente para sentir o aroma que vinha dela. John notou, mas acompanhou o comportamento inapropriado do amigo apenas revirando os olhos.

— Isso são marcas de amarras. — Sherlock apontou para o pulso direito da mulher. — Posso ver o outro?

Elle levantou a manga esquerda até o cotovelo. As mesmas marcas estavam naquele pulso, mas o que chamou a atenção dos três foram as inúmeras cicatrizes por picada de agulha espalhadas pelo membro.

— Eu também tenho essas marcas de amarra nos tornozelos — disse Elle quebrando o silêncio enquanto coçava a nuca.

— Me deixa ver — pediu Sherlock olhando na direção dos pés descalços da mulher.

Ela não precisou erguer as pernas da calça, pois a peça tinha realmente ficado curta por conta da sua altura. Seus tornozelos estavam completamente expostos.

— São parecidas, mas essas te machucaram mais. — Ele se abaixou na frente dela.

— Eu vou buscar o antisséptico para esse corte no seu braço — comentou John indo atrás do kit de primeiros socorros novamente.

— Parece que eu fiquei amarrada a alguma coisa e puxei para me soltar... — A mulher sentiu a coceira próximo à nuca de novo.

— Isso. — Sherlock ficou de pé esbarrando em John que voltava com os curativos.

Ele tocou o ombro do amigo e pediu desculpas silenciosas antes de sair em direção à estante de livros na sala e selecionar alguns mapas para analisar. Elle se coçou mais uma vez.

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