II - "Jesus came and stole the dinosaurs"

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Elowen

Ninguém havia sido consultado sobre aquilo, era possível enxergar nos rostos dos presentes.

Elowen estava acostumada a lidar com as decisões esdrúxulas de Aerion, tomadas de última hora e com muito pouco planejamento. E não era difícil chegar a um acordo onde o que ele queria e o que era necessário estivessem alinhados. A mãe dele era outra história.

O banquete em honra da avó de Aerion já tinha tido início por quase uma hora. Era uma senhora idosa, cuja morte não fora nenhuma surpresa. Loreza de Dorne tinha dado à luz cinco filhos que viveram até a idade adulta. Rhaegar, que conseguiu a façanha de morrer caindo de seu dragão e batendo a cabeça depois de ter três filhos; Rhaelle, que estava muito bem nas Ilhas de Ferro; Valena, que tinha se casado com Baelor, seu primo, e se tornado rainha; Daenerys, que tinha se perdido no mar estreito e fora encontrada apenas anos depois; e Viserys, que viera quando ela já era uma mulher velha, e cujo nascimento saudável beirava o milagre.

A cerimônia funerária no Grande Septo de Baelor, na Colina de Visenya, fora relativamente rápida se comparada ao tempo que algumas pessoas tinham passado velando a mulher. A saída do velório era quase um evento social, mas assim era com qualquer grande evento, religioso ou não, e portanto, o percurso do septo até a Fortaleza Vermelha foi lento. Entre cavalos, liteiras e carruagens, a corte era um organismo vivo.

Aquele era apenas o primeiro evento, entretanto. A tradição pedia que se cremasse Loreza, e isso aconteceria depois do banquete.

Elowen tinha um lugar no estrado junto à família real, mas essa não era uma honra concedida às outras mulheres do harém, nem mesmo àquelas que possuíam filhos. Não era, entretanto, uma marca de predileção. No início daquele ano, Aemon, o primo e atual herdeiro de Aerion, abrira mão de sua posição como Mão do Rei. Conforme a política se tornava mais complicada, ele preferira se remover do cenário, talvez pressentindo algum desastre. A Mão do Rei tinha a permissão de falar pelo rei, de aplicar a justiça e de usar da autoridade do rei, um cargo cedido a grandes senhores que gozassem da confiança da coroa. E Aerion o oferecera a ela. Seu lugar no estrado era consequência de seu novo status.

Ela teve de lidar com o desgosto dos Sete Reinos ao aceitar a oportunidade. Para os homens que, em tese, estariam aptos ao cargo, colocar uma mulher para ocupá-lo era similar a nomear a um cavalo Mão do Rei. Talvez eles estivessem mais receptivos ao cavalo.

Normalmente o salão estaria em polvorosa após uma notícia como aquela, mas haviam apenas sussurros. A Rainha Mãe não costumava tomar decisões precipitadas, o que levava as pessoas a se perguntarem se o anúncio tinha sido feito no momento errado. Mas Elowen era a segunda no comando e precisou impedir o desespero de se mostrar por completo em seus olhos azuis ou na palidez de seu rosto, porque nada daquilo tinha passado por ela, e Aerion saberia melhor do que anunciar o próprio casamento sem ao menos informá-la disso para que pudesse lidar com as consequências.

Aerion apenas sorriu e acenou, mas ela podia ver a rigidez da expressão dele. Também não tinha sido consultado sobre aquilo, entretanto, sabia melhor do que contrariar sua mãe. Um anúncio público era um ultimato. Teremos enfim uma rainha. Mas ela confessava pensar que Valeryon Velaryon, que já tinha um filho homem com Aerion, seria uma opção melhor do que Daenerys, uma tia ligeiramente mais nova do que Aerion com nenhuma intenção de se casar e que não fazia parte do harém.

— Meu filho se casará com Daenerys — anunciara Valena, mãe de Aerion, para o salão inteiro, sorrindo em direção a Daenerys, que parecia pronta para assassinar a mulher com a faca mais próxima. — Será, é claro, uma bela união, com a bênção dos deuses. Depois de muito tempo, uma decisão foi tomada.

A Arcada das Donzelas - Apply fic (Concluída)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora