-Que eu saiba estamos em pleno século XXI e as pessoas têm liberdade para fazerem o que quiserem. Se não querias vir, não vinhas. Mas, já que vieste, acho que devias fazer com que isto resulte, ou tu não queres ficar melhor?-nem sei bem o que responder. Nunca pensei que ele mudasse tanto de expressão de um segundo para outro. -Bom, fazemos assim, eu falo um pouco de mim para quebrar o gelo,. Talvez ganhes confiança em mim depois. -aceno com a cabeça. Não me parece que vá resultar, mas até estou curiosa para saber mais sobre ele. Já me doem as costas e encosto-me à parte de trás do sofá com as pernas cruzadas e brinco com os meus dedos, esperando que ele comece.

-A minha irmã quando tinha a tua idade mostrava comportamentos depressivos. Ela não estava bem, sabes? Naquela altura, eu não sabia o que queria seguir na faculdade. Ela foi um incentivo para que eu seguisse psicologia. Formei-me há pouco tempo. Não tenho muita experiência com isto. Por isso, acho que vou aprender contigo. -ele sorri. Sorrio apenas com os lábios e baixo novamente o olhar. Ele decide continuar. –Hoje de manhã, pediram-me para ser teu psicólogo e cá estou eu. Ela disse que não estavas bem e que precisavas mesmo de ajuda. –ele volta a sorrir. As minhas costas desencostam-se do sofá com brutalidade e as minhas pernas descruzam-se num ápice.

-O quê que a Mia te contou sobre mim?-pergunto com as sobrancelhas erguidas e a testa enrugada. Não me reconheci ao perceber que o tratei por tu. A verdade é que faz mais sentido que assim seja. Talvez seja mal educado da minha parte, mas, por amor de Deus, são só três anos!

-Calma! Presumo que estejas a falar da rapariga morena que veio marcar as tuas sessões. -aceno com a cabeça- Ela só me disse que os teus avós tinham morrido há mais ou menos sete meses e que os teus pais se tinham divorciado há cinco meses. -suspiro de alívio. Pelo menos, não contou o resto.- Acredita em mim, ela estava mesmo preocupada contigo. Sente que te estás a destruir. -ele coloca a sua mão num dos meus joelhos. O meu olhar fixa-se na sua mão automaticamente. -Ouve, Beatrice, eu estou aqui para ajudar, foi para isto que eu nasci. Por favor, fala-me de ti. -ele pede, olhando-me nos olhos fixamente. Não suporto a pressão e obrigo-me a desviar o olhar novamente. Ele retira a mão rapidamente. –As tuas sessões têm uma hora e meia cada uma e, para já são às sextas à mesma hora.

-Para já?-pergunto, erguendo uma sobrancelha.

-Sim, depois, não sei se não precisarás de ter mais que uma sessão por semana. -ele esclarece. Rolo os olhos e deixo um suspiro pesado escapar da minha boca.

Minutos de silêncio se passaram. O meu olhar fixa-se agora na prateleira cheia de livros e no rádio. Para quê que ele usa isto? Será que se põe a ler histórias aos pacientes como as crianças do infantário? Ou será que põe aquelas músicas irritantemente calmas para “relaxar”, fazer yoga ou coisa assim? Eu nunca estive numa situação destas. Sempre encontrei o escape para os meus problemas. A única coisa que sei fazer é ficar calada a olhar para o que se encontra nesta pequena sala e é o melhor a fazer.

-Gostas de ler?-ele decide quebrar o silêncio que reina dentro destas quatro paredes. Ergo uma sobrancelha com a sua pergunta, mas rapidamente lhe aceno com a cabeça. - Eu também. –aceno com a cabeça novamente. Continuo a brincar com os meus dedos. Acho que esta pergunta foi para ver se ele ganha a minha confiança. Não sei s algum dia lhe contarei alguma coisa sobre mim. Eu não sou de contar os meus segredos a torto e a direito. Eu só os conto à Mia e já lá vão mais de quinze anos de amizade. Este rapaz é um simples estranho. Eu nem sei o nome dele. E, sinceramente, nem lhe quero perguntar. Ou melhor, não tenho coragem, ainda.

A verdade é que eu quero que isto tudo acabe. Eu quero parar de me sentir um lixo. Eu quero parar de me auto destruir. Eu estou farta da minha vida. Estou farta. Mas, não é assim que eu queria que as coisas acontecessem. Eu não me sinto à vontade a falar sobre os meus problemas com este estranho.

Sweet Escape || Dylan O'BrienWhere stories live. Discover now