Alma de Gelo

Briga

O golpe veio, acertou a barriga de Blya com força, a jovem se contorceu em busca de ar, o caos foi apagado ao seu redor e tudo pareceu distante, somente a dor estava presente em seu mundo.

Ela foi golpeada repetidas vezes.

Uma, duas, três vezes...Barriga e peito, Blyana usou suas mãos para amenizar o impacto, mas ainda era forte, não aguentava, ela não tinha fôlego pra pedir ajuda, ou para pedir pra parar.

O tempo corria lento e dolorido.

Em sua vista embaçada encontrou sua "mãe" rasgando a carta com raiva e queimando na lareira, os lindos cristais azuis de seus olhos transbordando ódio, Sorin chorava horrores, já estava com seus cachos vermelhos grudados no rosto de tanto esfregar e estava desmanchado no corpo de Drian, que pelo contrário do irmão ria de forma gloriosa.

O pequeno Henry a olhava, aqueles olhos azuis brilhando, perturbado, perdido no colo de sua mãe enquanto seu pai a batia, sem fim.

Tudo estava tão detalhado agora para ela.

Isso a assustou.

A jovem tentou pedir misericórdia com os olhos, a prata no verde dos olhos do pai, mas só tinha sadismo naquele abismo de esmeralda, exatamente igual aos de Drian.

Blyana sentia que morreria se ele não parasse, sangue saia de sua boca aos poucos até o chão, seus olhos encararam a parede em busca da janela, olhou para o além, o céu estrelado.

Olhando ao horizonte.

- Socorro - Ela sussurrou aos ventos, pediu ao Nox, rezou que ouvisse.

No fundo de seu corpo, escondido pelos golpes saiu um calor, um leve conforto, ela tinha a impressão que Nox tinha respondido, mais Blya estava fraca demais para receber.

Sua cabeça se perdeu no tempo após o último golpe, dado em seu olho, que a fez ver as últimas estrelas...

.(...).

Nox sentia algo de errado, mais não sabia o que era, pacientemente esperava Blya dar as notícias, confiava nela, a garota apesar de ingênua era inteligente, chamaria ele se algo desse errado.

Na floresta escura aqueles olhos azuis se destacavam entre as árvores brilhando com poder, Nox estava abaixado rente ao solo, suas asas grudadas ao corpo, prontas para qualquer coisa.

Esperou, para a fera pareciam anos, seus instintos estavam a mil, seu focinho inspirava o ar em busca de algum sinal, ele estava encarando a mansão, sua visão de longe era boa mais Blyana pediu privacidade, algo estava errado...

Mas ele esperou.

Se remoendo de curiosidade.

Nox ficou de pé quando viu movimento.
Mas foi uma ordem.

O dragão tinha as escamas eriçadas e agora estava de pé, dobrou algumas árvores com suas asas quando as abriu um pouco, o laço estava estranho.

Nox ficou de pé, seu rabo cravou um dos "chifres" em uma árvore, ele ia atacar, os sentidos que Blya acionou eram de luta.

Mas ela o mandou ficar e esperar ela chamar.

Aquilo doía muito na fera, até o fim ele tinha que obedecer.

Ele esperou com calma.

Até receber aquele chamado.

- Socorro - Blyana mandou, junto com uma sensação de dor e fraqueza.

- Estou indo, fique calma - Foi o mínimo que respondeu a dor que sentiu pelo lado dela.

Ela foi atacada, precisava de força, suas asas bateram causando um estrondo de árvores quebradas em seu encalço enquanto se lançava ao ar, em estilo de ataque ele foi até a mansão Hathaway, posou firme e andou até onde ele sentia a garota, foi farejando tudo, quanto mais perto estava mais um cheiro metálico, sangue, se aproximava, e ele realmente rezava para ser da família do que da menina, por que se não haveria morte naquela noite.

Seus olhos encontraram uma janela, dela vinham sons e luz, quando se colocou para observar viu a cena.

Blyana estava inconsciente e sangrando com um homem em cima dela, o pai dela, esse asqueroso homem sorria com as mãos sujas de vermelho.

Nox sentia ela viva, mas muito fraca, precisa de ajuda rápido.

Tão rápido quanto chegou ele cravou suas patas e dentes para abrir caminho na parede, jogando os destroços para fora com força e ódio, por um momento teve névoa e silêncio, até Nox fazer seus olhos brilharem e seu rosnado soar, aí ouve a gritaria.

Para a tristeza dos integrantes da casa Nox não precisava ver para saber de todos eles, onde estavam, se abaixando a fera entrou, a névoa caiu e ele viu todos o encarando, brancos, o homem estava de pé perto do resto, com um rosnado os fez correr, todos iam para a porta para se salvar.

Com uma rajada de sua boca ele congelou e fez pontas de estalactites para quem tentasse arrombar a porta, gritos e correrias de novo, outra porta era o alvo, mas dessa vez a fera fez uma parede de gelo para não acessarem mais que a escada e a vista de Nox, um dos integrantes, o que corria na frente, aquele que já havia humilhado Blyana, aparentemente o único de cabelos cor de trigo bateu na parede, sua pele prendeu na mesma, choque térmico, gritava e chorava ao ver seu sangue quando desesperadamente a mulher tentava tirar sua pele grudada de lá puxando e arrastando.

Nox olhou para Blya, a menina estava lutando para respirar e seu sangue manchava o chão a sua volta, com delicadeza ele a puxou com a boca para perto.

O menino, que tinha ficado de fora do "resgate" que agora causava o grito de pânico de uma mãe e um jovem levemente esfolado, atacou uma pedra, que bateu em Nox e saiu voando longe, sem causar dor a fera, que só piscou.

- Solta a minha irmã monstro!!!

Nox pensou que o garoto era de fato corajoso, só não deu atenção pois percebeu um detalhe, cadê o pai, seu olhar o encontrou na escada, quase no fim, lentamente subindo, largou sua parceira e filhos para fugir, covarde.

Blya passou a engasgar, Nox entrou em pânico, tinha que parar de brincar, mais ainda tinha uma coisa a fazer.

Em uma virada brusca ele fez questão de bater a sua cauda bem na escada, no homem covarde, jogando-o sobre as estalactites da porta, arrombando a porta e possivelmente matando o homem.

Só haviam mais 4 seres, contando com um bebezinho, o menino recuou e foi até a mãe, que estava petrificada com a cena.

Ele rugiu, pegou Blyana com sua boca delicadamente, só havia uma pessoa que Nox conhecia que podia ajudar ela.

Ele abriu suas asas e foi o mais rápido possível com sua guerreira ferida.