Eu ( não ) me importo.

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       🌌 Para aqueles que buscam sempre melhorar, como uma flor que nasce no asfalto.

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- É sempre um prazer recebê-los em minha casa- Hélion disse com um largo sorriso no rosto. Asteria estava do lado dele, e eventualmente falavam aos cochichos.

- Como vamos recuperar as asas dela?- Amren apontou o garfo de Asteria para Hélion e o desafiou com os olhos.

- Não é uma magia complicada, na verdade- foi a Serafim quem respondeu- Foi um pacto de sangue pelo segredo de que minhas asas estavam com ele, é uma um feitiço antigo para que as asas fossem separadas de mim, mas um dia elas pudesse retornar.

- A essência das asas, não é mesmo?- Amren falava e balançava a cabeça.

- Exatamente. Depois de amanhã começaremos os procedimentos. Mas enquanto isso eu espero que se divirtam. Aproveitem a visita de vocês. Tomei a liberdade para organizar um pequeno baile, não será nada extravagante de fato. Mesmo assim, espero que assistam.

- Será uma honra para nós- Feyre disse enquanto sorria.

- Não pretendo assistir- Amren sequer girou o olhar em nossa direção enquanto falava.

- É uma pena. Enviei um convite para Tarquin, infelizmente ele não poderá vir assistir. Mas sua irmã e Varian garantiram que viriam.

Ela voltou seu rosto para ele, com uma cara que parecia considerar o convite, mas não disse nada além de um -Vou pensar.

O restante da refeição se resumiu em todos nós jogando papo fora. Asteria parecia se dar muito bem com todos ali, desde o grão-senhor anfitrião da noite, até todos nós do círculo íntimo. Eu não tinha notado mas ela e Amren começavam a se dar muito bem, o que era muito raro. O furacão Amren não era de se dar muito bem com as pessoasm já era surpresa o bastante a relação dela ser tão boa com Nestha, não esperassemos que fosse tão boa assim com a Serafim também. Já que estava na casa do vento, Feyre e Rhys passavam muito tempo com ela, Cassian nunca teve problemas para se relacionar com ninguém, então não é surpresa.

           ✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

Quando terminamos todos nos retiramos, ficaram apenas Hélion e Asteria no cômodo. Afinal, o que eles tanto conversavam? Por que riam tanto juntos? E por que eu me importava tanto? Me deitei com esses pensamentos na cabeça. Horas e horas depois escutei uma porta fechar. Era tão tarde, e só agora ela entrava no quarto. Eu sabia que era ela. Asteria. Mesmo assim fiz questão de aparecer na porta enquanto ela tentava se adentrar no cômodo. Bêbada, completamente bêbada. Esbarrava em tudo que bloqueava sua caminhada em ziguezague e fazia um barulho estrondoso, acordaria a todos, se claro, já não estivessem acordados. Antes que me desse conta já estava lá ajudando ela a caminhar em linha reta para a cama. Duas bochechas estavam levemente coradas, combinava com a pele clara e principalmente com os olhos cor de rubi iluminados por raios solares.

- Você fede a álcool- disse enquanto encostava ela na cama- quanto você bebeu?

- Barril- suas respostas:vagas. Além do que, não se dava ao trabalho de explicar nada.

- Até que você é bastante tolerante ao álcool então- Conheço apenas alguns Illyrianos que tomariam tanto.

A gargalhada foi alta e estrondosa, e principalmente, alegre. Talvez por esse motivo não me estressei com aquela situação. Com o barulho que preenchia o cômodo.

- Um barril não- tentava tirar o salto do pé, fazendo qualquer movimento parecer um enorme esforço- dois barris.

- Pelo caldeirão, isso sequer é possível...- As bebidas feéricas costumam ser bastante fortes, não teria como ela... Bem, acho que Asteria conseguiria sim. Ela "daria um jeito". Me deparei sorrindo com meus próprios pensamentos. Fui até ela e ajudei a retirar aquele salto que ela levava minutos tentando arrancar de todas as formas do pé. Me ajoelhei na beirada da cama e tirei delicadamente. Ela me encarava, nem mesmo piscava.

- Gosta de me ver desse ângulo ou o quê?- Falei em um tom desafiador enquanto arqueava a sobrancelha.

- Pelo caldeirão Az, você já se olhou no espelho? Eu gosto de te ver de todos os ângulos- ela era sempre bastante sincera. Mas aparentemente, quando estava bêbada isso duplicava, ou melhor, triplicada.

- Não me provoque- Foi o máximo que consegui dizer até ela me puxar para a cama. Apenas deitamos um do lado do outro encarando o teto.

- Você vai se lembrar disso amanhã?- Uma pergunta idiota, devo admitir. Ela estava tão bêbada que não conseguiria contar os próprio dedos. Tão bêbada que parecia frágil, e isso era preocupante e problemático. Eu não sabia por que me importava com isso.

- Um macho Illyriano ajoelhado para mim na beirada da cama. Eu jamais me permitiria esquecer- ela soltou um riso baixo. Aos poucos levou sua mão até a minha, primeiro roçando os dedos nos meus e depois entrelaçando-os.

Éramos só nos dois em meio ao silêncio. Mesmo assim fazia barulho, nós fazíamos barulho juntos. Palavras não se faziam necessárias, não ali, nem naquele momento. Todas as luzes estavam desligadas no quarto, mas o rosto dela brilhava com a luz da janela, a luz da lua não fazia juz a sua beleza. A pele era macia, os cílios compridos, ela tinha alguns sinais de charme no rosto. Perto da boca, mais proxima do queixo. Na bochecha direita. Nos braços haviam sinais que formavam triângulos. Eu mapearia todos os sinais de seu corpo, sem me cansar. Traçaria constelações na sua carne, na sua alma.

- Eu não sei se mereço Az. Não, eu não mereço elas de volta.

- Você merece tudo Asteria. Eu não mereço você.

- Eu que não te mereço- Ela largou sua mão da minha e lágrimas escorreram seu rosto. A abracei, segurei seu corpo no meu. Era tão pequena, parecia tão frágil.

Os olhos tinham se fechado, dormia pesadamente. Seu rosto era uma obra de arte, e eu seria para sempre uma plateia que a adoraria dia e noite, incansavelmente.

- Você é meu infinito particular, meu sol.- sussurrei baixinho.

Me levantei da cama de leve. Coloquei ela inteira na cama e a cobri com um cobertor. Beijei sua testa e, talvez por instinto, deslizei os dedos por seus labios. Era a mais pura maciez. Sai do quarto fazendo o mínimo de barulho.

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No outro dia nos encontramos para tomar o café. Asteria era a personificação da ressaca. Hélion deu total atenção a ela, aquilo já estava me dando nos nervos. Mesmo assim, mantive meu rosto indecifrável. Conversamos durante todo o café, ou melhor, conversaram. De fato, eu não estava de humor para trocar piadas. Diversas vezes, meus olhos se encontraram com os da serafim. Será que ela se lembrava? Não, eu não perguntaria isso. Além do mais, já sabia a resposta. Rhys, Feyre e Hélion passaram a conversar. Um debate típico de grão-senhores, aquela foi nossa deixa, abandonamos o cômodo. Amren partiu para a biblioteca com Mor, Asteria simplesmente saiu. Fui para a varanda, a corte diurna era um esplendor e passei a apreciar a vista.

- Hélion tem terras esplendorosas não é mesmo- A serafim apareceu atrás de mim como quem não quer nada.

- É, ele tem- Meu tom de voz saiu absolutamente ríspido, mesmo assim, não me dei o trabalho de falar mais nada.

- Acordou de mal humor? está mais calado que de costume- os olhos dela passaram de mim para a paisagem enquanto se sentava no peitoril da varanda.

- Eu sempre fui calado, Asteria- Eu não entendia por que estava assim e sabia que ela não tinha culpa. Mas não conseguia controlar meu tom, bruto.

- Não comigo.

Era verdade. Eu não me atava a palavras quando estava com ela, eu gargalhava mais e falava mais. Eu sorria por ela, para ela.

- Você está com ciúmes?- ela me encarava com os olhos apertados e cutucava  minhas costas com os dedos- Você sabe, eu e Hélion somos apenas amigos.

- Eu não me importo- Não deveria ter dito aquilo, eu não deveria... Era uma mistura terrível, as palavras cominados ao tom de voz. Ela se levantou, me olhou e virou as costas.

- Eu entendo- Foi a última coisa que disse antes de ir embora. Minha mente pesava, eu me importava. Mas eu não tinha o valor para ir atrás dela, ela iria embora e eu a perderia.

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Corte de laços e caos (Azriel)Where stories live. Discover now