Todas as Coisas que Eu Não Odeio em Você

34 - mulheres poderosas usam terninho

— Você acha que eu devo fazer isso? — mamãe pergunta, pondo as mãos na cintura enquanto sua expressão indica que ela está prestes a cair em prantos novamente.

— Ei — sussurro, entrando no banheiro e fechando a porta atrás de mim. — Do que você tá falando, hein?

— Sei lá, é que... não foi tudo muito rápido? Eu fiquei noiva em um cruzeiro, uma semana depois de conhecer o cara, e... Meu Deus! O que eu fiz, Eva? — Ela põe as mãos nos meus ombros, parecendo a ponto de entrar em desespero. — Filha, me desculpa! Eu te coloquei numa casa cheia de gente estranha, e eu nem conhecia o Tales direito. O que eu tinha na cabeça? Sem falar que... podia ter tudo dado errado, né? Claro que podia. Meu Deus do céu.

Acho que crises do tipo são comuns antes de qualquer casamento, mas é bizarro ver mamãe perder o controle. Ela nunca perde o controle de nada, e vê-la nesse estado é, além de uma novidade pra mim, um pouco engraçado.

— Mãe, vem cá.

A seguro pelo braço e a tiro do banheiro, caminhando até a cama enorme da suíte e a pedindo pra que sente. Mamãe lidou com meus surtos exagerados durante os dezessete anos da minha vida, então eu consigo lidar com isso. É só agir como.... Regina Aquário.

— Concordo que a senhora teve um acesso de loucura quando, do dia pra noite, decidiu mudar toda a sua vida por causa de um homem, mas ei — a faço olhar pra mim, sorrindo pra tentar acalmá-la —, as coisas deram certo. A senhora é uma mulher muito, muito sortuda e teve o privilégio de encontrar um cara legal de verdade, que tá doido pra se casar com você.

— Mas... tem como a gente conhecer alguém só com alguns meses de convívio? E se eu descobrir só amanhã que eu odeio o jeito como ele... sei lá... escova os dentes?

Solto uma risada, me acomodando ao seu lado na cama.

— Mãe, eu acho que já saberia se odiasse o jeito como o Tales escova os dentes. — Olho pra ela, pondo uma mão em seu ombro e a abraçando de lado. Seco com cuidado as lágrimas que voltaram, pra não estragar a maquiagem. — Sabe, eu sei que a senhora namorou alguns homens e algumas mulheres enquanto eu crescia. Mesmo que não falasse comigo sobre isso, eu era uma criança muito observadora, tá? — Ela suspira, e eu sorrio mais ainda. — Onde eu quero chegar é que nenhum deles foi como o Tales. E mesmo que essa ideia soe muito bizarra pra mim, o que aconteceu com vocês foi uma conexão muito maluca e ao mesmo tempo real demais, e não dá pra medir isso pelo tempo que vocês se conhecem, entende?

— Eu acho que... — ela gagueja, me encarando com os olhos marejados e um sorriso contido —... nunca tive tanta certeza com outra pessoa. — Assinto, e mamãe solta uma risada nervosa. — E não dá mais pra voltar atrás, né? Pelas circunstâncias.

— Tá falando do casamento? Porque, sabe, eu te dou cem por cento de apoio nisso, mas nada me impede de fugir com você, se quiser.

A gargalhada que escapa dela me faz relaxar, rindo também. Acho que consegui resolver as coisas, e mamãe parece mais leve, o que é bom e me deixa feliz. Ela me abraça, me dando um beijo na testa.

— Eu tava falando do bebê, mas é, eu sei que você nunca rejeitaria uma fuga comigo.

— Nunquinha.

Ela se levanta, indo até o espelho enorme perto da cama. Respira fundo, encarando mais uma vez o vestido, o cabelo, a maquiagem. Mamãe é a mulher mais linda do universo, e espero que ela saiba disso enquanto se admira, pondo a mão no peito.