Desejo

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Dicionário privado de Jackeline R. Eglington.

DESEJO

substantivo masculino

Aspiração, querer, vontade, expectativa de possuir ou alcançar algo.

***

Pov Severo

‒ Precisamos conversar.

Eu não precisava em absoluto aparatar na frente dela, mas não consegui me segurar, eu queria ver a reação dela a me ver usar magia. E como eu previ a expressão de total incredulidade estampava o rosto dela, o que me causou mais prazer do que eu esperava.

Agora, assim de tão perto, eu podia vê-la melhor. Os seus olhos eram castanhos com longas cílios escuros que faziam seus olhos se destacarem naturalmente. Seus longos cabelos caiam em ondas por seus ombros e tinham a mesma cor, um castanho vivo. Achei estranho pensar em uma cor dessa maneira, mas nela as cores pareciam brilhantes e vívidas. Seu rosto arredondado possuía uma pele clara, mas imagino que seja pelo fato de ela não sair de casa nunca. Eu poderia olhar para ela por horas e nunca iria imaginar que ela estivesse doente, não com a aparência saudável que ela refletia. Ela parecia uma garota normal. E como ela parecia incapaz de falar naquele momento tomei a iniciativa.

‒ Quero falar com você sobre o que você viu hoje pela manhã.

Esperei um momento para que ela falasse algo, mas ela continuava me encarando como se eu fosse um fantasma.

‒ Espero que entenda que nossa situação acaba de ficar bem delicada senhorita Eglington. Pra ser mais claro, qualquer palavra sobre o ocorrido para qualquer pessoa pode trazer grandes problemas para mim e para minha mãe. Não podemos fazer magia diante de trouxas e eu nem posso fazer magia fora da escola ainda. Por isso você tem que esquecer tudo o que viu e principalmente que moramos na casa ao lado.

Agora ela parecia mais concentrada do que perplexa, como se estivesse me estudando. Não, como se tivesse vendo minha alma. Foi uma sensação muito estranha quando seus olhos encararam os meus e não desviaram, e eu me encontrava incapaz de desviar os meus, pois seu olhar parecia um imã. Depois de semanas em que ela me espionava tirando toda a minha privacidade, hoje pela primeira vez me senti invadido por ela, e isso me irritou.

‒ Você está me ouvindo? Por Merlin, isso só pode ser um pesadelo.

***

Pov Jackie

Às vezes meu cérebro trabalha tão rápido que não consigo processar as respostas de maneira que deveria. Como se tudo em volta de mim estivesse em câmera lenta e somente eu estivesse correndo ao ponto de ultrapassar a barreira do som. era exatamente assim que eu me sentia por isso fica difícil até mesmo falar.

Esse era um desses raros momentos.

Não que eu não compreendesse o que ele estava falando, pelo contrario eu compreendi cada palavra. O problema na verdade era que eu queria saber mais, muito mais. Eu queria saber tudo. Finalmente meu fascínio por ele fez sentido.

‒ Você está me ouvindo? Por Merlin, isso só pode ser um pesadelo.

Forcei-me a falar, pois não queria que ele fosse embora, não ainda.

‒ Eu ouvi... ‒ falei apressada.

‒ Quer dizer... estou ouvindo. Você... você é incrível.

Ele pareceu surpreso ao ouvir as minhas palavras e seu rosto pálido adquiriu um leve tom rosa, como se ele estivesse envergonhado. Eu o fiz corar e ele pareceu ainda mais fofo naquele momento. Mas se recuperou bem rápido, tenho que dar crédito a ele por se recompor tão rápido, eu sinceramente não sou assim. O rosto dele voltou a ser o perfeito quadro da indiferença e o ouvi bufar.

‒ Não me venha com falsas bajulações. Você tem sorte por eu ainda não ser tão bom assim com feitiços de memória.

Ele parecia realmente bravo com minhas palavras, mas o porque eu ainda não fazia ideia. Será que ele não sabia o quanto era especial? Poder fazer magia de verdade, era simplesmente extraordinário. Eu queria fazer todo tipo de pergunta para ele e já estava começando uma das minhas longas listas quando ele voltou a falar.

‒ Muito bem senhorita Eglington...

‒ Jackie.

‒ O que?

‒ Pode me chamar de Jackie. Todos me chamam assim. O seu é Severo não é?

‒ Não somos amigos senhorita Eglington.

Notei que ele falou a última parte da frase com mais intensidade, como se quisesse deixar bem claro que não iria aceitar minha sugestão de nos tratarmos pelo primeiro nome. O que achei bastante engraçado já que eramos dois adolescentes e não dois adultos em uma reunião de negócios. Em algum momento devo ter deixado transparecer meu divertimento já que ele pareceu ainda mais zangado quando falou.

‒ Está caçoando de mim?

‒ Não, claro que não. Que coisa horrível de se pensar. Jamais faria isso com qualquer pessoa.

‒ E não estava rindo do que falei? ‒ Falou em tom de acusação.

‒ Bom... não de você, mas sim de um pensamento que tive, uma bobagem. As vezes minha imaginação corre solta. Peço sinceras desculpas senhor Snape, isso não vai se repetir.

‒ Então posso acreditar que você compreendeu o que espero de você?

‒ Bom sim, mas eu tenho tantas perguntas e...

‒ Não estou aqui para satisfazer sua curiosidade senhorita Eglington. Passar bem.

O senhor Snape (como ele preferia ser chamado) já estava se virando para desaparecer no ar, ou sei lá o que ele fez quando apareceu na minha frente, quando me ocorreu que a minha oportunidade de saber ainda mais estava escorrendo pelas minhas mãos. Foi quando eu tive a mais louca, perigosa e desesperada das ideias e esperei do fundo do coração que desse certo.

‒ Então se eu falar sobre o ocorrido de hoje pela manhã você estará encrencado?

Ele já estava de costas quando parou abruptamente e pelo jeito ele deduziu onde eu queria chegar.

‒ Imagino que não seria nada bom se algumas palavras fossem ditas, sem querer é claro, para uma ou duas pessoas. Eu mesma sou contra esse tipo de coisa, principalmente se pessoas possam sair prejudicadas, mas nem sempre podemos controlar. Você disse que não só você, como sua mãe teriam problemas, não foi isso? Imagino que não seria nada bom, não é senhor Snape?

Falei de maneira mais inocente possível, e nessa hora ele se virou devagar para olhar em meus olhos. Seus olhos cor de ônix pareciam duas pedras de gelo e ele parecia calmo e calculista quando falou.

‒ Entendi. O que você deseja em troca do seu silencio senhorita Eglington?

Naquele momento nem mesmo eu acreditei na minha sorte. Ele poderia ter partido e eu nunca poderia ter ido atras dele e muito menos falado nada pra ninguém sobre o ocorrido nem agora nem de manhã. Mas de alguma maneira uma força maior ou sei lá o que fez com que o meu plano desse certo e agora eu tinha o meu vizinho pronto para me dar o que eu pedir em troca do meu silencio. Fiquei feliz por não ocorrer a ele que eu não poderia sair para contar a ninguém, mas eu não era idiota de jogar minha boa sorte fora então pedi a ele a única coisa que eu realmente queria na vida.

‒ Desejo que você seja meu melhor amigo.

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⏰ Last updated: Jan 02, 2021 ⏰

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