Roma, 30 de junho de 1962

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Jason fica preocupado quando percebe que Piper não aparece no ponto de encontro, ou seja, na pista de decolagem. Os dois tinham combinado com Percy, que tinha deixado organizado tudo o que fosse necessário para que saíssem de Roma o mais rápido possível depois da troca de mercadorias, mas ela ainda não havia aparecido e o horário combinado se aproximava.

Ela não poderia ter sido pega, né? Pensa. Não. Provavelmente, não. Ela havia feito a troca de bolsas dentro do avião, mas depois que ela havia entregado a bolsa para ele... nada mais poderia ligá-la ao roubo. E se ela estivesse com a polícia, ele já teria ouvido falar... né? Algo dentro dele estava nervoso e agitado, porque ficar sem notícias dele dava medo.

Quando a hora chega, ao invés de embarcar, ele dá às costas para o avião. Jason procura, em um dos bolsos, o papel com o endereço do local de segurança - a segunda opção segura, caso eles não conseguissem sair da cidade por qualquer motivo. Talvez ela tivesse se sentido ameaçada e ido para lá, decidido que era melhor deixar a poeira baixar ou qualquer outra coisa assim. Talvez ela estivesse pior do que tinha deixado transparecer. A pensão não ficava longe daquela pista de decolagem, segundo a informação que consegue de uma pessoa passando na rua.

Dá alguns passos apressados, até que passa em frente a um parque quase vazio. E então, ele a vê. Piper estava sentada em um dos bancos, a cabeça baixa e parecia tremer. Ela estava usando a echarpe que ele havia dado para ela um tempo antes, quando haviam se esbarrado em Amsterdã, mas nem isso parece aquecê-la. E não estava um dia frio.

— Piper? — Ele chama em voz alta quando se aproxima, para não assustá-la. — Está tudo bem? Eu fiquei preocupado quando você não apareceu no... — Ela levanta o rosto e ele percebe, imediatamente, no olhar dela, que não, não estava tudo bem. Termina com todo o espaço entre eles e envolve os braços ao redor da garota. Ela estava queimando. A febre devia estar altíssima. — Eu vou te tirar daqui, tudo bem? E cuidar de você.

Piper não oferece nenhuma resistência quando ele praticamente a carrega pela rua. Ela estava mal. Se sentia mal. Era como se o corpo todo estivesse em chamas. Mas agora, pelo menos, não estava mais sozinha, nem perdida. Ela não conseguia pensar muito mais do que isso, porque sua mente estava confusa, seu corpo, exausto. Será que tinha dado tudo certo?

— Oi, boa tarde. — Jason volta a falar, mas ela podia perceber que não era com ela. — Eu gostaria de saber se vocês têm um quarto... minha esposa não está muito bem... é nossa lua de mel, sabe? Acho que a mudança brusca de temperatura a deixou abalada. Nós estávamos no Egito e...

Uma voz de mulher responde, mas ela não presta muita atenção. Jason era esperto. Ninguém deixaria ele ficar com ela neste estado, em um quarto, se eles não tivessem intimidade. Eles serem um casal recém-casado serviria de desculpa para evitar qualquer tipo de questionamento. E ele não queria ter que tirar os olhos dela.

Piper estava praticamente fora de órbita quando eles passam pela porta do quarto, ela falava algumas coisas que ele não entendia, frases soltas e resmungos. Ele a leva diretamente para o banheiro. Ele a coloca debaixo do chuveiro, tomando o cuidado de não deixar o cabelo escuro e longo molhar, porque acha que seria prejudicial no estado atual dela. A água não estava tão quente, mas parecia pegar fogo quando tocava no corpo muito quente dela. Os dois ficam ensopados, mas Jason só a tira de lá quando sente a febre regredir um pouco. Ainda estava assustado com o estado da mulher em seus braços. E com medo de não vê-la melhorar. Ela precisava melhorar logo.

Tira toda a roupa dela e enxuga seu corpo. Não existia nenhum tipo de segunda intenção ali. Jason tentava falar com ela, fazê-la realmente olhar para ele e não só encarar o nada enquanto falava coisas que ele não entendia. Ele realmente só queria que ela melhorasse. A deita na cama e a cobre com o lençol, porque não queria que ela se sentisse exposta. Ele precisava de um plano. Precisava de remédios, água, comida e roupas para os dois. Vai rapidamente até a recepção e consegue um dos mensageiros para comprar aspirina, dipirona, um termômetro e qualquer outra coisa que o farmacêutico receitasse. A dona da pensão, Juniper, atende prontamente ao pedido dele por comida e água - ele os receberia no quarto, em breve.

Jason volta para o quarto, arrasta a poltrona até o lado da cama e fica ali, observando a garota que ainda não parecia saber onde estava.

— Tão... cansada. — Ela diz. Jason não sabia dizer se ela realmente estava falando com ele ou se aquilo só era mais alguma frase delirante, mas se aproxima dela, atento.

— Descansa, meu bem. — Ele diz, fazendo carinho nos cabelos dela. — Daqui a pouquinho você vai estar sob o efeito de medicação e vai se sentir melhor, eu prometo.

Juniper bate na porta e entrega para ele os remédios, água, leite e baguettes. Ele agradece com o melhor sorriso que poderia dar e diz que, sim, a chamaria se precisasse de ajuda para cuidar da esposa.

Consegue fazer com que Piper, agora mais quieta, mas ainda muito quente, engula os comprimidos, tome alguns goles de água e coma uns pedaços da baguette. Ele sabia que ela precisava de uma refeição mais nutritiva, mas era o melhor que poderia fazer por agora, principalmente porque ela não queria comer. O marcador do termômetro apontando 41 graus o deixa ansioso. Se ela não apresentasse melhora em algumas horas, ele a levaria para o hospital.

Sabia que era arriscado, por causa do último roubo que tinham feito e, como tinham se isolado ali, sem informações, ele não conseguia saber em qual pé estava a situação com a polícia, fosse a italiana ou a maldita INTERPOL. Se tudo piorasse, ele a deixaria no hospital, segura com um documento falso, e assumiria a culpa, dizendo que tinha feito tudo sozinho. Ele estava disposto a passar uns anos na cadeia se significasse que ela ficaria bem.

— Jason... — A voz fraca chama a atenção dele. Piper se enrola mais ainda nos lençóis, parecendo ainda estar atordoada. Jason conseguia ver o brilho do suor em sua pele.

— Oi, pequena. — Ela parecia, realmente, tão pequena que o coração dele quase se quebra. Nunca a tinha visto daquela forma, frágil. Frágil não era uma palavra que ele associava a ela e, talvez por isso, ele estava tão assustado. — Você precisa de alguma coisa?

— Eu não quero ficar sozinha. — Ela resmunga. — Está frio e não tem sol, não igual aquele dia, em Paris. Ou o vento refrescante, você lembra? E depois, a noite, enquanto a gente tomava aquela garrafa de vinho e comia creme brûlée, como estava fresco.

— Eu me lembro desse dia. E de como é adorável que você adora sobremesas. — Faz uma pequena pausa. — E você não está sozinha. — Diz, saindo da poltrona e se sentando na cama. Ele consegue fazê-la beber mais um pouco de água e depois sente a cabeça dela se encostando contra seu peito. Ele afaga os cabelos dela enquanto sente a garota se acalmando.

Os dois dias seguintes não são exatamente bons, mas não são tão ruins quanto o dia que chegaram na pensão. Juniper é de grande ajuda para Jason, já que ela, além de não se importar que ele leve as refeições para o quarto e busque bastante gelo na cozinha, se oferece para comprar roupas para os dois - Jason havia inventado uma desculpa sobre ter saído tão apressado do aeroporto, por causa da situação da esposa, que acabou não pegando as malas. Com o dinheiro que ele dá a ela, Juniper compra roupas íntimas, peças leves para ambos e pijamas. Jason fica aliviado quando consegue colocar um pijama fresco em Piper. Ele troca a roupa de cama duas vezes no dia, porque a febre, ainda alta, mas mais maleável, a faz transpirar muito.

East Side Story - JasiperWhere stories live. Discover now