46|relationship

51.5K 3K 2.1K
                                    

relationship(name): an emotional or other connection between people

                                /CAPÍTULO 46 - BLUE POV/

O meu braço estava enrolado à volta da cintura de Harry. Apesar dos constantes avisos e pedidos dele para o soltar - garantindo que estava perfeitamente normal - não o consegui fazer, tinha medo que ele escorregasse pelos meus braços novamente e se tornasse pálido, sem vida. Tinha medo que os acontecimentos dos dormitórios se repetissem. Não me sentia preparada para lidar com outra dor como aquela, agora só queria paz e sossego. Principalmente, porque era véspera de Natal.

O Dr. Harden deu alta ao Harry hoje de manhã, ainda que com a promessa que o teria de visitar daqui a dois dias, para uma pequena consulta de psicologia. Eu garanti-lhe que o traria ao hospital depois do dia de Natal, ainda que o rapaz tatuado me tivesse contrariando dizendo que não gostava do médico e que jamais o voltaria a ver. De certa forma, o Harry preocupa-me. Assusta-me o facto de ele não conseguir encaixar na sua cabeça que se tentou suicidar à pouco menos de uma semana e que não deve recusar qualquer tipo de acompanhamento médico. Ele continua a não querer saber da sua própria vida.

"Blue, já te disse mais do que uma vez que eu consigo andar sozinho." ele grunhiu.

"E se eu simplesmente te quiser abraçar?" eu perguntei, olhando para cima.

Um sorrisinho apareceu nos seus lábios e eu sorri-lhe de volta, colocando a língua de fora pelo caminho. Observei uns bancos de jardiam à porta do hospital e encaminhei-nos para lá enquanto esperavamos pelo Louis - era ele que nos iria levar de volta para o lar. Ou melhor, eu queria levar o Harry para o lar, simplesmente para passar o Natal comigo e com todas as outras crianças. Tenho a certeza que o espírito dele iria levantar-se.

Sentei-me num dos bancos com Harry, onde uma velhinha já estava sentada olhando para o jornal.

"Uhm. . . como sentia saudades de estar ao ar livre." ele inalou o ar invernoso.

Ele encostou a cabeça na parte de trás do banco olhando diretamente para o céu com um olhar satisfeito. Os cantos dos meus lábios elevaram-se ainda mais ao ver a felicidade estampada na sua bonita face; era estes momentos que me faziam ficar cada vez mais apaixonada por ele. Harry parecia tão jovem a olhar para o branco das nuvens e para o amarelo dos pássaros, parecia tão normal que por momentos consegui imaginar como ele realmente seria se a sua mãe nunca o tivesse feito odiar a Sinestesia, se ele conseguisse viver com ela livremente.

Apreciei, com uma súbita careta na cara, a sua drástica mudança de expressão. As suas sobrancelhas uniram-se e uma manifestação de tristeza atravessou a sua face. Os seus lábios humedeceram-se com a ajuda da sua língua e atirou a cabeça para a frente sentando-se totalmente direito no banco. Pousei o joelho no banco para conseguir olhar de frente para ele. Levei a minha mão à sua cara esfregando os meus dedos pequenos e esguios nas suas bochechas.

"O quê foi?" eu questionei. "No que estás a pensar?"

Ele olhou para mim, semicerrando os olhos devido aos raios de sol. Harry respirou fundo, como se aquilo que ele estava a pensar tivesse um grande peso no seu coração.

"Sabes, o Louis tem razão."

"Como assim?" elevei uma sobrancelha.

"Não devias ter fumado lá dentro."

Baixei o meu olhar para os meus dedos. A verdade é que eu não me sentira minimamente confortável com aquilo que fizera - no meu completo estado normal jamais faria algo assim - mas com Harry, a minha sanidade mental com certeza diminuiu um bocado. O que mais me custou na verdade foi lembrar-me do que ele me havia dito à semanas atrás, sobre nunca me deixar fumar mais porque me queria ver viva, ao seu lado. Saber que ele deitou essa pequena promessa fora partiu-me o coração, ainda que soubesse que ele não estava a pensar.

DARK JEANSOnde as histórias ganham vida. Descobre agora