35|flashback

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flashback(noun): a recurring, intensely vivid mental image of a past traumatic experience.

/CAPÍTULO 35 - HARRY POV/

Sentia-me estranhamente bem. Não era suposto sentir-me contente ou feliz enquanto estou com febre ou com dores corporais insuportáveis que teimavam em manter-me quieto, encostado a ela. Sentia-me estranhamente bem e tenho quase a certeza que esta felicidade se deve a uma simples pessoa: a Blue. Ela está a tocar-me, ela está a cuidar de mim e é a única coisa que eu preciso para melhorar. Não preciso de remédios caseiros idiotas que o Louis teima em fazer, não preciso de ervas milagrosas nem de tempo nenhum. Só preciso dela.

É uma estranha realização para mim. Eu nunca precisei de alguém na minha vida, nunca quis que ninguém se abraçasse a mim e penteasse o meu cabelo com os seus dedos, nunca quis que ninguém beijasse os meus lábios com carinho e me acarinhasse as bochechas sempre que algo estava mal, nunca precisei de ninguém antes. Antes de a conhecer. Antes de ela sorrir para mim naquele consultório idiota da Sr.ª Irina. A Blue era tão especial e parece que ela caiu do céu, exatamente quando eu mais precisava.

De alguma maneira a Blue conseguiu enfiar-me debaixo dos cobertores, encher um pano com água e coloca-lo sobre a minha testa e deitar-se ao meu lado. Ela fez questão de se manter ligeiramente sentada e fora dos cobertores, dando a desculpa de que estava demasiado calor, ainda assim obrigou-me a deitar-me sobre o ombro dela. Obedeci sem pensar duas vezes, é nestes momentos que me sinto extremamente vulnerável. Ela têm-me na sua mão e nem sequer o sabe.

"Se não quiseres, não tens de me contar." ela comentou por fim.

O seu braço enrolou-se à volta do meu pescoço. Os seus dedos passeavam sobre as minhas costas timidamente, as suas unhas causavam-me arrepios assim como a ponta dos seus lábios que continuava a tocar na pele quente da minha testa. Sentia-me tão quente mas ao mesmo tempo tão frio; não havia maneira de controlar o calor que se formava à frente dos meus olhos, podia quase ver o calor. Podia quase ver as ondas atrás da minha mente. É uma das coisas que odeio na Sinestesia, ela transforma-se em algo estranho quando estou com febre.

Voltei a dar atenção às frases da Blue.

"O que se passou com a tua mãe?"

Estas palavras ecoavam na minha mente como pequenas facas espetam num coração. Eu não estava preparado para contar o que quer que fosse sobre o meu passado, mas a verdade é que parte de mim queria expulsar esta informação do meu corpo. A mãe do Louis uma vez contou-me que a minha Sinestesia poderia ter a ver com o meu inconsciente, com experiências traumáticas que nem eu mesmo me posso lembrar. Por causa disso, ela tentou usar a psicanálise para me ajudar. Não deu em nada.

Não sei se era da febre ou da súbita carência que apareceu no meu coração, mas a verdade é que dei por mim a querer falar disto tudo. A querer expor uma parte do meu passado, uma das maiores partes do meu passado. Ela ia compreender, ela é a Blue, iria perceber-me com toda a certeza. Ela não iria julgar-me, iria abraçar-me e beijar-me quando descobrisse a verdade. Talvez seja isso que eu precisse, um pouco de carinho e mimo depois de contar a minha história. Eu confiava nela.

"Queres mesmo ouvir?" eu perguntei com incerteza na voz.

Levantei os meus olhos o máximo que consegui para ver a sua cara; imediatamente baixei-os devidos às excessivas dores de cabeça. Ela pediu, com um simples 'shiu' para me manter quieto. Puxou os meus cabelos para trás antes de responder:

"Mais do que tudo."

E foi como se tudo voltasse, como se tudo aparecesse na minha mente novamente em demorados flashbacks.

DARK JEANSOnde as histórias ganham vida. Descobre agora