01/11/2014 - 23:30

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Um último instante...

O grito saiu ao mesmo tempo em que o tambor soava mais grave. Lucian me puxou rápido para trás de uma árvore. Na luta que fiz para tentar me desvencilhar dele e correr até o Coven, acabamos caindo na grama. Ele ficou por cima de mim. Com uma mão, ele abafava minha voz, com a outra, segurava meus pulsos acima da cabeça enquanto eu remexia as pernas e o tronco tentando me libertar. Lucian falou baixo, perto do meu ouvido:

-        Hannah, assim você vai nos entregar. Eu preciso que você respire fundo e confie em mim.

Meu peito subia e descia acelerado. O sangue pulsava com força. Depois do que vi, seria impossível pensar racionalmente.

Eu nunca imaginei passar por nada disso. Nunca cogitei ver minha mãe amarrada em cima de uma pedra, com um círculo de mantos negros em volta de si, gritando desesperada para se desvencilhar do ataque de uma cobra.

Lutei para trazer a razão de volta aos pensamentos. Lucian notou que havia parado de me debater e destapou minha boca. Com a mão livre, acariciou meu rosto.

-        Isso, Hannah. Respire.

Fechei os olhos e fiz o que ele falou. Soltei o ar pela boca diversas vezes. Lucian liberou meus pulsos mas continuou deitado por cima de mim. Seu corpo quente espalhava uma sensação abrasadora por meu corpo. Fitei seus olhos de fogo e vi o desejo faiscando entre nós, mas eu não tinha cabeça para pensar em mais nada. Lucian se levantou e me ofereceu a mão.

-        Por favor, Lucian. Vamos rápido. Você viu o que elas estão fazendo? Não posso deixar minha mãe ali daquele jeito!

-        Aquilo é proposital, Hannah. Elas fazem aquilo justamente para desestruturar você. Se me escutar agora e fizer o que eu disser, em instantes tiraremos aquela cobra de perto de sua mãe.

Assenti e tentei forçar meu corpo a parar de tremer.

-        Onde está o Dukian?

-        Aqui, noivinha – ele respondeu com um sorriso saindo de trás de um arbusto e vindo até mim. Suspirei aliviada ao vê-lo são e salvo. Dukian passou o braço pela minha cintura e se dirigiu a um Lucian que de repente me fitava com o cenho franzido. – Já vasculhei a área. O Coven está completo. Só falta a megera da Acássia. A essa altura você já percebeu que aquilo é uma armadilha e a mãe de Hannah é a isca, certo?

-        Obviamente. Mas nós temos a Genuína ao nosso lado. Acredito que temos uma vantagem.

-        Será que dá pra gente fazer alguma coisa logo e tirar minha mãe dali?

-        O Lucian já te ensinou sobre a Telecinesia?

-        Eu estava prestes a fazer isso.

Lucian rosnou e me puxou pela mão até o pé de uma árvore.

-        Uma das potências da Genuína, Hannah, é a habilidade de mover objetos com a mente. Vamos começar com uma fruta, depois faremos o mesmo com a cobra e depois traremos sua mãe.

-        Isso é demais pra ela, Lucian. Como espera que ela consiga isso tudo de primeira?

-        Tem alguma outra sugestão, Dukian? Nós não temos mais tempo!

Ouvi Dukian bufar e olhei de um para o outro. Se era para salvá-la, eu seria capaz de qualquer coisa.

-        Eu consigo. Me ensine Lucian.

Escutei algo semelhante a um galho se partindo. Lucian abriu a mão e mostrou um monte de amoras sobre sua palma.

-        Clareie seus pensamentos, Hannah. Visualize cada detalhe da fruta lentamente. Quando sentir que está pronta, erga sua mão e as faça flutuar.

Arranhei os braços e encostei no tronco. Eu só pensava na visão de minha mãe amarrada. Tudo que eu imaginava eram aqueles mantos negros. Aquela cobra. Ouvia aquele tambor amaldiçoado e sentia o cheiro enjoativo de ervas queimadas.

-        Eu não vou conseguir. Estou muito nervosa.

-        Vai sim. Ouça apenas minha voz, Hannah. Feche os olhos.

Obedeci.

-        Agora imagine que estamos sozinhos em um parque. Nós fazemos um piquenique e você está feliz. Calma. Você segura um punhado de frutas e sente a textura em sua mão. Você leva as amoras a boca e prova o sabor cítrico em sua língua. Depois, você ergue a palma da mão a frente de seu rosto, e as amoras flutuam no ar. Uma a uma. Como se o vento as levasse.

A voz de Lucian surtiu um efeito curativo. Esqueci tudo o que acontecia ali e pude presenciar a cena em minha mente. Imaginei as amoras voando no ar como penas. Uma vibração forte e prazerosa saiu de meus dedos. Sorri com o sentimento.

-        Abra os olhos, Hannah.

Ergui as pálpebras e não acreditei no que fitava. Haviam dezenas e dezenas de amoras flutuando em volta de nós, como se elas estivessem caindo do céu. Dukian deu uma piscadela para mim. Os dois sorriram parecendo orgulhosos:

-        Seja bem vinda, Genuína. – Dukian falou.

-        Isso foi muito melhor do que eu esperava, banana!

Por um momento, sorri de verdade. Dominada pela excitação. Eu ia conseguir. Eu podia tirar aquela cobra, por maior que ela fosse, dali. Me preparei para repetir o que havia acabado de fazer e o silêncio de repente chegou até nós. Soou estranho. Nos entreolhamos ao notar que o tambor havia cessado. Um outro som preencheu a floresta. Um grito desesperado. Pude ouvir a agonia em cada nota. E reconheci a voz. Minha mãe.

As amoras caíram na grama quando perdi a concentração. Ela gritou de novo e eu fiz o contrário do que seu grito pedia:

-        Fuja, Hannah! Não venha até mim, fuja filha, fuja!

Corri ensandecida. Lucian e Dukian não foram rápidos o bastante para me segurar. Deslizei pela grama até alcançar a clareira onde antes estavam as mulheres com mantos negros e a cobra. Quando cheguei, não havia nada. Minha mãe não estava sobre a pedra. E eu continuava ouvindo seus gritos.

-        Não, Hannah! Por que você veio? Fuja! Fuja!

Rodei os pés parada no mesmo lugar e não vi nada.

Subi na pedra circular, e do alto avistei uma entrada muito escura em uma pedra, no lado oposto onde eu estava. O pânico gelou minhas veias. Desci e caminhei em direção ao que parecia uma caverna. Parei na entrada e inalei o ar úmido lá de dentro. O aroma de terra misturado a algo que lembrava o cheiro de animais em decomposição revirou todas as minhas entranhas. Estremeci quando um calafrio doloroso percorreu cada poro meu.

Escutei mais um grito. Era nitidamente a voz de minha mãe. Aquilo doeu fundo dentro de mim:

-        Parem, por favor, parem!

Seu pedido de socorro reverberou pela caverna, ecoou no túnel circular. Dei um passo hesitante, ignorei o enjoo e o suor de minha testa, e mergulhei na escuridão.

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Olhar de FogoWhere stories live. Discover now