Parte I - 31/10/2014

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Os mortos pouco sabem e os vivos desconhecem. São poucos, os de fato capazes de desvendar os segredos do outro lado...

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Um vizinho misterioso...

- Você já falou com eles Hannah? Com alguém da família que se mudou pra casa ao seu lado?

- Eles chegaram ontem, não deu tempo. E não fica encarando desse jeito Dorothy!

Pedi a ela, mas eu mesma não pude evitar de olhar. Um casal e o filho desciam caixas e mais caixas do caminhão estacionado na rua de frente para a mansão. Entravam e saíam repetidamente do grande portão de ferro.

Havia uma aura de perigo em volta do filho, algo altamente irresistível. A pele dele era pálida. O cabelo escuro e a tatuagem que subia de sua gola e continuava até a nuca, me atraía com o magnetismo de uma chama bruxuleante. Pelo que eu vi, ele era filho único e parecia mais velho do que eu. Talvez em torno dos vinte, vinte e poucos anos.

Como se sentisse meu olhar sob suas costas, ele se virou de repente e cruzou os braços. Tatuagens tribais cobriam seu antebraço e desapareciam por dentro da manga de sua camisa preta. Baixei a cabeça para meus tênis all star, quando percebi que estava prestes a corar e me sacudi no balanço.

Foi impressão minha, ou vi um sorriso no rosto dele?


- Eles são esquisitos, você não acha? Me dão calafrios. Você olhou bem aquele garoto? Ontem quando cheguei aqui e cruzei o portão, ele me encarou com seus olhos pretos e eu juro, acho que até minha alma ficou gelada. 

- Ah, para de ser medrosa Dorothy. Ta com medo só porque hoje é Halloween?

- Você não acha estranho eles terem se mudado pra mansão, dias depois do assassinato?

- E daí? É só uma casa gótica, onde uma família morreu de madrugada – tomei impulso e levei o balanço no alto. Podia sentir as órbitas negras dele me desafiando a olhar de novo – Você sabe que não acredito em assombração.  

- Só de pensar, sinto arrepios. Eu não entraria ali, nem que me pagassem. Tome cuidado hein, Hannah? Nada de aceitar cookies de boas vindas dos vizinhos.

- Não seja boba. Escuta, tenho que entrar antes que minha mãe volte do mercado. Preciso arrumar meu quarto senão ela não vai me deixar ir na festa. Quero muito estrear minha fantasia!

- Ok. Mas você sabe né? Pra alguém que não acredita em nada, você gosta muito dessa data.

- Gosto das comidas, da festa e das fantasias, você sabe disso.

- Sei, quase me convenceu. Vou indo então, passo aqui as oito horas. Já pensou na história que vai inventar pra sua mãe?

- Lógico! Ela ia arrancar meus cabelos se eu dissesse que vou a uma festa de Halloween em um cemitério.

Dorothy foi embora, ouvi o ranger do portão enferrujado e o som dela passando o trinco na grade de ferro, mas fiquei mais um pouco no balanço. Gostava de sentir o vento gelado em meu rosto. Eu podia estar meio velha para isso, mas adorava a sensação de liberdade de fechar os olhos, levar o balanço lá no alto e abrir os braços.

Acabei rindo ao imaginar a expressão de pânico da minha mãe se descobrisse a festa no cemitério. Ela era absurdamente neurótica.

Finquei os pés na areia para frear o movimento e perdi o equilíbrio. Um segundo antes de me estatelar, duas mãos quentes me ampararam pelos cotovelos. Meu cabelo caiu sobre meu rosto e quase gritei com o que vi à minha frente quando levantei a cabeça. Órbitas negras, com um círculo vermelho em volta das íris. Tinham a cor rubra, como fogo vivo.

- Tenha cuidado essa noite, Hannah.

Meu vizinho misterioso anunciou com uma voz grave. Pisquei confusa. Era a segunda vez que me pediam isso no mesmo dia. Minha voz entalou na garganta. Pisquei de novo. Ia agradecê-lo, mas de repente, eu estava sozinha no pátio da minha casa. Esfreguei os olhos e fitei a mansão gótica dos vizinhos. Ele acenou de longe, a uns dez metros de distância e sorriu. Uma voz feminina quebrou o silêncio:

- Lucian, preciso da sua ajuda aqui na sala!

Ele piscou para mim e entrou na mansão. Fiquei congelada ali, com cara de idiota e a boca semiaberta.

Culpa da Dorothy isso, fica enchendo a minha cabeça com essas coisas.

Entrei em casa apressada e não sei por quê, mas passei o trinco na porta. Sacudi a cabeça e fui comer uma fatia de bolo de chocolate. Talvez fosse falta de glicose no sangue. Mastiguei lentamente e cerrei as pálpebras. Imediatamente a imagem do círculo vermelho de fogo em volta de íris negras invadiu meus pensamentos. Decidi mantê-los abertos.

Então Lucian era o nome dele. Tão macabro e tão atraente quanto seu dono.

Peguei outra fatia de bolo e me debrucei na bancada da cozinha. Encarei meu reflexo no vidro da janela. Branquela, rosto magro, cabelo castanho, boca de coração. Totalmente sem sal. A parte que eu mais gostava do meu rosto, eram os olhos. Azuis vivos, com um círculo azul mais claro em torno da pupila. Todo mundo costumava me dizer, que meu olhar era fascinante.

Claro, eles não conheceram Lucian. Nossa, o que foi aquilo?

Será que foi uma alucinação? Fiquei instigada ao ponto de imaginá-lo me impedindo de cair do balanço?

E desde quando, você acredita nessas coisas Hannah?

Mas aquilo não podia ser normal. Como alguém cruza dez metros de distância em um segundo?

E aquele círculo de fogo em volta das órbitas negras?

Eu sei o que eu vi. Eu não estou maluca.

Sacudi a cabeça de novo e andei em direção ao meu quarto nos fundos da casa. Meus passos ressoaram no piso de madeira. Aquele corredor nunca me pareceu tão longo. Tão escuro. E o silêncio sepulcral me deixou cismada.

Não sei porque andei daquele jeito. Fui na ponta dos pés, como se pudesse acordar alguém.

É Hannah, talvez você esteja maluca sim.

- Para com isso!

Gritei para mim mesma e segui rápido. Escancarei a porta do quarto e acendi a luz.

Fui obrigada a dar um passo para trás com o que vi. 

Não soube se deveria correr, gritar por socorro, ou encarar de uma vez.

Ainda sem reação, fiquei parada olhando para Lucian, deitado em minha cama, com as mãos por trás da cabeça e não duvidei do que vi daquela vez. Havia um sorriso de desdém em seu rosto e um alerta de perigo nas chamas de seus olhos. E se eu não estivesse sofrendo de outra alucinação, as chamas me pareceram amareladas.

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Olá, seja bem vindo a mansão, mas tome cuidado ao entrar, você pode nunca mais encontrar o caminho de volta....

Espero que tenha gostado! Caso sim, não esqueça de votar e comentar! =)

Essa história foi inspirada na noite de Halloween, e está dividido nos dias do Halloween, O dia de todos os Santos e no Dia dos mortos.

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Beijosssssss

Olhar de FogoWhere stories live. Discover now