02/11/2014 - 00:03h

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Um sentimento desesperador 

-        O que é esse ritual? Alguém pode me explicar?

Notei a troca de olhares dos irmãos. Eles pareciam em conflito para ver qual deles seria meu guardião. Lucian segurava meu ombro possessivamente e Dukian apertava minha cintura. Estava meio difícil andar daquele jeito.

-        Aqui Hannah. Primeiro vamos nos esconder, depois eu te explico. – Lucian cochichou.

Nós três colamos as costas atrás de uma pedra enorme. Eu queria espiar e ver o que elas faziam mas os dois se mantinham duros como estacas de ferro ao meu lado. Suspeitei que fosse proposital. E aquele silêncio me deixava cada vez mais agoniada. Minha mãe, nas mãos do Coven, e nós parados. Esperando por sei lá o quê.

-        Se vocês não falarem nada, eu vou correr daqui feito uma maluca. Pelo menos assim eu descubro alguma coisa.

Lucian riu ao meu lado.

-        Só você pra me fazer rir num momento como esse, banana.

-        Estou falando sério, Lucian. Quero saber o que é esse ritual.

Ele passou as mãos no cabelo nervosamente e soprou o ar.

-        Passamos da meia noite, o que significa que hoje é dia de Finados. E agora, elas podem fazer o ritual onde apelam para seus antepassados que já foram enterrados. As integrantes do Coven, estão abrindo os túmulo por túmulo, em busca de restos mortais, que possam ser usados como oferenda. Quanto mais elas conseguirem, maior o poder do círculo na hora do rito da perda.

Mortos, desenterrando mortos no dia dos Finados. A ideia me deixou enojada. Só de imaginar que era isso o que elas faziam, logo ali, atrás daquela pedra, fiquei arrepiada. Se não fosse por minha mãe, eu teria corrido para o mais distante possível.

Logo eu, que nunca tive medo de nada.

Estou cada vez mais apavorada.

Depois da explicação tenebrosa de Lucian, ninguém falou mais nada. Nós sabíamos que chegava a hora de enfrenta-las e nenhum de nós parecia pronto para isso. Eu, pelo menos, definitivamente não estava.

-        Acho que já posso ir, irmãozinho. – Dukian ficou de pé e me ofereceu a mão. – Eu vou na frente porque sou mais rápido. Vou tentar descobrir onde está a mãe dela enquanto vocês esperam aqui.

Dukian passou o dorso da mão por meu rosto e quase derreti com a ternura em seus olhos:

-        Fique bem, Genuína. – Ele piscou e sumiu.

Lucian bufou do chão. Notei que ele sempre ficava incomodado quando Dukian usava seu poder de fogo. Fiz a pergunta martelando minha cabeça desde o momento que pousei os olhos naquelas íris de fogo vermelho dele.

-        Você tem poderes, Lucian? Quer dizer, você faz isso que o Dukian faz também?

-        Nenhum além da velocidade. – A resposta foi tão seca que eu não pude dizer nada. – Minha mãe me amaldiçoou da pior forma possível. Além de me condenar a esse estado, eu fiquei com a pior parte. A que você já conhece. De uma vez ao ano, ser o receptáculo perfeito para o Fantasma Profano. O poder do fogo, ficou para Dukian.

-        Eu não acredito que com esses olhos você não faça nada. Acho que você só não descobriu ainda. – Lucian me olhou com um sorriso cansado e voltou a encarar o horizonte. – E  a qual estado ela condenou você? Como assim?

-        Agora não Hannah. Não é o melhor momento pra isso.

-        Eu estou cansada disso que você faz, sabia? Você parece saber mais sobre mim do que eu mesma sabia até essas horas macabras atrás. Você vive me pedindo pra confiar em você, mas parece incapaz de fazer o mesmo por mim.

-        Não é isso, banana. É complicado, não sei como...

-        Fujam! É uma armadilha! – Ouvi Dukian gritar e o procurei pelos lados.

Lucian levantou e me cobriu com o corpo de forma protetora. Uma labareda de fogo surgiu a nossa frente. Esperei ver o rosto de Dukian, mas ele apareceu desfocado no meio das chamas. Uma sombra densa o cobria e parecia arrastá-lo para longe. Onde quer que ele estivesse preso, havia alguém o impedindo de chegar até nós. Ouvi passos abafados na grama, e em seguida risadas de desdém pareceram rasgar meu tímpano:

-        Pegamos você garotinha. E seus olhos serão nossos. Acássia, os prefere enquanto estão frescos!

Dez mantos negros arrastaram Lucian para longe de mim.

-        Hannah, use seu poder de Genuína!

Tentei enxergar o rosto dele no meio daquele monte de vultos mas não consegui. Os mantos negros se moveram para dentro da floresta de um jeito assustador. Flutuavam centímetros acima do chão e tremeluziam como uma imagem de televisão falhando.

Não consegui contar quantos pares de mão me puxaram para trás. Olhei meu braço e vi três ou quatro delas, enrugadas, com as unhas compridas espetando minha pele.

Debati as pernas e os braços. Não adiantou nada. Quanto mais eu tentava me mover, mais suas garras me arranhavam.

Entrei em pânico. O ar parecia não encontrar o caminho até meu pulmão. Os mantos negros se embrenhavam na floresta. Tudo o que eu via era um caleidoscópio de árvores acima de mim. E eu ia ficar perdida, para sempre. Ninguém me encontraria ali. Eu não salvaria minha mãe. A ardência na garganta e nos olhos foi insuportável. Chorei de soluçar ao lembrar da última vez que nos vimos. Na manhã do Halloween. O dia maldito. Minha mãe era sempre tão animada, tão companheira. Ela nunca negava meus pedidos de assistir filme de terror comigo enquanto comíamos brownie no sofá.

Pare Hannah. Não pensa na sua mãe no passado.

Tentei encontrar algum resquício de esperança no meu corpo mas não encontrei. Eu, Dukian e Lucian estávamos condenados e nenhum de nós poderia ajudá-la. E não era essa a parte final do ritual? A perda? Nós havíamos perdido.

Desculpa mãe. Espero que você esteja bem agora.

Fechei os olhos e tentei respirar. Lutei para manter algum controle enquanto minha sentença se aproximava. O desânimo e a sensação de derrota dominaram meu corpo.

Não havia como Dukian ou Lucian descobrirem para onde elas estavam me arrastando.

Agora, eu pertencia ao Coven.

E o que será que elas fariam a eles dois? Eles haviam traído o Coven e a própria mãe para me ajudar. Se o Coven abria túmulos, remexia restos mortais e queria arrancar os meus olhos, que tipo de tortura estariam disposto a aplicar nos dois?

Meu estômago revirou de ansiedade. Me esforcei muito para não imaginar o tipo de crueldade que elas seriam capazes.

Os mantos pararam de andar e me jogaram na grama. Olhei em volta do que parecia um acampamento. Barracas se espalhavam formando um círculo. No meio delas, havia uma enorme fogueira que estalava faíscas para o ar. Atrás da fogueira, um trono. E algo muito assustador, sentado sobre ele.

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Oláá, não esqueçam da estrelinha e do comentário! =)

Gente, tenho novidades!

Por um lado sei que vocês vão gostar, Olhar de Fogo ficou maior do que eu havia planejado e eu resolvi reescrever o final. Então, não vai acabar amanhã. rs

Mas como ainda estou reescrevendo, o final só será postado semana que vem. Terça e Quinta, talvez fique até maior! Eu aviso vocês aqui!

Beijossssss

E FIQUEM ATENTOS. CHEGOU A HORA DA PERDA.

Olhar de FogoWhere stories live. Discover now