01/11/2014 - 23:57h

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Um morto? Um vivo?

Estava completamente escuro na caverna. O olhar de fogo de Lucian e Dukian seria perfeito para me guiar naquele momento. Fiquei me perguntando se eles teriam me seguido. Eu gostaria de ter os dois ao meu lado ali. Nunca imaginei que pudesse sentir tanto medo.

Meu corpo tremia com o frio. Eu ouvia gotas pingando no chão úmido e tentava me acostumar com o fedor de algo em estado de decomposição. Mas o pior de tudo era o silêncio. Somente o gotejar e meus passos fracos. Eu não escutava mais os gritos de minha mãe. E não sabia se deveria ficar feliz, ou temerosa por isso.

Caminhei tateando com as mãos pelas paredes ásperas e escorregadias.

A cada movimento eu esperava me deparar com algo assustador, ou algum animal rastejante. E eu podia senti-las à espreita. Como se as integrantes do Coven me fitassem do escuro. Na espera do instante certo de me atacar. De me pegar de surpresa.

Comecei a pensar na burrice de ter corrido até a caverna sozinha. Caí direto na armadilha. E agora, além de tudo, estava completamente cega naquele breu. Talvez, se eu tentasse, eu nem conseguisse voltar.

Andei, andei e andei por muito tempo. A sede rasgava a garganta. A fome machucava o estômago e o medo acelerava a minha respiração.

Meus pés ficavam cada vez mais grudentos. O chão pegajoso da caverna parecia se colar a minha sola.

Que burrice ter tirado o all star!

Por mais que meus olhos estivessem acostumados a escuridão, tudo o que eu tinha era um vislumbre de um túnel escuro à frente. Nada além disso.

Parei um pouco para retomar o fôlego e colei as costas na parede em curva da caverna. Eu queria respirar com força, mas o fazia minimamente. O cheiro da podridão fazia minha boca salivar com o vômito.

Naquele momento, pensei que por um lado, seria melhor não conseguir enxergar. Talvez o que estivesse ali naquela caverna, nunca mais me deixasse dormir em paz.

Puxei o ar com a boca para não respirar o aroma fétido e mordi a língua com o força pelo susto.

O som de passos rápidos se arrastando, fez minha pergunta sair trêmula e fraca:

-        Lucian, Dukian?

Reuni coragem e olhei para trás. Uma luz alaranjada, meio avermelhada, se destacava naquele breu.

Surpirei aliviada. Só podiam ser eles.

Fechei os olhos e agradeci em silêncio. Com a ajuda deles, finalmente eu encontraria minha mãe.

Senti um toque gelado no pulso, e dei um pulo. Quando abri os olhos, gritei. O cheiro daquele homem segurando uma tocha era horrível demais. Revirava as minhas entranhas. E o pior, foi ver o que vi.

Seria melhor ter continuado cega.

O homem me encarava com um sorriso enorme na boca ferida. Ele estava coberto de escaras e usava a mão pequena e ossuda para afastar as moscas que voavam em círculo acima de sua cabeça.

Contive a ânsia de vômito ao ver o buraco na cabeça dele.

-        O que é, garota nojenta? Acha que está melhor do que eu?

-        Me desculpe, eu estou perdida. Só quero sair daqui.

Ele enrolou o bigode fino e sujo nos dedos e coçou o queixo.

-        Estou com sede. Me dê um pouco de sangue e te mostro a saída.

Arregalei os olhos e andei para trás feito um caranguejo. Pensei em gritar por ajuda mas sabia que seria inútil. Eu só queria a tocha que ele segurava.

Olhar de FogoHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin