02/11/2014 - 00:17h

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Um olho fechado, um olho bem aberto...

A visão sobre o trono de veludo vermelho, ficou ainda pior quando ele se levantou. O homem, se é que se podia chamar aquilo de homem, ultrapassava os dois metros de altura. Dos buracos onde deveriam estar os olhos, uma fumaça negra escapava. Ele girou o pescoço para a direita e para a esquerda.

E de repente,  apontou para mim com seu longo braço de pele macilenta. A cor cinza e sem vida de seu corpo coberto de veias estufadas, fez com que eu me esquivasse para trás na grama. Os mantos negros que me vigiavam abriram espaço ao meu lado, como se me oferecessem ao homem. Meu peito acelerou brutalmente.

O calor da fogueira se espalhava pelo espaço e se grudava a mim de um jeito pegajoso.

Ao meu redor não havia nada além daquelas barracas formando uma espécie de círculo. Eu não tinha nenhuma saída, nenhum lugar para correr. Senti as lágrimas arderem nos olhos.

Arfei agoniada ao ver o homem dar um passo à frente. Seu dedo continuava apontado para mim. Ele deu outro passo, ainda que capenga e chegava cada vez mais perto.

Arfei ruidosamente. Os mantos negros riram em um coro de gargalhadas agudas ao meu lado.

Será que era para isso que elas me queriam? Para entregar meus olhos à ele?

O pensamento me fez gritar. Mas antes que meu berro atingisse proporções maiores, uma mão cobriu minha boca por trás.

Outras mãos surgiram por todos os lados e me apertaram enquanto eu me debatia. E de súbito eu o ouvi, a voz do homem assustador falou como se fossem meus próprios pensamentos:

“Pegarei primeiro seus olhos e depois a chave Hannah. Eu avisei que nos veríamos novamente.”

Engasguei com a própria saliva.

É ele. O Fantasma Profano.  

Eu precisava correr para bem longe dali. Mordi a mão da mulher que cobria minha boca e senti um aperto forte na garganta. Engasguei. Outros dois mantos se aproximaram e cravaram as unhas em meus braços.

Fui arrastada pelo chão até um par de correntes preso a uma estaca. Notei que haviam outras três estacas iguais. Uma de cada lado da fogueira.

E do lado oposto ao meu, eu o vi acorrentado. Não acreditei.

Ouvi o grito dele quando um dos mantos negros o atingiu com um objeto azul. Ele soltou um gemido aterrorizante. O tom de desespero em sua voz me dilacerou. Reconheci o som de um chicote rompendo o ar, e ele foi atingido outra vez.

-        Dukian – gemi.

Três mantos negros o açoitavam com o que parecia uma espécie de chicote de fogo, o estranho era a cor da chama. Azul. E ele gritava a cada golpe recebido nas costas.

Fechei os olhos para não assistir de camarote a cena de sua tortura. Aquilo doeu demais em mim. Elas ergueram meus braços para o alto, em seguida ouvi o clique do fecho das correntes em meus pulsos.

-        Eu nunca vou dizer! Nunca! – Dukian gritou.

-        Onde ela está enterrada? Diga! Sabemos que foi você! Diga onde está o corpo dela.

-        Não!

-        Ora, mas veja querido filho da princesa Acássia. – Um dos mantos se virou para mim. - Nossa convidada chegou! Talvez seja a hora de fazer o mesmo com ela.

-        Deixem a Hannah em paz!

Dukian foi silenciado com outra chicotada. E sua voz deu lugar a algo mais alto. O meu grito, unido ao dele:

-        Parem! Vocês já conseguiram o que queriam. Eu estou aqui!

-        Fica quieta Hannah. – Dukian choramingou. Seu olhar de fogo amarelado me fitou de um jeito incrivelmente triste, fraco.

Vê-lo naquele estado feriu mais do que qualquer golpe de chicote. Os mantos flutuaram pelo chão até mim. Corri os olhos pelo acampamento em busca de Lucian ou minha mãe, ainda havia um fio de esperança em algum lugar lá no fundo. Acreditei que talvez os dois pudessem estar vivos, já que Dukian continuava respirando.

Mas não havia nada além de mim, Dukian e os mantos negros. Notei que o próprio trono de veludo vermelho estava vazio. Estremeci ao imaginar onde estaria o corpo que o Fantasma Profano ocupava.

Encarei a meia dúzia de mantos parada a minha frente, e três deles ergueram o chicote no ar. Sacudi os pulsos nas correntes. Eu não estava pronta para aquilo. Definitivamente não suportaria a dor. A qualquer segundo eu enlouqueceria. Eu tinha certeza. Então, não entendi o que aconteceu.

Fui atingida por três lados simultaneamente. O chicote com a chama azul acariciou minha pele, e aguardei pela ardência. Nada aconteceu. Os mantos pararam com as mãos erguidas antes de me acertar novamente.

A dor não veio.

Olhei incrédula para meus dois braços. Três marcas de tribal negro apareceram onde elas haviam me acertado. Fitei Dukian que se debatia com as correntes. Acompanhei o desenho do que eu pensei que fossem tatuagens por todo o seu corpo definido e as lágrimas arderam. Os tribais negros, eram cicatrizes, como as que eu tinha agora.

Quantas vezes será que ele e o irmão, foram torturados dessa forma?

-        Se ela não sente o chicote, talvez sinta o fogo. Levem-na para a fogueira.

A ordem vinda de um dos mantos negros me despertou. Agitei os braços freneticamente nas correntes. Entrei em pânico. Imaginei as chamas fritando cada centímetro da minha pele. Imaginei como seria o calor infernal. A agonia. Gritei enquanto me sacudia. Eu não podia permitir que fizessem aquilo comigo. Não podia ficar parada aguardando a tortura. Eu nunca tive medo, nunca temi o desconhecido. Recordei das palavras de minha mãe quando eu era pequena:

“O medo, nos faz ver coisas que não existem.”

Eu não tenho medo. Eu não tenho medo.

Dukian urrava como um touro enfurecido e puxava suas correntes. Fiquei surpresa pela estaca não ter se partido ao meio, devido a força descomunal que ele parecia fazer.

Desci as pálpebras e apesar do suor escorrendo por meu corpo, do coração acelerado, da falta de ar provocada pelo medo, lutei para me acalmar. Tentei reproduzir em pensamentos a voz doce de Lucian me ensinando a usar meu poder de telecinesia. Se eu conseguisse, soltaria as minhas correntes e as de Dukian, e juntos fugiríamos dali para salvar Lucian e minha mãe, onde quer que eles estivessem.

Visualizei o ferro que apertava meus pulsos, ouvi o som das correntes balançando, inalei o aroma de metal enferrujado, e senti outra vez a vibração prazerosa. Uma espécie de carícia confortante se espalhou por meus membros. Sorri e murmurei:

-        Abram.

Os cliques que ouvi em seguida confirmaram. Eu e Dukian estávamos soltos. Desci os braços pronta para correr, e tudo aconteceu rápido demais. Quatro mantos me levantaram do chão, e flutuaram comigo até a fogueira. Pude sentir o calor terrivelmente próximo.

Elas me ergueram, e eu soube que seria arremessada no fogo.

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Até quinta!

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E SE PREPAREM, O FOGO PODE QUEIMAR...

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