34- O Brinquedo

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(5365 palavras)

Uma criança corria sozinha pelos becos de uma velha cidade, seu nome era Vagner, em torno de seus 8 anos de idade, vestia fiapos e era muito sujo como se tivesse acabado de sair de uma chaminé. O garoto era bem magro, não tendo uma aparência muito saudável, mas o mais impressionante era que mesmo sendo alguém tão deplorável, o menino ainda sorria e seus olhos ainda brilhavam, como se visse um tesouro que ninguém mais via, como se seu estado físico não o representasse em nada, e toda aquela energia e positividade eram a fonte e provinham de uma coisa: Bondade.

Vagner era composto por um infinito ciclo de bondade, ser bom o fazia se sentir bem, e enquanto ele se sentisse bem permaneceria bom. A criança tinha pais antes, mas fugiu deles, um bebia e lhe batia enquanto a outra o ignorava, e vendo que nada poderia conseguir dentro daquela casa, ele começou a se aventurar mundo afora.

Nos primeiros dias se sentia sozinho se perguntando se deveria ir para casa, mas daí se lembrava que apenas incomodaria ainda mais seus pais e decidiu continuar seu caminho, certo dia o menino então avistou um boneco em meio ao lixo, nunca havia visto um brinquedo como aquele antes, estava tão sujo, tão sozinho, Vagner imediatamente começou a associar aquilo que via com aquilo que vivia, o garoto então bateu na porta da casa ao qual o lixo pertencia.

- Mas que merda é agora? EI, VAI LÁ VER QUEM É.- Alguns segundos após o berro, uma jovem menina abriu, parecia ter a mesma idade que Vagner, e por mais que tivesse uma aparência melhor que a dele, seu semblante era pior.

- Quem é você? O que quer?- Perguntou a garota em um tom choroso. Vagner imediatamente se conectou com ela e entendeu o que acontecia, ele sorriu surpreendendo ela, não iria tomar muito do tempo, sabia que era perigoso para ela.

- Com licença, eu posso pegar aquele boneco ali para mim?- Perguntou apontando para o lixo, a menina estranhada apenas lhe encarou perplexa.

- O Chin? Claro que sim, eu não posso ficar com ele mesmo... eu o peguei algumas semanas atrás... estava flutuando em um rio aqui perto, mas meu pai diz que eu não posso ter tempo para brincar, eu tenho que trabalhar para ajudar ele a ter a bebida que precisa.

- QUE LEGAL!- Em sua pura inocência o menino berrou a primeira coisa que pensou, assustando ainda mais a menina, pequeno Vagner você não sabe o contexto, você não sabe como é cada vida, por favor, se mantenha de boca fechada.- Digo meu pai só ligava para mim quando estava com raiva, nunca pediu minha ajuda, então para seu pai deixar para você a função de trabalhar, deve querer dizer que ele te prioriza demais.

- Ele... me prioriza?- Não, não, não, Vagner fique quieto, não jogue adubo na terra errada. A menina ficou vermelha de alegria e seus olhos ficaram molhados de gratidão.- Você tem razão, eu nunca parei para ver assim, meu pai me acha muito importante para ele, ele deve me amar muito para me dar essa obrigação toda.

- Sim, então trabalhe duro por ele okay?

- Okay. Eu vou.

Não fale do que não sabe, não coloque sua visão sobre a vida dos outros. Mas... quem estou querendo enganar? Ele é uma criança, não é culpa dele, ele não sabe de nada mesmo que acredite entender... então ele pegou o boneco e prosseguiu seu dia a dia

O garoto vagava cantarolando pela escuridão da madrugada com Chin em mãos, baixo o bastante para não incomodar aqueles que dormiam, mas alto o bastante para o ajudar a relaxar no som de sua voz, havia um vento frio e vazio que tentava matar o menino, querendo dizer a ele que não há sentido a vida que vive, mas a resposta do menino para o vento era sempre a mesma: Se você decidir atacar apenas a mim e não no Chin ou em mais ninguém, então eu não me importo. Além do mais, meu amigo iria ficar sozinho, eu não posso deixar ele sozinho.

As Vinte VirtudesWhere stories live. Discover now