Joana- Reviravolta

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Meu padrasto me deu R$50,00 para comprar meu matéria da escola, comprei um caderno, uma caneta e um estilete, coloquei tudo na minha mochila surrada e remendada por mim, eu só tinha duas mudas de roupas descentes, o resto eram roupas desbotadas e rasgadas, as usaria até elas desmancharem, eu junto as moedas das roupas dele quando vou lavar roupas, e as escondo dentro de um rasgo no colchão, uma vez comprei um shampoo usando as moedas e ele me bateu tanto que deslocou o meu braço, tive que ir ao hospital sozinha e dizer que cai, eles me colocaram um geso e quando senti que meu braço estava melhor eu mesma tirei, fiquei com vergonha de voltar lá, usei o estilete para cortar um pouco meu cabelo, fiz um franjão, mas deixei o comprido, eu queria que meu cabelo escondesse meu rosto, não gosto que fiquem me olhando, não tenho amigos e na verdade nem quero ter, seria muito vergonhoso alguém saber pelo que eu passo, e também nem sei quem são meus colegas porque não olho pra ninguém além de meu caderno e quadro. Coloquei minha mochila nas costas, que estão doloridas da travessa da cama, meu colchão é tão velho que sinto como se dormisse diretamente nas travessas da cama.

-JOANA!

-Eu não fiz nada de errado e seu café está na mesa, vou indo porque tenho aula!

-Pode ir então!

Sai dali sem comer nada, pois só tinha um pão e se eu comesse ele iria ficar sem e eu ouviria um sermão, corri para a escola, quando entrei no portão bati em alguém que mais parecia um muro. Cai de bunda no chão, meus ossos chiaram, minha vontade era de cobrir os olhos e chorar ali sem levantar.

-Desculpe, não à vi, você está bem?-perguntou a voz de um rapaz.

-Estou!-Menti.

Vi sua mão estendida para mim, com uma luva de couro preta, sem pensar peguei a mão, ele me puxou e fiquei cara a cara com o rapaz mais lindo que já vi em minha vida, cabelo castanho claro, quase aloirado, olhos verdes, lábios bem desenhados, semi abertos, meu coração acelerou e eu larguei a mão dele e baixei meus olhos antes que ele me pegasse o olhando.

-Eu sou novo aqui, sabe me dizer onde fica a secretária ?

-Fica pra lá, segunda porta a direita.-Falei quase sem fôlego e olhando para seus cuturnos.

-Sou Adam e você é ?

-Joana!-Sussurrei meu nome com meu rosto pegando fogo.

-Foi um prazer te conhecer, te vejo por ai?!

Não respondi, apenas me virei e fui pra minha sala, alguns minutos depois ele entrou na minha sala e sentou uma classe atrás na fileira do meu lado, fiquei nervosa, pois parecia que seus olhos estavam em mim, mesmo paranóica com isso, não olhei pra ele em momento algum, bateu para o recreio e eu fui pros fundos da escola onde nunca tinha ninguém, fiquei ali abraçando meus joelhos pra comprimir meu estômago, assim ele não dói tanto, fiquei até terminar o recreio. Me sentei sem olhar pra ninguém, louca para que a aula terminasse, bateu e eu peguei meu caderno e sai antes mesmo de guarda-lo na mochila.

Eu me proíbo gostar de alguém, eu não sou digna de amor e nem de nada parecido, eu sou um lixo humano, meu cabelo é encebado, não que seja minha culpa eu o lavo com sabonete para não usar o shampoo dele, se não eu apanho.

Estou com a sensação de estar sendo seguida, mas não ousei olhar pra trás. Cheguei em casa e corri trancando me no quarto peguei meu estilete, me sentei na cama e fiz vários cortes superficiais. Alívio. Suspirei. Aquilo me deixava bem, aliviava a dor interna, eu não iria me suicidar apenas queria sentir alguma coisa diferente além do medo, por isso o fazia. Me joguei na cama com fome e falei baixinho.

-Daria tudo que eu não tenho por um shampoo com cheirinho de morango igual aquele que você me trazia mãe.

Eu me lembro dos shampoos com cheiro de frutas que minha mãe me comprava, as roupas que ela me trazia, minha mãe me dava as coisas, depois que ela se foi eu nunca mais tive nada.

A fome venceu meu medo, esperei até a hora que ele estava roncando no sofá e fui até a cozinha sem fazer barulho, havia um resto de arroz queimado, duas salsichas em lata, e um pouco de molho sem nenhum pedacinho de frango apenas os ossos sem nada em volta. Legal. Não reclama Joana pelo menos deixou alguma coisa. Comi imaginando que fosse um manjar dos Deuses.

Escovei os dentes com um pingo da pasta dele, fui pro meu quarto, tranquei a porta e deitei olhando o teto esperando a graça do sono me levar. Acordei com uma caixinha de presente nos pés da minha cama, meu coração a mil, medo, levantei correndo e mexi na maçaneta, ainda estava trancada, voltei correndo e abri a caixa, dentro tinha um shampoo, um condicionador e uma escova de cabelo.

De onde viera aquilo? Quem deixou? Como? Por quê? Dentro estava escrito '' esconda'' Será que tem alguém me espionando? Olhei pela janela do meu quarto e não vi ninguém, mas como, teria que estar dentro do quarto para ter me ouvido, bom não tenho como saber disso, mas agradeço quem me deu, esperei meu padrasto sair para ir tomar um banho, lavei bem o meu cabelo, o cheiro do shampoo era bom e aconchegante, a sensação da espuma nos meus dedos então...

De onde viera aquilo? Quem deixou? Como? Por quê? Dentro estava escrito '' esconda'' Será que tem alguém me espionando? Olhei pela janela do meu quarto e não vi ninguém, mas como, teria que estar dentro do quarto para ter me ouvido, bom não tenho ...

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Passei creme e penteei, o sentimento de conforto me fez terminar chorando abraçada aos meus joelhos sentada no chão frio.

Quando não havia mais lágrimas, quando senti meus dedos murchos, levantei, sequei, vesti e coloquei meu presente na mochila, pois se ele visse eu apanharia de novo, me vesti e fui pra escola, atrasada, mas fui, minhas notas sempre foram boas, eu p...

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Quando não havia mais lágrimas, quando senti meus dedos murchos, levantei, sequei, vesti e coloquei meu presente na mochila, pois se ele visse eu apanharia de novo, me vesti e fui pra escola, atrasada, mas fui, minhas notas sempre foram boas, eu precisava me formar, preciso sair daquela casa.

O tempo passou e eu seguia recebendo meu presente todo o mês, e sempre o escondendo na mochila. Sabe toda a vez que eu ouvia a voz de Adam meu coração disparava e eu brigava comigo mesma, não posso sentir isso, já estamos quase terminando o ano letivo eu já estava passada de ano, mas seguia indo a escola para completar minha presença.

meu anjo mauOnde as histórias ganham vida. Descobre agora