Capítulo 42

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     - Não - minha voz estremece. - Você é louca.

     A rainha de gelo arregala os olhos e eu encolho meus ombros instintivamente. Apesar de achá-la realmente louca, creio que devo ser um pouco mais cuidadosa com as palavras, apesar de não ter a intenção de ofendê-la. Ouvi histórias arrepiantes sobre o temperamento das bruxas e não estou em posição de provocar sua ira.

     Lembro-me muito bem da sugestão que general Soren me deu quando eu buscava uma maneira de conseguir a ajuda da rainha Vytoria para salvar Liriel. Ele assegurou que ela desejava um casamento vantajoso e estava certo. Não posso dize que não considerei a ideia - parte de mim a achou até mesmo razoável -, mas ouvi-la agora da própria boca de Vytoria torna tudo dez vezes mais assustador e mais real. Estamos falando de meu filho, um filho que nem cheguei a conceber, mas a quem já amo de todo o meu coração.

     Porque eu o vi. Eu vi Erin tão claramente como uma lembrança e, depois de ouvir tudo o que ouvi sobre minha mãe, sei que tive um vislumbre do futuro. Também vi rainha Vytoria e o lugar onde eles estavam ser atacado. Esse é o futuro que os aguarda se eu fizer essa aliança?

     - Reconsidere - refuta Vytoria, cruzando as mãos graciosamente diante do corpo. Parece calma como uma brisa de outono, mas sei que ela é puro inverno.

     Trinco meus dentes.

     - Não posso fazer isso - sacudo a cabeça. - Qualquer criança que eu conceber pertence a Coronte, não a Omem. Além disso... - olho para ela da cabeça aos pés, sem conseguir imaginar qual a sua verdadeira idade.

     Meu olhar traz uma expressão mais cálida a seu rosto frio.

     - Vinte anos - diz, piscando os cílios longos e brancos. - Dê à luz um herdeiro e traga-o a mim quando chegar aos vinte anos.

     Sacudo a cabeça.

     - Isso é algo que não posso fazer.

     - Você deve - ela dá um passo para mais perto e noto que o chão em que pisa congela. - Olhe para mim, Anna de Liriel.

     Encaro-a.

     - Seu maior desejo é salvar seu lar - seus olhos faíscam -, sinto isso emanando de você. E quando digo lar, me refiro a Coronte, a Liriel e até mesmo a Avival, onde você nunca esteve. Seu coração é bom e você é justa, o que me impediu de tê-la forçado a aceitar minha proposta de aliança. No entanto, Majestade - suas sobrancelhas brancas se juntam, contrastando com sua pele negra -, eu devo me casar com um herdeiro de seu sangue. Ser filho de um guerreiro como rei Kilian o tornará ainda mais valoroso e depois de milênios a maldição finalmente será quebrada.

     Mordo o lábio. É a segunda vez que ouço sobre essa maldição, mas não compreendo nada.

     - Não... - sibilo.

     - Será que devo...

     - Eu preciso pensar - dou-lhe as costas, cobrindo o rosto com uma das mãos.

     A cabana fica em silêncio e tudo o que escuto é a respiração ainda acelerada de Klaus.

     - Enquanto não tomar sua decisão - ouço a rainha dizer e sinto algo gelado tocar meu ombro -, eu não posso deixá-la ir.

     Antes que eu possa reagir, Klaus está com os braços ao meu redor e cobre minha boca com um lenço prateado. Olho profundamente em seus olhos e, por um segundo, penso no quanto são belos e perturbados. O lenço cheira a algo ácido que entorpece todo o meu corpo, mas que me deixa perfeitamente consciente - como aconteceu quando Klaus me tirou do esconderijo. Eu me assisto ser carregada por ele depois que a rainha diz palavras que não entendo e nós deixamos a cabana. Com olhares expressivos, tento suplicar a Klaus que me deixe partir, o que, obviamente, é inútil.

Amor e Liberdade #1Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora