Capítulo 25

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     Assim que fecho a porta de meu aposento atrás de mim, Ghia surge do meio do cômodo e me pergunta sobre o passeio com o Rei. Eu minto para ela e digo que me senti mal e decidi retornar para descansar. Não quero que ninguém saiba o que houve lá, não quero que ninguém descubra que acabo de ser rejeitada de maneira tão humilhante e não quero que ninguém saiba que estou me sentindo frustrada.

     Eu não esperava que o Rei fosse tão direto e verdadeiro comigo e, apesar de apreciar sua sinceridade, meu orgulho dói. Eu me sinto frustrada por não ser boa o suficiente para que ele sequer cogite se apaixonar por mim e descubro que quero que ele se apaixone por mim - mesmo que eu não vá corresponder. Isso é tão egoísta da minha parte que quase me sufoco em meus próprios pensamentos.

     Quero que ele me ame, mesmo que eu não possa amá-lo.

     Argh.

     Que podre.

     - Parece realmente mal, Alteza - observa Ghia, aproximando o rosto do meu. - Está tão pálida...

     Eu suspiro e caminho até minha cama. Será que posso esquecer aquela coisa de chá com a Rainha Irene e me enfiar debaixo das cobertas durante o dia todo? Princesa Sonya faria isso em meu lugar? Como ela agiria se seu futuro marido lhe dissesse que nunca irá amá-la pois já entregou o coração a outra?

     Permaneço em meu aposento, remoendo as palavras do rei Kilian, até a hora do almoço. Ghia e as duas criadas me arrumam para o almoço e lorde Gaston vem me buscar. A astúcia presente no olhar dele ainda me deixa desconfortável a ponto de me fazer suspeitar que ele esteja tramando algo que tem alguma relação comigo. Será que ele vai receber uma bonificação por seus serviços como diplomata quando o rei e eu nos casarmos?

     - Permita-me dizer que está radiante hoje, Alteza - ele me oferece o braço, sorrindo. É mais alto que eu e tão magro que me pergunto se seu braço vai se quebrar caso eu o segure com muita força.

     - Obrigada, milorde - respondo, com mais rispidez do que gostaria.

     - Eu soube que Vossa Alteza não estava se sentindo bem agora mais cedo - ele olha para mim, conforme caminhamos pelo corredor luxuoso. - Gostaria de ver um médico?

     Puxa, as notícias correm rápido demais aqui.

     - Não... não é preciso - sorrio de um jeito forçado. - Já estou bem melhor.

     - Sabe, Vossa Alteza me lembra muito de Avival. Faz tempo que não deixo a corte, então sinto saudades de nossa terra natal...

     Decido que lorde Gaston é um chato. Ele não para de tagarelar coisas sem sentido sobre seus feitos na corte de Coronte e sobre como foi difícil convencer o jovem rei a me escolher como noiva. E ele me chama de Vossa Alteza o tempo todo. Tenho vontade de soltar seu braço e largá-lo falando sozinho para mostrar o quanto estou pouco me importando com a quantidade das malditas medalhas de honra que ele recebeu.

     Após o que parece uma eternidade, chegamos à sala do banquete de ontem, agora menos decorada e iluminada pela luz forte do sol de Coronte. Vejo o rei Kilian sentado à cabeceira da mesa comprida, conversando com a rainha Irene, que está sentada à sua direita. De frente para ela, à esquerda do rei, está um homem careca e bigodudo muito sorridente. Os três conversam tranquilamente, como amigos, mas assim que lorde Gaston anuncia minha chegada, o assunto cessa. O semblante do rei se fecha e a rainha e o homem careca colocam-se de pé para me reverenciar. Forço um sorriso e faço uma breve reverência.

     - Venha, Sonya - rainha Irene me estende uma das delicadas mãos. - Sente-se ao meu lado.

     Reparo certa mudança na expressão do rei quando ele ouve "meu" nome ser dito com tanta simplicidade por sua irmã. Ele então se levanta, caminha até mim e beija as costas de uma das minhas mãos. Encaro-o diretamente nos olhos safira e o rei me encara de volta. É como se o tempo parasse e nós dois conversássemos através dessa troca de olhares. Rei Kilian ainda me pede desculpas, mas eu fujo disso. Não serei condescendente agora, com meu orgulho ferido como está.

Amor e Liberdade #1Where stories live. Discover now